

Identificar as melhores oportunidades na bolsa de valores em um cenário de estresse de mercado consiste numa difícil tarefa. É quase uma “caça ao tesouro” diante do pessimismo para os ativos de renda variável em momentos de alta de juros. Por isso, o E-Investidor identificou, com base em um levantamento, quatro papeis com indicadores que podem se transformar em oportunidades de ganho.
Na última semana, o Banco Central (BC) brasileiro elevou a taxa Selic para 13,25% ao ano. O Federal Reserve (FED), autoridade monetária dos Estados Unidos, adotou a mesma política e decidiu elevar em 0,75 ponto percentual a taxa de juros do país. Tais movimentos nos juros inibem o apetite por ativos de risco entre os investidores no mercado.
No entanto, o levantamento realizado pela plataforma de investimentos Monett, que o E-Investidor exclusivamente teve acesso, conseguiu filtrar as ações do Ibovespa, principal índice da B3, com as melhores perspectivas de retorno para o investidor no atual cenário.
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O resultado dessa análise mostrou que a Metalúrgica Gerdau (GOAU4), 3R Petroleum (RRRP3), Bradespar (BRAP4) e Dexco (DXCO3) são os principais destaques.
Para chegar nestas ações a Monett utilizou os seguintes indicadores: preço sobre lucro (P/L), upside consensual (projeção de alta ou de queda para o preço das ações nos próximos 12 meses), retorno sobre patrimônio (ROE), valor de mercado sobre o faturamento anual extraído das vendas da companhia (EV/Vendas), endividamento e o retorno das ações no acumulado dos últimos 12 meses e deste ano.
“A utilização de indicadores relacionais, com base em informações relevantes do negócio das empresas, é fundamental para evitar tomadas de decisão precipitadas e permitem ao investidor comparar o nível de precificação de uma empresa em relação aos pares de um mesmo setor, por exemplo”, destaca Felipe Paletta, sócio e analista da Monett.
De acordo com ele, as companhias foram as que mais se destacaram por apresentar uma valorização de preço das suas ações acima da média do IBOV e um grau de endividamento controlado, além de negociarem com desconto em relação à média do índice nos múltiplos de Preço/Lucro e EV/Vendas.
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“Em momento turbulentos no cenário econômico global olhar somente para crescimento de lucro ou faturamento não ajuda, na maior parte dos casos, o investidor a identificar uma oportunidade, já que métricas contábeis são sempre voláteis”, acrescenta Paletta.
No caso do indicador P/L, a média do Ibovespa para esse múltiplo, no momento, é de 12,4 vezes. Já as companhias 3R Petroleum, Metalúrgica Gerdau e Dexco apresentaram múltiplos de 5,7x P/L, 2,4xP/L e 10,3xP/L, respectivamente.
Segundo o sócio da Monett, o indicador mensura quanto a empresa está valendo no mercado em relação a quanto de lucro ela gera ao longo de um ano. Isso quer dizer que quanto menor o valor melhor é a situação da empresa. “No caso de RRRP3, por exemplo, uma relação de 5,7x implica dizer que com 5,7 anos de lucro a empresa compensaria o valor de avaliação do mercado”, explica Paletta.
Já o múltiplo P/L da Bradespar (BRAP4) não foi informado na tabela devido a ausência de dados para o indicador. No entanto, o seu destaque está relacionado ao seu nível de endividamento. Enquanto a média do Ibovespa é de 66%, a companhia desfruta de um percentual de apenas 1%.
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Além disso, todas as quatro companhias possuem um upside consensual, ou seja, a projeção de crescimento em porcentual das ações para os próximos 12 meses, acima da média do IBOV.
Confira os principais indicadores das ações
Ações | P/L | Upside consensual | Endividamento | Retorno no acumulado do ano |
Retorno no acumulado dos últimos 12 meses
|
Bradespar (BRAP4) | Não informado | 85% | 1% | 1,2% | 27,1% |
Dexco (DXCO3) | 10,3 | 105% | 61% | -31,6% | -46,1% |
3R Petroleum (RRRP3) | 5,7 | 140% | 27% | 1,3% | -25,5% |
Metalúrgica Gerdau (GOAU4) | 2,4 | 81% | 40% | -15,1% | -11% |
Ibovespa (Média) | 12,2 | 65,2% | 63% | -% | -12% |
Fonte: Felipe Paletta, sócio e analista da Monett/Dados referentes até o pregão do dia 22/06/2022 |
Entretanto, apesar da importância dos indicadores, a decisão de compra das ações não deve ser pautada apenas por eles. Na avaliação de Ariane Benedito, economista da CM Capital, o investidor precisa ter um olhar mais criterioso sobre as variáveis que podem afetar o desempenho do setor, no qual a empresa está inserida.
“O investidor deve olhar quais são as variáveis macroeconômicas que podem deteriorar o setor, qual é a capacidade da companhia se sustentar em um cenário de crise do seu setor e a capacidade futura no longo prazo de geração e distribuição de lucro”, diz Benedito.
Cenários favoráveis
Além dos bons indicadores apontados no levantamento, o cenário macroeconômico para algumas dessas companhias é favorável para as ações. É o caso da holding Metalúrgica Gerdau (GOAU4), favorecida, principalmente, pelas boas perspectivas econômicas para a Gerdau (GGBR4), companhia que representa boa parte dos negócios da holding
De acordo com Renato Chanes, analista de investimentos da Ágora, a Gerdau é a maior produtora de aço longo do País e por isso deve se beneficiar com a alta demanda do produto puxada pela construção civil, que segue aquecida. A perspectiva é semelhante para a sua atuação no exterior, principalmente nos Estados Unidos.
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“A companhia está mais posicionada (no mercado norte-americano) nas obras de infraestrutura e o governo de Joe Biden está acelerando bastante nos investimentos. A empresa está bem posicionada para captar essa melhora no mercado norte-americano”, explica Chanes.
Há outro fator importante que deve alegrar qualquer investidor: a possibilidade de pagamento de dividendos. Como a empresa tem gerado bastante caixa e não há perspectivas de compra de novas companhias, Chanes avalia que os recursos devem ser destinados para o pagamento de acionistas.
“Essa é uma avaliação nossa (da Ágora), mas não é consensual do mercado”, destaca. “A companhia não está favorável para a compra de novas empresas somado ao fato que não pretende fazer expansão em nenhuma das suas fábricas. Então, a gente não vê outro motivo (além do pagamento de dividendos) para a distribuição desse caixa”, ressalta Chanes.
A Ágora Investimentos recomenda a compra das ações da holding Gerdau (GOAU4) e da Gerdau (GGBR4) com preços alvos de R$ 12 e R$ 40, respectivamente.
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Já a 3R Petroleum deve se beneficiar com o movimento de alta do preço do petróleo no mercado internacional. Segundo Mário Goulart, analista da O2 Research, a relação entre demanda e oferta deve seguir apertada nos próximos meses, pressionando para cima ainda mais os preços da commodity.
“A China voltando às suas atividades após o fim das restrições contra o covid-19 teremos uma situação complicada para o mercado de petróleo. A guerra entre Rússia e Ucrânia está longe de ser solucionada. E esses fatores devem deixar o preço do petróleo nas alturas por um tempo”, explica Goulart.
As reservas de petróleo mais a boa gestão da companhia, com a presença do ex-presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, no seu conselho, também tornam as ações da 3R mais atrativas. “A empresa trouxe para o seu conselho bons nomes com destaque Roberto Castelo Branco, ex-presidente da Petrobras, que saiu não por incompetência e sim porque não aceitou o jogo político (de quando presidia a estatal)”, acrescenta Goulart.
Além disso, as variáveis de receita da empresa também sinalizam ao investidor uma capacidade de crescimento, segundo Benedito. “O EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa está satisfatório e ainda sim o cenário mais pessimista aponta um crescimento substancial”, afirma a economista da CM Capital.
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