- Nas ações da Petrobras (PETR4), o patrimônio necessário para garantir uma renda mensal de R$ 3 mil com dividendos seria de R$ 104.373
- Para analista fundamentalista da Quantzed, a Petrobras ainda deve continuar pagando dividendos elevados no longo prazo
- Para algumas empresas de commodities o ciclo não deve ser muito favorável em 2024, entre estes a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) e a Gerdau (GGBR4)
Com a Selic agora no patamar de 11,75%, apenas oito ações conseguem entregar dividendos acima da taxa básica de juros aos seus investidores. Companhias como Metal Leve (LEVE3), Petrobras (PETR4), Grendene (GRND3), CSN (CSNA3) e BrasilAgro (AGRO3) integram a lista de pagadoras. No entanto, especialistas garantem que nem todos os proventos foram recorrentes e as distribuições podem não se repetir nos próximos meses.
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Um exemplo disso é a Metal Leve (LEVE3), que nos últimos 12 meses alcançou um dividend yield de 36,14% graças a uma oferta de ações (follow on) de R$ 402,5 milhões que impulsionou a distribuição de dividendos extraordinários.
Levantamento do consultor independente Einar Rivero apresenta as companhias que podem pagar dividendos acima da Selic nos próximos 12 meses, desde que mantenham um lucro igual ou maior ao do último ano e a mesma política de distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) dos últimos 12 meses. Foram consideradas ações que integram as carteiras dos índices Ibovespa, Small Caps, Índice de Dividendos e IBRX (Índice Brasil). Veja a seguir:
Como garantir renda de R$ 3 mil e R$ 5 mil por mês com estas ações?
Mas seria possível garantir um salário mensal de R$ 3.000 e R$ 5.000 com dividendos das ações que entregam um retorno acima da Selic? Qual seria o patrimônio necessário que deveria ser investido nelas para alcançar este objetivo?
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Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Harami Research, realizou um levantamento exclusivo para o E-Investidor utilizando o dividend yield (retorno em dividendos) projetado para 2024. Para chegar ao resultado, o analista calculou qual seria o lucro projetado pra o ano que vem, utilizando como base o lucro atual mais o crescimento da receita das companhias nos últimos cinco anos.
Esse lucro projetado para o ano de 2024, por sua vez, foi dividido pelo preço atual da ação. Desta forma, o analista conseguiu chegar ao poder de lucro da ação em 2024, ou seja, o poder da empresa pagar dividendos se optasse por distribuir 100% do seu lucro. Ele também considerou qual foi o payout (parcela do lucro destinada a proventos) médio de cada companhia nos últimos cinco anos para chegar finalmente ao dividend yield projetado para 2024. Companhias com capacidade de entregar um dividend yield acima de 11,75% foram desconsideradas da análise. O levantamento excluiu CSN (CSNA3) da simulação porque a companhia reporta prejuízo atualmente e o seu poder de lucro está negativo.
Além do patrimônio necessário para garantir uma renda de R$ 3.000 e R$ 5.000 em dividendos com estas ações, Sobreira calculou também o tempo que o investidor precisaria caso optasse por aportar R$ 1.000 todo mês nestas ações e reinvestir os proventos recebidos. Confira:
Nas ações da Petrobras (PETR4), o patrimônio necessário para garantir uma renda mensal de R$ 3 mil com dividendos seria de R$ 104.373 e para uma renda de R$ 5 mil por mês seria necessário investir R$ 173.955.
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Se o investidor não tivesse este patrimônio, poderia conquistar a renda de R$ 3.000 mil em dividendos em 4 anos e 4 meses, desde que aporte todo mês R$ 1.000 nas ações PETR4 e reinvista todos os proventos recebidos do papel. Caso prefira ter uma renda de R$ 5.000 com proventos mensais, precisaria investir R$ 1.000 todo mês e reinvestir os dividendos durante 5 anos e 8 meses.
Na BrasilAgro (AGRO3), empresa que trabalha com o desenvolvimento e venda de fazendas, o investidor precisaria de um patrimônio de R$ 329.441 investidos para receber um salário mensal de R$ 3.000 com dividendos – em torno de R$ 36 mil no ano – já para ter uma renda de R$ 5.000 mensal seria necessário um patrimônio de R$ 549.069.
Investindo R$ 1.000 todo mês e reinvestindo os dividendos o investidor alcançaria o salário de R$ 3.000 mil em 13 anos, já o de R$ 5.000 mil sob a mesma estratégia levaria 16 anos e 11 meses.
O que esperar das ações?
Embora a Metal Leve (LEVE3) tenha um dos dividend yields (retorno em dividendos) projetados mais elevados para os próximos 12 meses, de 31,72%, analistas destacam que não é uma boa alternativa para quem busca viver de renda no longo prazo. A companhia já reportou bom histórico de rentabilidade e fundamentos no passado, mas tem gerado dúvida entre os investidores minoritários sobre o futuro dos seus negócios, principalmente após sua recente oferta follow on de R$ 402,5 milhões, utilizada para pagar proventos e permitir que o controlador venda as suas ações, explica Renato Chanes, analista da Ágora.
“O dividend elevado dos últimos 12 meses, de 36,14% pode ser considerado sintético, porque só foi pago por conta que a empresa fez o follow on”, comenta. Segundo Chanes, o problema foi a sinalização de que a Metal Leve estava aceitando vender suas ações a qualquer preço e que após o período de lock-up da oferta ainda pode retomar as vendas.
Chanes destaca que o segmento em que a Metal Leve atua está perdendo relevância. A companhia está focada nos veículos a combustão, em um universo onde a eletrificação ganha destaque. Além disso, o analista aponta que não há espaço para desenvolvimento de novos negócios, tendo em vista que o grupo Malhe tem outras empresas no Brasil, como a Mahle Behr já focadas no segmento de veículos elétricos.
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“A Metal Leve é um negócio que tem os dias contados, pode ser 10 anos, 20 ou 30, não sabemos quando ocorrerá o fim da combustão. Mas claramente os carros elétricos vão ganhar mais espaço no mix de vendas”, avalia Chanes.
Por este motivo e somado ao movimento de venda das ações por parte do controlador, o analista não acredita que a companhia valha a pena para uma estratégia de dividendos no longo prazo. “Aquele dividendo pago foi um agrado para os acionistas que ficaram. Mas seguimos com recomendação de venda”, comenta.
No curto prazo, Chanes acredita que as ações LEVE3 devam entregar um dividend yield de 12% em 2024.
Para Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, a Petrobras ainda deve continuar pagando dividendos elevados no longo prazo por conta da sua dependência do preço do petróleo e a expectativa de aumento de produção da commodity nos próximos anos, o que deve impulsionar um resultado crescente.
“Mesmo com o aumento de volume de investimentos da companhia nos próximos anos, por conta do plano de negócios, a projeção de pagamento de proventos é positiva”, avalia Piovesan. O analista espera que a companhia tenha um dividend yield próximo a 10%, com possibilidade de elevar o retorno com pagamentos extraordinários.
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Vinicius Steniski, analista do TC, acredita que a Petrobras teria capacidade de entregar um dividend yield de até 15% em 2024, por se tratar de uma companhia que já está em um estágio mais maduro e adquiriu certa recorrência no pagamento de dividendos.
Para algumas empresas de commodities o ciclo não deve ser muito favorável em 2024, entre estes a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) e a Gerdau (GGBR4), destaca Gabriel Duarte, analista da Ticker Research.
Ele explica que a oferta de aço vindo da China tem causado queda nos preços e prejudicado a companhia. A projeção do analista para a GOAU4 é de um dividend yield de apenas 6,5% em 2024.
Outra que deve sair da lista de boas pagadoras é a varejista Grendene (GRND3), que segundo Duarte, teve um pagamento de dividendos não recorrente em 2023, fruto da distribuição de reservas. “Isso não deve se repetir em 2024”, afirma.
Para BrasilAgro (AGRO3), Cleide Rodrigues, analista-chefe da Money Wise Report, projeta um dividend yield de 11% para 2024, com preço-alvo para as ações de R$ 40.
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Rodrigues cita que a adaptabilidade entre as estratégias de plantio pode impulsionar os proventos da companhia, em resposta à supersafra de soja e milho, que teve impacto nos prêmios destas commodities.
Segundo a analista, uma medida notável foi a redução da área plantada de milho, tanto na safra quanto na safrinha, em 9,2 mil hectares, para ser parcialmente compensada por um aumento de culturas como soja e feijão safrinha que oferecem margens mais favoráveis.
Ela também cita a possibilidade de vendas de novas fazendas que está no radar da BrasilAgro. “Esse potencial aumento nas transações de propriedades rurais pode impulsionar significativamente os resultados da empresa, refletindo diretamente na distribuição de dividendos aos acionistas”, avalia.
Para Rodrigues, a combinação de uma estratégia adaptativa frente às condições de mercado e a perspectiva de transações imobiliárias posicionam a empresa para potencialmente oferecer retornos atrativos aos acionistas em termos de dividendos ao longo de 2024.
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