- Para André Rolha, líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice Investimentos, escritório plugado ao BTG Pactual, a inflação está alta e não é só no Brasil, trata-se de um tema global, principalmente impactado pela alta nas commodities, crise energética e ruptura na cadeia de abastecimento
- Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, conta que todas aquelas medidas feitas para estimular as economias ao redor do globo acabaram elevando a demanda em geral em países como os EUA, da Zona do Euro e da Ásia
- Na visão de Rodrigo Friedrich, head de renda variável da Renova Invest, escritório plugado ao BTG Pactual, as empresas que tendem a se beneficiar não só da alta da inflação, como também da alta dos juros, são companhias do setor alimentício, como por exemplo as ações do Grupo Mateus (GMAT3), Carrefour (CRFB3), e Assaí (ASAI3)
A alta da inflação está no centro das discussões do mercado financeiro. Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA acumulado nos últimos 12 meses é de 10,25% e a expectativa do Banco Central para o indicador ao final de 2021 é de 8,59%. Para se ter ideia, em 2020, a inflação fechou com alta de 4,52%, a maior desde 2016, quando chegou a 6,29%.
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Os quase 9% de alta previstos para este ano não são animadores para os consumidores, mas podem ser benéficos para as ações de algumas empresas que podem virar oportunidades para os investidores.
André Rolha, líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice Investimentos, escritório plugado ao BTG Pactual, explica que a inflação não está alta apenas no Brasil. Trata-se de um tema global, principalmente impactado pela alta nas commodities, crise energética e ruptura na cadeia de abastecimento.
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De acordo com o especialista, 50% da inflação nacional é justificada pela alta nos preços de alimentos e transporte, uma vez que afeta diretamente a base da pirâmide que representa a maior parte da população.
“Como destaque para a escalada da inflação, temos o combustível refletindo a alta do petróleo, somado ao câmbio desvalorizado e o setor de energia afetado pela crise hídrica, tornando necessária a ativação de termoelétricas, encarecendo ainda mais a energia”, diz. “Também não podemos esquecer do setor de serviços, que vem crescendo com o avanço da vacinação e, consequentemente, da mobilidade social, que volta aos patamares pré-pandemia.”
Na avaliação de Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, além do cenário de alta das commodities, a inflação tem outro responsável: o choque entre a oferta e a demanda nos produtos.
“No pós-pandemia a demanda acabou se recuperando mais rápido do que a oferta, e isso acabou se traduzindo em uma alta dos preços”, diz Meneses. Apesar da escalada de preços aparentar ser ruim para os negócios, existem empresas que conseguem embutir esse aumento no produto final, transferindo, desta forma, uma parte do problema ao consumidor.
Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, todas aquelas medidas feitas para estimular as economias ao redor do globo durante a pandemia da covid-19 acabaram elevando a demanda em países como os EUA, da Zona do Euro e da Ásia.
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“Com isso, as empresas que estão expostas a esse processo acabam se beneficiando, justamente por conta dessa demanda mais alta no mercado no qual estão inseridas”, diz.
Argenta ressalta que não é exatamente a inflação que beneficia essas empresas. Segundo a economista, a inflação é o movimento advindo de uma demanda externa mais alta, e é essa demanda que traz benefícios às organizações.
Entre as empresas que surfam nessa onda, a especialista cita as empresas exportadoras de proteína animal e das empresas exportadoras de commodities, tanto agrárias quanto energéticas.
Quais empresas ganham com a alta da inflação
Para Rodrigo Friedrich, head de renda variável da Renova Invest, escritório plugado ao BTG Pactual, as empresas que tendem a se beneficiar não só da alta da inflação, como também da alta dos juros, são companhias do setor alimentício, como por exemplo as ações do Grupo Mateus (GMAT3), Carrefour (CRFB3), e Assaí (ASAI3).
“Quando sobe a inflação, essas empresas sobem o preço do produto final e, assim, deixam de ser prejudicadas com uma alta de juros”, diz Friedrich.
Além delas, Friedrich explica que as seguradoras, como SulAmérica (SULA11) e Porto Seguro (PSSA3), também conseguem se beneficiar, já que ajustam seus preços conforme a inflação.
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Outras companhias que podem ter uma certa vantagem do aumento de preços, na visão do head, são as concessionárias em rodovias, como CCR (CCRO3) e EcoRodovias (ECOR3), que também conseguem repassar a inflação em seu preço final.
“Assim como os bancos, que também são favorecidos com uma taxa de juros maior, já que consegue emprestar o dinheiro mais caro, tendo um spread maior”, diz.
Já na visão de Rolha, da Venice Investimentos, dentre os grupos de ações que mais se destacam com a alta da inflação, estão aqueles que possuem contratos indexados aos índices de inflação (como setor elétrico, estradas com pedágio, saneamento, varejo de alimento e empresas exportadoras). É o caso de Taesa (TAEE11), ISA Cteep (TRPL4), Vale (VALE3), WEG (WEGE3), PetroRio (PRIO3), SLC Agrícola (SLCE3), Assaí e Bradesco (BBDC4).