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Por que as ações das empresas aéreas estão demorando para decolar

Setor teve grandes saltos nos últimos dias, mas especialistas recomendam cautela

Por que as ações das empresas aéreas estão demorando para decolar
Incerteza sobre variantes do coronavírus afeta desempenho de empresas ligadas ao turismo e à aviação. Foto: Pixabay
  • Com a chegada do coronavírus ao Brasil e consequente diminuição não só de viagens, como de qualquer tipo de deslocamento, os ativos sofreram grande desvalorização em 2020
  • CVC, Embraer, Gol e Azul caíram 56,86%, 43,75%, 55,59% e 60,51% no auge da pandemia, e de lá para cá, os papéis vivem entre altos e baixos
  • Analistas de mercado ouvidos pelo E-Investidor acreditam que o segmento não irá conseguir engatar uma recuperação consistente no curto prazo

Entre os dias 8 e 12 de março, as ações de CVC, Embraer, Gol e Azul registraram as maiores valorizações acumuladas naquela semana entre os papéis do Ibovespa – 12,58%, 12,32%, 11,39% e 7,84%, respectivamente, ante uma queda de 0,9% do índice. As notícias sobre as sanções presidenciais aos Projetos de Lei que permitiam a compra de vacinas por empresas privadas foram as grandes alavancas dessas empresas ligadas ao setor de viagens.

O desempenho foi o oposto do registrado há 12 meses. Em março de 2020, o setor aéreo e de turismo na Bolsa enfrentava o pior momento da história. Com a chegada do coronavírus ao Brasil e, consequente, a diminuição não só de viagens, como de qualquer tipo de deslocamento, os ativos sofreram grande desvalorização.

Os papéis CVCB3, EMBR3, GOLL4 e AZUL4 caíram 56,86%, 43,75%, 55,59% e 60,51%, respectivamente, naquele mês. De lá para cá, vivem entre altos e baixos.

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“As ações dessas empresas passaram a subir muito a partir do momento que começaram a surgir notícias de vacina, então isso deu um tom mais otimista para o setor. A queda do dólar também ajudou, porque Gol e Azul, por exemplo, têm dívidas em dólar”, explica Flavia Meireles, analista da Ágora Investimentos. “Mas é justamente porque elas subiram muito que temos recomendação neutra. Estamos mais cautelosos.”

De fato, o gráfico das cotações trimestrais das aéreas é uma grande montanha russa de expectativas. “Se você olhar o ano passado, começou uma certa recuperação em outubro porque diminuíram os casos de coronavírus. Em novembro e dezembro até teve um movimento no turismo doméstico também. Chegou a dar uma animada, mas agora caímos na segunda onda”, afirma Roberto Nemr, analista da Ohmresearch.

Segundo os especialistas, falta previsibilidade ao segmento, cuja retomada está intimamente ligada ao avanço do calendário de vacinação no Brasil. Até 19 de fevereiro, o País vacinou apenas 11 milhões, menos de 6% da população. Também ainda não há vacinas suficientes para todos os cidadãos.

“Nos EUA, eles sabem que vão chegar em julho com 60% da população vacinada, então as pessoas se planejam para voltar a viajar. Aqui não temos isso”, afirma Nemr. “E as empresas do setor têm dificuldade para se manter em prazo indefinido. A CVC fez capitalização ano passado de R$ 300 milhões, consegue atravessar 2021 com pouca receita, mas companhias menores não têm o mesmo fôlego”, diz.

Seria a empresa de turismo, inclusive, a que teria o maior potencial de alta no segmento de turismo e aéreas em uma eventual recuperação. Antes da crise, os papéis CVCB3 estavam cotados a R$ 29, chegaram ao piso de R$ 6,10 no dia 18 de março, pior momento da pandemia, e agora estão na faixa dos R$ 18,55. Os dados são da consultoria Economatica Brasil.

Incerteza pela falta de vacina

Na visão de Nemr, se o ritmo da vacinação continuar lento e as indefinições quanto à retomada econômica se estenderem para o ano que vem, o setor aéreo na Bolsa estará em risco. “Essas empresas já precisaram de auxílio ano passado, mas se não nos organizarmos e chegarmos em junho no ritmo de vacinação de agora, será bastante complicado. A palavra-chave para as aéreas é vacinação”, diz ele.

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Alex Malfitani, vice-presidente financeiro da Azul, também acredita em uma retomada rápida do setor assim que a vacinação conseguir avançar. “Com o sucesso da vacinação e início das férias escolares a partir do último final de semana, o número de viagens aéreas explodiu. Acreditamos que para chegarmos nesse patamar ainda nos faltam alguns meses”, diz. “Enquanto isso, teremos que reagir em ‘tempo real’, fazendo os ajustes necessários no número de vôos conforme a demanda e segurando o caixa, caso seja preciso.”

Contudo, o impacto econômico na companhia está sendo menor do que o previsto. “Estamos surpresos, mesmo nessa fase de restrição maior, temos hoje uma média de 500 voos por dia. Em um mundo sem pandemia, seriam cerca de 950 voos. Dado o contexto, imaginávamos algo muito pior. E nos últimos dois trimestres do ano, acreditamos que a vacinação já vai estar mais forte, estamos animados com esse período”, afirma Malfitani.

A Azul tem um cenário mais favorável, mas ainda assim deve sofrer com o aumento de casos de covid-19 no Brasil e novos lockdowns pelo País. “O balanço mostrou que eles estão se recuperando bem, reconstruindo com sucesso a malha doméstica, utilizando uma combinação de flexibilidade na frota e redução de preços das passagens”, diz Meireles. “Mas ao mesmo tempo as viagens corporativas caíram muito e esse tipo de viagem era responsável por boa parte da receita.”

Os papéis AZUL4 estão subindo 4,73% ano e quase 243,86% nos últimos 12 meses, para R$ 41,99 no último fechamento. “Não seriam ações que eu recomendaria comprar agora. De certo, quando tivermos previsibilidade em relação ao calendário de vacinação,  o segmento decola. O problema é saber quando isso vai acontecer e como as companhias estarão financeiramente até lá”, afirma Nemr.

O plano da Gol

No 4º trimestre de 2020, a Gol já registrou resultados considerados bem abaixo do esperado, com um prejuízo de R$ 861,9 milhões. No mesmo período de 2019, a companhia tinha tido lucro de R$ 378,3 milhões. O número de passageiros transportados entre outubro e dezembro do ano passado também caiu 46% em comparação ao exercício do ano anterior, para 5,2 milhões de clientes.

“A Gol já avisou que o número de vôos está caindo progressivamente no 1º trimestre de 2021. A companhia reduziu também algumas metas, como receita esperada para os próximos meses”, afirma Meireles. Até o fim de março, a Gol espera operar com uma frota média de 74 aeronaves, isto é, 67% da frota operada um ano antes. Na comparação com o trimestre anterior, a receita da aérea deve encolher 10%.

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O balanço foi divulgado na última quinta-feira (18) e fez as ações despencarem 7,53% no pregão, para R$ 21,49 – entretanto, em 12 meses, a alta é de 243,84%. No pior momento da pandemia para a Gol, em 18 de março de 2020, os papéis chegaram a custar R$ 5,60.

Embraer é caso à parte

De todo o setor aéreo e de turismo, a fabricante de aviões Embraer é que está tendo as maiores altas em 2021. Os papéis EMBR3 já acumulam valorização de cerca de 60% desde janeiro, passando de R$ 8,37, no primeiro pregão do ano, para o atual patamar de R$ 14,51. No pior momento da pandemia para a companhia, em 03 de novembro de 2020, os ativos estavam sendo negociados a R$ 6,03.

“O diferencial é que a Embraer não depende tanto do cenário doméstico, ela opera também fornecendo aeronaves para o mercado internacional, que deve se recuperar mais rápido”, afirma Nemr. “No caso da Embraer, a empresa fabrica aeronaves menores, ou seja, não depende tanto da volta do circuito de turismo de massa, mas dos vôos regionais, que também devem se recuperar antes.”

Para Meireles, no entanto, a recuperação das ações nos últimos meses não justifica ainda o investimento. “Recomendamos a venda do papel. As ações da Embraer subiram forte em função de entregas feitas no ano passado e às negociações com a Lufthansa, empresa alemã de aviação, corte de custos e etc”, afirma. “Mas em 2021 essa entrega de aeronaves deve ser mais baixa que a média histórica. O setor ainda está lutando com essa questão do coronavírus, portanto acreditamos que não irá ter muita demanda por encomenda de aeronaves.”

No 4º trimestre de 2020, a Embraer teve prejuízo líquido de R$ 7,7 milhões, em uma melhora de 99% em relação ao déficit registrado um ano antes, de R$ 867,8 milhões. A receita líquida também cresceu 14% em relação aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2019, para R$ 9.812,0 milhões, e foram entregues 44 aeronaves comerciais e 86 executivas.

Os resultados foram considerados robustos, mas a própria empresa indica um cenário nebuloso estimado para este ano. “Devido à incerteza relacionada à pandemia da covid-19 e seus impactos na indústria, a Companhia decidiu por não publicar, nesse momento, suas estimativas financeiras e de entregas para 2021”, afirma a fabricante, em relatório de resultados.

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