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- A bolsa de valores brasileira não foi a única a ver uma recuperação na cotação das ações neste primeiro semestre de 2023
- Nos EUA, os principais índices de ações contrariaram os temores de recessão e conseguiram arrancar um desempenho positivo mesmo em meio à alta de juros no país
- As grandes responsáveis pela alta, no entanto, são um grupo seleto de 7 empresas que transformando a onda da inteligência artificial para resultados e projeções expressivas
A Bolsa de Valores brasileira não foi a única a ver uma recuperação na cotação das ações neste primeiro semestre de 2023. Nos Estados Unidos, os principais índices acionários de Nova York contrariaram os temores de recessão e conseguiram arrancar um desempenho positivo nos seis primeiros meses do ano mesmo em meio à alta de juros no país.
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O S&P 500 subiu 15,9% no semestre, enquanto o Nasdaq avançou 31,73% – o melhor resultado do índice para a primeira metade de um ano período desde 1983. O bom desempenho acontece após um ano de 2022 massivamente negativo no mercado americano. E foi assim que o clima de 2023 começou por lá.
Mas, com o passar dos meses, alguns pontos de preocupação deram alívio, especialmente a expectativa em relação ao aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) em março, o mercado passou a precificar que o Fed precisaria ser menos duro na elevação dos juros para não criar um problema de liquidez financeira nos Estados Unidos.
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Tudo isso foi criando um ambiente melhor do que o inicialmente previsto para os ativos de risco. “O mercado entrou em 2023 com uma cabeça bastante pessimista para os ativos de risco e, por isso, o posicionamento estava bastante baixo em ações”, diz Paulo Gitz, estrategista Global da XP. “E esse é o primeiro motivo pelo qual as bolsas subiram. A recomposição das carteiras e o fechamento de posições vendidas gerou um fluxo persistente de compra ao longo do semestre.”
Dentro dessa melhora geral do humor, no entanto, tem uma história específica de valorização que ajudou a sustentar os ganhos de dois dígitos nos principais índices de ações americanos. São as big techs – as grandes empresas de tecnologia do mundo, que tiveram um semestre bem acima das expectativas.
“São empresas menos dependentes da economia dos EUA. Se existe receio de uma recessão lá, isso impacta menos o desempenho de uma Microsoft do que de uma empresa que opera somente no país, por exemplo”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
O especialista destaca que, ao longo de 2022, as expectativas para os resultados das companhias americanas foram sendo revisadas para baixo dado o impacto do aperto monetário na economia. As big techs, no entanto, conseguiram segurar o desempenho e apresentar números acima do consenso do mercado. “Os resultados não foram os melhores, mas menos piores do que o esperado. As big techs conseguiram segurar os números com controle de custos, demissões e algumas outras coisas que ajudaram”, diz Alves.
O semestre da Inteligência Artificial
Apesar do desempenho positivo no geral, algumas empresas de tecnologia são consideradas pelos especialistas como o grande destaque do semestre. Especialmente esses sete nomes: Nvidia, Meta, Tesla, Amazon, Apple, Alphabet e Microsoft. “Essas sete ações foram responsáveis por quase toda essa performance positiva. Tirando elas, o índice estaria meio de lado no ano”, diz Arthur Siqueira, sócio e analista de investimentos da GeoCapital.
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O tema impulsionador dessas sete empresas no semestre foi a inteligência artificial (IA). Em resumo, a IA é um campo de estudo da ciência que se dedica a desenvolver máquinas e softwares para realizarem atividades de maneira autônoma. A grande expectativa é que o uso dessa tecnologia possa levar a ganhos expressivos de produtividade nas companhias, sem necessariamente exigir a contratação de mais capital humano ou outros custos adicionais.
A Nvidia, por exemplo, reportou um resultado trimestral muito acima do esperado pelo mercado, apoiada em uma aposta de ganhos futuros com a IA. Isso fez a companhia revisar sua projeção de receita do segundo trimestre para US$ 11 bilhões – um valor “impressionantes 57% acima do consenso”, segundo o Itaú BBA. Veja a avaliação completa.
Na esteira dessa inovação tecnológica, a Apple também viu seu valor de mercado bater a marca de US$ 3 trilhões nos últimos pregões de junho. Agora, a criadora do Iphone não somente é a companhia mais valiosa do mundo, como também é a primeira a atingir tal patamar de valuation (valor do ativo). “Esse foi o semestre da IA e é isso que está fazendo essas ações terem um resultado tão expressivo, tendo suas projeções de lucro revisadas para cima, o que justifica os múltiplos mais altos”, explica Siqueira.
Quem serão as vencedoras?
As ações das big techs são ativos que muitos investidores brasileiros gostam de ter na carteira. Agora, passada a valorização do primeiro semestre, é preciso colocar na balança dois pontos: de um lado o potencial de ganho que essas empresas podem ter com a inteligência artificial; de outro, a cotação elevada dos papéis no momento.
Siqueira, de GeoCapital, destaca que o preço de uma ação é diferente de seu valor. Assim, por mais que determinado papel esteja em seu pico, é preciso avaliar a tese de investimento daquela empresa específica para dizer que aquele valor está caro ou barato.
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“Isso vai depender do que o investidor acredita que a empresa vai conseguir entregar nos próximos cinco anos. Se você é uma pessoa que acha que essas empresas vão se beneficiar tanto de IA que o lucro delas vai crescer muito mais rápido, talvez justifique você pagar o múltiplo mais alto hoje”, explica. “O ponto mais importante para qualquer investidor de ações é saber o porquê está investindo naquele determinado ativo.”
A GeoCapital acompanha quatro das big techs: Apple, Meta, Alphabet e Microsoft. E vê nas duas últimas as melhores oportunidades.
Na visão da wealth e asset management WHG, o caminho das pedras consiste em uma análise micro, olhando as teses de cada empresa para tentar escolher aquelas que podem se beneficiar mais do uso da inteligência financeira no longo prazo.
Andrew Reider, CIO, explica que o posicionamento da casa no momento é olhar aquelas empresas que não estão sendo colocadas como possíveis vencedoras, mas que podem vir a surpreender no futuro. Ele dá o exemplo da própria Alphabet, que não era tida pelo mercado como quem mais se beneficiaria logo no início da internet.
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“A grande tese desse ano é pegar nomes que eram vistos como perdedores e que no final das contas podem ser vencedores”, diz Reider. A preferência da WHG entre as big techs fica com a Amazon, apoiada no entendimento de que a IA poderia beneficiar a plataforma de serviços de computação em nuvem da companhia, a Amazon Web Services (AWS).
“A Amazon estava com alguns problemas, o cloud desacelerando, mas agora a gente vê que com inteligência artificial isso vai virar em algum momento. É uma ação que não está tão óbvio como um vencedor, mas que no final das contas pode se sair tão bem quanto a Microsoft, que todo mundo está apontando”, destaca o executivo. “E isso não está no preço.”