- Após a restrição das operações da Vale em Itabira, preço por tonelada do minério de ferro saltou para mais US$100
- De acordo com especialistas, a alta beneficia a empresa, que segue como recomendação de compra
- Real desvalorizado e projetos de infraestrutura também impulsionam setor
Uma empresa pode se beneficiar de uma decisão que reduz a sua operação? No caso da Vale , sim. A valorização da cotação do minério de ferro foi influenciada pela interdição do complexo da Vale em Itabira (MG). Na noite de sexta-feira (5), o Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais determinou o fechamento após a confirmação de casos de coronavírus entre funcionários da empresa que trabalhavam nas minas.
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A suspensão das atividades restringiu a oferta de minério de ferro, o que fez o preço da commodity subir para mais de US$ 100 por tonelada na China. Um dos contratos mais negociados de minério, por exemplo, saltou 7,6% na bolsa chinesa de Dalian, para US$ 112,74, maior alta desde 9 de julho de 2019.
Para especialistas, o aumento de preço do minério de ferro beneficia a mineradora e mais que compensa essa baixa na produção. “Cada US$ 5 de aumento de preço por tonelada representa um adicional de US$ 1,5 bilhão no Ebitda (Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) da companhia”, diz José Cataldo, head de research de Ágora Investimentos.
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Cataldo acrescenta que os papéis da VALE3 estão descontados em relação aos concorrentes internacionais, o que reforça a indicação para os investidores. “É a nossa principal recomendação de compra para o setor”, ressaltou. Atualmente, a Vale é considerada a segunda maior empresa exportadora de minério de ferro do mundo, atrás apenas da australiana BHP Billiton.
A ação da Vale chegaram a fechar em alta de 0,3% na segunda-feira 8, cotada a R$ 54,78. Na terça-feira, o papel terminou o dia estável, a R$ 54,79.
Alta tem efeito de curto prazo
De acordo com Ilan Arbetman, analista de equity research de Ativa Investimentos, o preço do minério de ferro acima de US$ 100 deve se manter apenas no curto prazo, enquanto a crise do coronavírus não estiver controlada. Na visão do especialista, a cotação tende a voltar aos patamares anteriores – que já não estavam tão baixos – de US$ 90 por tonelada. “Desde Brumadinho, o ritmo de produção caiu e o preço do minério se valorizou”, diz ele.
Mesmo assim, a mineradora mantém sua força no mercado. “A Vale é formadora de preço, uma companhia que tem profundidade nesse nicho e fluxo de caixa perene”, afirma Arbetman. Isso significa que qualquer alteração na capacidade produtiva, como a suspensão de Itabira, impacta a oferta em escala global, fazendo com que os preços se elevem. “A companhia acaba se beneficiando disso, mesmo que seja por conta de uma situação ruim”, diz o especialista da Ativa.
Essa também é a opinião de Lucas Carvalho, analista de investimentos da Toro. “Não acredito que os preços do minério fiquem nesse nível de mais de US$ 100; a tendência é o reequilíbrio entre oferta e demanda”, aponta.
Em nota, a Vale anunciou que a suspensão das operações em Itabira não afetam as metas de produção para o ano, que estavam entre 310 e 330 milhões de toneladas de minério. Nessa conta, a empresa já teria descontado 15 milhões de toneladas em função de possíveis impactos do coronavírus. A produção mensal do complexo em Minas Gerais está estimado em 2,7 milhões por mês. “Então, mesmo que a interrupção seja por três meses seguidos, ainda não afetaria a meta para o ano”, afirma Arbetman.
Minério de ferro se mantém resiliente na crise
Dois grandes fatores teriam impulsionado o setor de mineração durante a crise do coronavírus: câmbio desvalorizado, que favoreceria as exportações, e investimentos em infraestrutura.
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“Nós temos visto que, em tempos de recessão, os países tendem a investir mais em programas de infraestrutura para estimular a economia, como agora na crise”, diz Carvalho. “Isso acelera a demanda por minério de ferro e suas derivações.”
Segundo informações da Reuters, em março a China teria anunciado que investiria em uma “nova infraestrutura” para aquecer a economia, com a construção de cidades inteligentes e desenvolvimento da tecnologia 5G. O país asiático, comprador de minério da Vale, foi o primeiro atingido pelo coronavírus e agora está no processo de retomada econômica.
O próprio plano nacional de reabertura da economia, o ‘Pró-Brasil’, anunciou um investimento bilionário em obras de infraestrutura. “Isso nos deixa com uma visão mais construtiva para essas empresas, a Vale praticamente já recuperou os níveis pós-pandemia”, diz o analista de Toro.
No início de 2020, antes da pandemia, os papéis da mineradora estavam cotados a R$ 53,30. Mesmo com uma valorização pequena, de 3,2% no ano, a VALE3 já está bem à frente da queda de 16,3% do Ibovespa no mesmo período.