- Na última sexta-feira, 10, foi confirmado em assembleia geral extraordinária de acionistas que o trio de sócios Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles vai deixar o controle da varejista, depois de 40 anos no comando da empresa
- Especialistas ouvidos pelo E-Investidor se dividem quanto a permanência ou abandono do papel com a reestruturação e a possível futura migração da companhia da B3 para alguma bolsa norte-americana
As Lojas Americanas estão colocando em prática o seu plano de reestruturação para melhorar a governança da companhia e sua imagem junto ao mercado. O processo resultará na incorporação de ações. Assim, acionistas de Lojas Americanas (LAME3, LAME4) receberão frações dos papéis da Americanas SA (AMER3). O dia 21 de janeiro de 2022 marcará o último pregão em que as ações LAME3 e LAME4 serão negociadas.
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Na última sexta-feira (10), foi confirmado em assembleia geral extraordinária de acionistas que o trio de sócios Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles vai deixar o controle da varejista, depois de 40 anos no comando da empresa.
A expectativa que circula no mercado é a de que a empresa se prepara para listar suas ações nos Estados Unidos, seguindo o passo de outras companhias brasileiras que fizeram movimentos semelhantes.
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O Nubank, por exemplo, levantou cerca de US$ 2,6 bilhões no IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) na última semana.
Especialistas ouvidos pelo E-Investidor se dividem quanto à permanência ou ao abandono do papel com a reestruturação e a possível futura migração da companhia da B3 para alguma bolsa norte-americana.
O que dizem os especialistas?
“Nossa recomendação é manter os papéis e aguardar até que tenhamos um ambiente macroeconômico com expectativas relacionadas à inflação ancoradas, e até mesmo levando em consideração que ano que vem tem eleição e a volatilidade vai continuar bastante elevada”, diz Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos. “Depois da eleição, deve ser um momento de recuperação desses papéis de e-commerce, com destaque para Americanas, que tem esse trigger de migração e nova formação estatutária”, completa.
Para o analista da Guide, a possível ida para o mercado norte-americano pode aumentar a liquidez da empresa, bem como a sua exposição a investidores internacionais. “A visibilidade aumenta bastante e ela passa a entrar no radar tanto de investidor institucional como de grandes bancos e até mesmo de investidores de varejo, que procuram oportunidades em mercados emergentes e também no setor de varejo e e-commerce”, avalia Crespi.
Já Fernando Ferrer, analista da Empiricus, diz que a recomendação da casa é largar o papel. Embora veja a reestruturação como positiva, ele argumenta que, do ponto de vista operacional, a empresa fez movimentos “difíceis de entender o foco” e que a deixam em posição de dificuldade frente aos concorrentes. “A empresa fez a aquisição do grupo Uni.co, que é o detentor das redes Imaginarium e Puket, e depois do hortifruti Natural da Terra, que são movimentos que vão um pouco ao contrário do que Mercado Livre e Magazine Luiza estão fazendo, de melhorar a rede logística, aumentar o engajamento do cliente, melhorar nível de serviço”, diz Crespi.
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Outro fator negativo para o analista da Empiricus é de caráter setorial, uma vez que, em sua avaliação, o varejo passa por um momento complicado. “Vemos a população com menor disposição a consumir, uma inflação alta e um nível de desemprego elevado. Além de uma mudança de mix de produtos, com os clientes optando por produtos mais baratos, que acaba impactando também a margem das companhias”, completa Crespi.
Heloise Sanchez, analista da Terra Investimentos, também vê o cenário para as varejistas como desafiador, diante do cenário econômico brasileiro e global de inflação elevada e taxa de juros elevadas. “Cabe ao investidor avaliar se está disposto a aguardar passar esse momento mais turbulento, aproveitando os valores descontados da ação”, diz Sanchez, que tem recomendação de permanência no papel AMER3, ou compra para quem ainda não tem, com preço-alvo R$ 54 em um ano.
De acordo com Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, a incorporação é vista com bons olhos porque deve resultado em uma melhora da governança da empresa. “Com a reestruturação, a 3G Capital (a private equity de Lemann, Sicupira e Telles) terá um poison pill que obrigaria todos os novos acionistas a fazer uma oferta para toda a entidade, caso atinjam 15% de participação”, aponta.
Corrêa ainda complementa que, com a incorporação de ações, a empresa poderia efetivar a listagem no exterior, gerando maior visibilidade. Além disso, caso a mudança para a Bolsa norte-americana seja de fato concretizada, a empresa pode seguir os passos de outras brasileiras como XP e Nubank, e oferecer BDRs aos investidores brasileiros.
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Corrêa destaca o preço-alvo médio de R$ 64 para a AMER3, embora esteja cotada por volta de R$ 31. (Colaborou Rebeca Soares)