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- A semana começou com mais um sinal de deterioração no cenário econômico
- O Boletim Focus registrou mais revisões altistas para a inflação, juros e câmbio nos próximos meses
- “Os dados do Focus indicam a consolidação de uma tendência que já vinha se formando nos últimos meses: um mercado cada vez mais cético em relação à capacidade do Banco Central de cumprir com as meta de inflação”, afirma Matheus Pizzani, economista da CM Capital. Saiba como se proteger da volatilidade esperada
A semana começou com uma piora das projeções para a economia brasileira. O Boletim Focus, publicação semanal do Banco Central (BC) que resume as expectativas de mercado sobre indicadores, apontou que a taxa básica de juros Selic deve terminar o ano em 11,75% ao ano, ou seja, com mais um aumento de 0,5 ponto percentual em dezembro. A projeção para inflação até o fim de 2024 subiu de 4,63% para 4,71%, enquanto o dólar deve se acomodar em R$ 5,70.
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Já para o ano que vem, a trajetória dos dados preocupa ainda mais – as perspectivas para inflação, juros e câmbio estão sendo continuamente revisadas pra cima. A visão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, indicador oficial da inflação) em 2025, por exemplo, sofreu aumento pela sétima semana seguida, saindo de 4,03% para 4,4%.
Este é o primeiro Focus após o anúncio, na quarta-feira (27), do pacote fiscal de corte de gastos feito pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT). As medidas, que incluem limites para reajustes do salário mínimo e restrições de acesso ao abono salarial, devem gerar um economia de R$ 70 bilhões em dois anos – considerada superestimada e, ainda sim, insuficiente, tendo em vista o déficit fiscal de mais de R$ 100 bilhões somente entre janeiro e agosto deste ano. Além disso, o anúncio da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil junto com o pacote fiscal diminuiu a confiança dos investidores no Governo.
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A piora nas expectativas no Focus simboliza essa ideia de que os gastos públicos vão continuar crescendo, o que deve gerar uma inflação mais elevada e, consequentemente, juros mais altos. “Os dados do Focus indicam a consolidação de uma tendência que já vinha se formando nos últimos meses: um mercado cada vez mais cético em relação à capacidade de o Banco Central cumprir com as meta de inflação”, afirma Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Para frente, a análise é de que as revisões pessimistas nos indicadores não devem parar. “Provavelmente na próxima semana nós já vejamos a taxa de juros e de câmbio projetada para 2025 e 2026 em níveis bem mais altos”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
A conjuntura externa também não ajuda o mercado brasileiro. Nos Estados Unidos, a posse de Donald Trump pode desembocar em tarifas adicionais para produtos de países emergentes, como o Brasil. “Será um cenário bem complicado para a renda variável doméstica porque essa perspectiva de juros ficará sendo revisada para cima”, diz Cruz.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, resume o cenário como “pouco convidativo”. Para ele, a falta de credibilidade do Governo afugenta o capital estrangeiro e leva a uma corrida por “proteção” em dólar. “Isso faz com que exista uma fuga de dólares muito grande do Brasil, fazendo com que a moeda suba”, aponta.
Como investir com dólar e juros mais altos?
Os analistas são unânimes em indicar que o País conviverá, nos próximos meses, principalmente com juros e dólar mais altos. Para driblar essa volatilidade, os olhos se voltam para a renda fixa – que deve brilhar ainda mais no próximo ano.
Para Cruz, da RB Investimentos, essa classe de ativos continua “extremamente recomendada”. Para quem não conhece, a renda fixa reúne investimentos geralmente atrelados a índices econômicos, como juros ou CDI (taxa próxima à Selic) e inflação. Isso significa que esses papéis podem ganhar com a alta desses indicadores, e sem risco, caso sejam pós-fixados. É o caso do Tesouro Selic, título público que paga a variação da Selic. Contudo, é necessário haver uma curadoria, em especial para comprar títulos de dívida de empresas, as chamadas “debêntures”. Isto porque, com a piora do cenário macro, algumas companhias podem acabar não conseguindo pagar esses débito.
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“Muitas empresas que captaram dívida nos últimos anos não esperavam que essa despesa financeira ficasse tão elevada por tanto tempo”, diz Cruz. “Esse é um cenário parecido com o que vimos após 2020: quando a taxa foi o menor patamar na história, em 2%, muitas empresas emitiram debêntures atreladas ao CDI e depois, quando o juro subiu muito, se viram com as contas apertadas.”
O setor exportador também é visto como atrativo nesse momento, já que esses players possuem receitas em dólar – como os frigoríficos, cujas ações são campeãs do Ibovespa em 2024. “O setor exportador se beneficia desse câmbio bem mais desvalorizado do que se imaginava”, diz Cruz.
Empresas exportadoras e pouco relacionadas ao mercado interno também são apostas de Robert Machado, analista CNPI da CM Capital. “Alta do dólar será bom para Suzano (SUZB3), fabricante de celulose, e Klabin (KLBN11), produtora de papéis. A Embraer (EMBR3) também tende a se beneficiar com sua fábrica nos EUA, faturando em dólar”, afirma. O especialista destaca ainda os bancos como resilientes ao cenário adverso – com juros mais altos, as instituições financeiras passam a oferecer empréstimo a taxas mais elevadas também.
O mesmo cenário é desenhado por Cohen, que vê as empresas ligadas a commodities e bancos como os setores que devem se destacar – mas no longo prazo. “ O ‘cenário’ hoje é renda fixa. Ou seja, Tesouro Direto, aproveitar um Certificado de Depósito Bancário (CDB) que está pagando 120% do CDI. Só com isso, o investidor já vai ter um retorno bem grande”, diz o analista. “Agora, pensando mais pra frente, na chance de o Brasil melhorar essa situação: aí temos fundos imobiliários, que eu acho interessante já começar a montar uma posição, dado que eles tendem a sofrer mais no momento, e ações ligadas a commodities e bancos.”
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A diversificação internacional é um segundo fator que entra no foco, de vez. “Infelizmente, com o país em que estamos hoje, não dá pra pensar em só investir no mercado doméstico, o investidor tem que ter no mínimo 30% do capital fora”, diz Cohen. “Basta comparar o S&P 500, que está batendo 30% de valorização, com o Ibovespa em 2024, que está estacionado.”
A aplicação em ETFs (fundos de índice), BDRs (títulos negociados na B3, mas atrelados a ações estrangeiras) e fundos de investimento voltados ao mercado externo podem ser um caminho mais fácil para quem tem pouco capital e está começando. “Nos últimos anos, surgiram muitas alternativas para investir no exterior. Existem aplicativos para qualquer tipo de cliente”, aponta Cruz.
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