- Na quarta-feira (20), o ministro da economia Paulo Guedes afirmou que o Governo deve pedir autorização para "furar" o teto de gastos para financiar o programa social
- Segundo analistas, a postura pode desencadear outros problemas para a economia do Brasil, como aumento da inflação e da taxa de juros
- Ao longo da manhã desta quinta-feira (21), o mercado reprovou as declarações do ministro Paulo Guedes e o Ibovespa sofreu queda de quase 2%, chegando aos 108,79 mil pontos
O Ibovespa reagiu mal na manhã desta quinta-feira (21) com a possibilidade do Governo Federal descumprir o teto de gastos para viabilizar o Auxílio Brasil. A queda no índice foi de quase 2% por volta das 10h15, chegando a 108,71 mil pontos. Para analistas, a tentativa do Planalto de financiar o programa social sem se preocupar com a situação fiscal pode aumentar ainda mais a inflação, além de “ameaçar” o cumprimento do teto de gastos ao longo dos próximos anos.
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Durante discurso na quarta-feira (20), o ministro Paulo Guedes afirmou que, para turbinar o programa Auxílio Brasil como deseja o governo, irá exigir uma licença para gastar cerca de R$ 30 bilhões da regra constitucional. Na avaliação de Mário Goulart, analista da O2 Research, a viabilização de benefícios descumprindo o teto de gastos pode desencadear outros problemas econômicos para o País.
“Como toda política social, cria um problema ainda maior do que ela pretendia resolver. Ao criar o auxílio, ele (presidente Bolsonaro) cria condições de mais inflação, juros mais altos e problemas cambiais. Essa situação prejudica justamente a população menos favorecida que pretendia ajudar”, afirma
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A derrocada no índice da bolsa brasileira persistiu até o fim da manhã. Por volta das 12h, o mercado amargava queda de 1,84%, aos 108,79 mil pontos. Poucos minutos depois, por volta das 13h20, a queda foi ainda maior e o índice chegou a registrar baixa de 2,40%, aos 108 mil pontos. De acordo com Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico, essas posturas no campo governamental contribuem para que o Ibovespa tenha uma das piores performances do mundo.
“Os ativos brasileiros, de forma geral, acabam se deteriorando e se deslocando do exterior. Lá fora, SP500 está próximo da sua máxima histórica e o índice Dow Jones tendo a sexta alta consecutiva. A gente vê o índice brasileiro com uma das piores performances do mundo”, avalia.
Teto de gastos x eleições
O financiamento do Auxílio Brasil fora do teto de gastos acendeu um alerta para o mercado financeiro em relação ao próximo ano, quando acontece as eleições de 2022. De acordo com Alexandre Brito, sócio e gestor da Finacap Investimentos, a declaração do ministro da economia demonstrou aos investidores que o interesse do governo é muito mais político do que econômico, já que o prazo para lançar o programa segue até o fim deste ano.
“A grande questão é a dicotomia dentro do Governo. Há alas que visam mais a política, enquanto há outras que visam mais a questão econômica. A gente sabe que a pasta da economia tem um viés mais de austeridade e de sustentabilidade fiscal”, avalia.
Apesar da repercussão negativa ao longo da manhã, Brito acredita que o programa não deve romper com a sustentabilidade fiscal do País. O problema, enxergado por ele, é que o Auxílio Brasil possa “abrir espaço” para outras ações que comprometam o orçamento brasileiro.
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“A gente sabe que algumas camadas da população ainda sofrem com os efeitos econômicos da pandemia. Por isso, é difícil que alguém se contraponha a algo nessa linha, ainda mais às vésperas de uma eleição”, ressalta.
Já Victor Beyruti, analista da Guide Investimento, enxerga que essas ações ameaçam a política do teto de gastos para os próximos anos. De acordo com ele, a medida é essencial para garantir segurança ao investidor que pretender aplicar recursos no Brasil.
“Estão, de certa forma, colocando o teto de gastos como vilão. Mas, na verdade, ele (a política do teto de gastos) segura o investimento e segura as taxas de juros para patamares mais baixos à medida em que sustenta a confiança do investidor e a credibilidade no regimento das contas públicas”, frisa.