(Reuters) – A bolsa brasileira oferece oportunidades, mas o desequilíbrio fiscal no país adiciona volatilidade, enquanto o atraso na reabertura econômica e na vacinação contra a covid-19 pressiona setores cíclicos domésticos, avalia o gestor responsável pela estratégia de renda variável na AZ Quest, Eduardo Carlier.
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“Estamos construtivos (com a bolsa), mas achamos que o regime de volatilidade é um pouco maior, até definir de fato um equilíbrio entre fatores macro, principalmente o fiscal”, afirmou Carlier em entrevista à Reuters.
O executivo da AZ Quest, fundada em 2001 e que tem sob gestão 17 bilhões de reais em ativos, observou que o Brasil experimentará nos próximos dois a três meses um momento muito relevante para a definição dos cenários de médio e longos prazos, que contempla também discussões sobre o ciclo monetário e o comportamento da inflação.
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O Ibovespa, segundo Carlier, atualmente pode ser resumido em “três Rs: reabertura, reflação e rotação”.
No que chama de “trade de reabertura”, Carlier citou que se trata de um movimento totalmente ligado à vacinação e se mostra mais adiantado no exterior. Investidores no mercado brasileiro, contudo, têm buscado emular o que está acontecendo com os papéis em praças globais que se beneficiam da reabertura das economias.
“O Brasil está atrasado no ciclo de vacinação, mas sabemos que se bem executado gera esse efeito de reabertura em empresas que sofreram muito no ano passado”, afirmou. Companhias que mais sofreram com a segunda onda da pandemia ainda enfrentam dificuldade e resultados bons só devem vir a partir da segunda metade do ano “e a depender do ritmo da vacinação”.
Lojas Renner, por exemplo, considerada uma empresa que se beneficiará da reabertura, não deve, na visão do gestor, ter resultados positivos no primeiros trimestre e provavelmente no segundo trimestre, mas tem uma expectativa de normalização de resultados conforme a economia vai abrindo.
Commodities
Outro componente, a “reflação”, quando se busca fomentar economias por meio estímulos fiscais e monetários, elevou a liquidez nos mercados e sincronizou o crescimento global, valorizando os preços de commodities, observou Carlier. Ele citou que empresas que estão reabrindo após medidas de lockdown estão demandando matéria-prima de uma vez só.
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O risco desse cenário, que tem como característica inflação de custos, é em algum momento ele se refletir em aumento de preços que necessite aperto monetário. Mas o Federal Reserve, acrescentou, está dando sinais de que vai esperar para ver. O Banco Central no Brasil também parece estar observando o movimento, afirmou.
Nesse contexto, há um efeito de rotação de portfólio, que no Ibovespa tem um impacto desproporcional. Papéis de matérias-primas, que se beneficiam de reabertura e reflação, incluindo produtoras de celulose, mineradoras e siderúrgicas, petrolíferas, empresas dos setores petroquímico, de proteínas e do agronegócio, somam cerca de 36% do Ibovespa.
“Matematicamente, tem esse efeito positivo”, afirmou, acrescentando que esse fator explica por que não se observa tanto o efeito da discussão fiscal e macro nos ativos de bolsa. Mas setorialmente, alertou, nota-se que a parcela cíclica doméstica, mais afetada pela pandemia, piora das condições fiscais e debate do orçamento, ainda está bastante defasada.
Menos de metade das mais de 80 ações do Ibovespa apresentam performance positiva no acumulado do ano, e entre as 15 maiores altas estão Braskem, PetroRio, CSN, Usiminas, JBS, Gerdau, Marfrig, Vale, Suzano e Cosan.
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Para Carlier, o maior problema do Brasil ainda é a situação fiscal, e após as medidas no ano passado de reação aos efeitos da pandemia há menos margem para errar. “É esse componente que gera maior incerteza como um todo”, afirmou, acrescentando que será muito importante atravessar a crise na saúde, “que é a parte mais urgente”, com alguma sustentabilidade fiscal.
Assim, a equipe da AZ Quest tem optado por uma visão mais positiva para o segmento de commodities, mais ligado à parte externa, com papéis “muito interessantes” para capturar o ciclo global. Também gosta de ações de tecnologia, como e-commerce, e empresas de qualidade que estão conseguindo ganhar participação no ambiente atual.
Na avaliação do gestor, a perspectiva de elevação da taxa básica de juros no país não deve frear o apetite de investidores por ações. “Não é um aumento na magnitude que estamos vendo agora que vai tirar dos trilhos a necessidade de tomar mais risco ao longo do tempo para compor um bom portfólio”. A gestora trabalha com a Selic a 5% no final do ano, de 2,75% atualmente.