Veja como devem ficar os dividendos do Banco do Brasil (Foto: Adobe Stock)
O Banco do Brasil (BBAS3) reportou um resultado visto como fraco e piorou a percepção dos agentes do mercado sobre a companhia, após revisar suas projeções de lucro para 2025. Analistas concordam que os números não foram bons e que a recuperação será lenta. Por outro lado, há divergências sobre quando será o fundo do poço para a empresa, com especialistas apontando uma recuperação já no quarto trimestre, enquanto outros enxergam deterioração até o começo de 2026.
Ontem, o Banco do Brasil reportou um lucro líquido ajustado de R$ 3,78 bilhões no balanço do terceiro trimestre de 2025 (3T25), uma queda de 60,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com o segundo trimestre (2T25), o resultado ficou estável. A rentabilidade do Banco do Brasil, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) ficou em 8,4%, mesmo patamar do segundo trimestre de 2025, mas 12,7 pontos porcentuais abaixo do terceiro trimestre de 2024, quando o ROE estava em 21,1%. O resultado antes dos impostos (EBT), que mede o resultado operacional, ficou em R$ 4,32 bilhões, queda de 64,4%. A cifra ficou abaixo do esperado pelas casas Genial e Safra.
Para o Safra, o número ficou 11% abaixo do esperado, com as provisões mais uma vez impactando a qualidade dos números trimestrais. O que mais assustou os analistas do Safra foi a revisão das projeções de 2025. A estatal cortou a projeção de lucro e agora espera um ganho líquido entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões em 2025, abaixo da faixa anterior, que ia de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões. Já nas provisões para Devedores Duvidosos (PDD) foi revisada de R$ 53 bilhões a R$ 56 bilhões para R$ 59 bilhões a R$ 62 bilhões.
“Na análise do segundo trimestre, consideramos a projeção de lucro líquido divulgada na época como exagerada, mas nós (ou qualquer pessoa com quem conversamos) não esperávamos outra revisão no terceiro trimestre (ponto médio de R$ 3,5 bilhões abaixo)”, dizem Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre, que assinam o relatório do Safra.
A revisão das estimativas aconteceu após mais um trimestre difícil. A inadimplência acima de 90 dias foi de 4,93% no terceiro trimestre de 2025, piora de 1,6 ponto porcentual na comparação com a inadimplência do terceiro trimestre de 2024. Para a XP Investimentos, esse número reforça que a “normalização do balanço é improvável no curto prazo”.
Com isso, as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) – dinheiro reservado para cobrir os calotes dos clientes – disparou 77,7% na comparação entre o terceiro trimestre de 2025 com o mesmo período do ano passado, passando de R$ 10,08 bilhões para R$ 17,92 bilhões. Na comparação trimestral, as provisões do Banco do Brasil avançaram 12,7%.
Conforme as próprias projeções da companhia, a PDD do quarto trimestre deve ficar entre R$ 15 bilhões e R$ 18 bilhões, encerrando o ano no intervalo de R$ 59 bilhões a R$ 62 bilhões no acumulado de 2025. Segundo a Genial Investimentos, esses números mostram que a pressão sobre as provisões deve persistir no curto prazo, mas o investidor pode encontrar um certo alívio.
“A revisão reforça que o terceiro trimestre de 2025 marcou provavelmente o ponto mais fraco do ciclo, com expectativa de recuperação gradual a partir do quarto trimestre de 2025 — porém, em ritmo mais lento do que o inicialmente previsto”, disseram Eduardo Nishio, Luis Degaspari e Bernardo Noel, que assinam o relatório da Genial.
Os analistas da XP Investimentos dizem que apesar de esperarem um quarto trimestre melhor que o terceiro trimestre, a administração ainda prevê provisões elevadas em outubro de 2025. “Dito isso, o primeiro trimestre de 2026 deve ser importante para entendermos se as decisões que o banco vem tomando em relação às novas safras resultaram em melhorias na qualidade de crédito”, pontuam Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, que assinam o relatório da XP.
O que fazer com as ações do Banco do Brasil?
O consenso entre os quatro analistas consultados pela reportagem é unânime: ainda não é o momento de comprar ações e os dividendos do Banco do Brasil devem seguir deteriorados. Humberto Aillon, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), diz que as revisões no lucro devem pressionar ainda mais os dividendos.
Segundo ele, a companhia reduziu suas perspectivas de lucro entre 15% e 19%, o que também deve gerar um volume em dividendo menor.
“Acredito que terá uma redução no dividend yield do banco, especialmente pela deterioração do lucro líquido, então minha expectativa é de algo em torno de 6,5% para os próximos 12 meses”, diz Aillon.
Já os analistas do Safra comentam que o rendimento dos dividendos do Banco do Brasil devem cair do patamar de 11,6% em 2024 para 4,1% em 2025. Para 2026, o rendimento deve ir para 4,5%. Os especialistas comentam que a alta recente de 24% das ações do BB está atrelada ao bom desempenho do Ibovespa e não a boas perspectivas para a companhia.
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“Diversos indicadores de qualidade de ativos deterioraram-se no trimestre, como a inadimplência de curto prazo e carteira rural renovada. A carteira de empréstimos individuais continua contaminada pela exposição rural, reforçando nossas preocupações”, explicam Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre.
O Safra tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 23 para os próximos 12 meses, alta de 1% na comparação com o fechamento de quarta-feira (12), quando a ação encerrou o pregão a R$ 22,80. A XP Investimentos tem recomendação neutra, os analistas enxergam que a companhia tem um longo caminho pela frente.
“Embora vejamos as ações BBAS3 negociando a múltiplos aparentemente atrativos, a combinação de recuperação lenta, baixa rentabilidade e dividendos modestos nos leva a manter a classificação neutra enquanto aguardamos sinais mais claros de melhora” concluem Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães.
Já a Genial diz que recuperação estrutural dependerá da capacidade do BB de renegociar, sanear e limpar a carteira rural, cujos efeitos se estendem às carteiras de pessoas jurídicas e pessoas físicas. Segundo a corretora, esse é o movimento que pode destravar valor a partir de 2026, especialmente com o suporte da Medida Provisória (MP) 1.314, que introduz mecanismos de alongamento e recomposição do crédito rural.
“Esperamos que as ações reajam negativamente no curto prazo, refletindo o resultado fraco e a revisão para baixo do guidance. Ainda assim, o BB permanece negociando a múltiplos bastante descontados”, afirmam Eduardo Nishio, Luis Degaspari e Bernardo Noel.
A corretora recomenda manter o papel na carteira (nem comprar e nem vender) com preço-alvo de R$ 24,00 para os próximos 12 meses, alta de 5,26% na comparação com último fechamento. A Ativa Investimentos também tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 23,00, avanço de 1% em relação ao último fechamento. O analista teme que situação das provisões, revistas no guidance, se deteriore, por um período além do previsto pela companhia.
“Ainda assim, vemos risco de que esse ajuste se estenda por 2026. Enquanto inadimplência e provisões seguem em patamar elevado, mantemos visão neutra, considerando que o desconto frente ao valor patrimonial segue justificado”, explica Ilan Arbetman, que assina o relatório da Ativa.
De modo geral, o balanço foi visto pelos analistas como fraco e a revisão do guidance foi a maior decepção do mercado, até mesmo para aqueles que não acreditavam na projeção anterior, como o Safra. As perspectivas futuras para o Banco do Brasil (BBAS3) são incertas, com dividendos baixos e provisões galopantes. A Genial Investimentos acredita que o fundo do poço foi atingido neste trimestre, o que a XP e Ativa discordam. Sendo assim, as casas de análise recomendam cautela e muito cuidado com qualquer movimentação com o ativo, pois o caminho pela frente é incerto e longo.