Proposta de compra do Master pelo BRB gerou polêmica no mercado. (Foto: Adobe Stock)
A reprovação da venda do Banco Master para o Banco de Brasília (BRB) (BSLI3) pelo Banco Central (BC) dá um recado claro para o mercado: a autoridade monetária adota uma postura técnica em suas decisões, disseram analistas ouvidos pelo E-Investidor, que enxergam o episódio como positivo do ponto de vista regulatório do sistema financeiro. Foram pouco mais de cinco meses de análise até o veto da operação, feito na noite da quarta-feira (3).
Para Gabriel Mollo, analista de investimentos do Banco Daycoval, a recusa do Banco Central mostra que o órgão regulador continua técnico. Ele diz que o Banco Master possui “sérios problemas” em relação aos seus ativos, principalmente em função de precatórios com vencimentos incertos e baixa liquidez, gerando uma dificuldade em precificar os ativos da empresa.
Determinar o valor real de todos os ativos do banco é uma tarefa árdua e complicada. Por esse motivo, o Banco Central foi correto em não autorizar a venda. A notícia não deve repercutir mal no mercado, visto que ela é positiva para o sistema como um todo, afirma Mollo.
Para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, a reação inicial tende a ser de cautela. Segundo ele, o mercado esperava que a operação trouxesse maior estabilidade para o Banco Master, já que a associação com o BRB poderia reforçar a governança e reduzir riscos ligados ao modelo de captação agressivo.
Ainda assim, ele comenta que se houver uma reação negativa no mercado, ela seria muito limitada à ação do BRB. O mercado já havia precificado a venda do Master para o banco estatal, por isso, as ações da empresa acumulam alta de 44% desde o anúncio da negociação. Ou seja, o investidor que possui o papel da empresa pode ver uma forte queda do ativo a partir de agora.
“As ações do BRB podem sofrer volatilidade no curto prazo, principalmente por investidores que contavam com a sinergia e a expansão previstas no negócio. O impacto mais amplo sobre o Ibovespa, no entanto, tende a ser pequeno, dado que se trata de uma operação restrita a dois bancos de porte médio”, explica.
Na manhã desta quinta-feira, por volta das 11h30, as ações BSLI3 recuavam 11,76% na Bolsa de Valores.
Quais são os riscos para o setor bancário com a recusa da venda do Master para o BRB?
Adilson Bolico, sócio da Mortari Bolico advogados, vê pouco risco para o setor bancário com a resposta negativa do Banco Central para essa transação específica. Ele reforça que, embora o Master tenha um tamanho considerável, o sistema financeiro brasileiro é muito maior e está sólido neste momento.
“A medida do Banco Central é ótima do ponto de vista regulatório. Houve rumores de uma tentativa de interferência política para o BC aprovar a compra. No entanto, o posicionamento do BC foi técnico e reforçou a solidez da autoridade monetária e do sistema financeiro brasileiro”, diz Bolico.
Gustavo Assis, da Asset Bank, reforça que o setor bancário brasileiro é altamente capitalizado e supervisionado. Segundo ele, os grandes bancos estão apresentando balanços sólidos e boa gestão, afastando qualquer risco sobre as ações dessas empresas.
Na visão de Assis, pode surgir um temor localizado sobre instituições que adotam estratégias de captação mais agressivas, como a do Master. “Isso levanta discussões sobre solvência, sustentabilidade de modelos de negócios baseados em taxas muito acima da média de mercado e dependência da proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O risco que recai sobre o setor hoje é mais de reputação e percepção de confiança do que de quebra em cadeia”, explica Assis.
Risco político também entra na conta
Gabriel Mollo, analista de investimentos do Banco Daycoval, explica ainda que sua maior preocupação diante dessa situação são as negociações no Congresso. O temor ocorre devido ao projeto que dá permissão aos parlamentares para demitir e indicar os diretores do Banco Central.
“Há uma atuação de lobistas no Congresso para furar a autonomia do Banco Central e esse é o fator mais preocupante dessa história. Se o Congresso aprovar essa medida seria um sério risco para a autonomia do BC, que tem sido positiva para o mercado e a economia geral”, explica Mollo.
O que dizem Master e BRB sobre o veto?
Em nota, o Banco Master disse que aguarda ter acesso à íntegra do documento para avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis sobre a decisão do Banco Central a respeito da negociação com o BRB. “O banco continua confiante na sua estratégia e na sua operação, que fizeram com que se destacasse num mercado altamente concentrado”, afirma a companhia.
O BRB reforçou que apresentou solicitação de acesso à íntegra da decisão, com o objetivo de avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas. “O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional”.
O que o investidor deve fazer após a proibição da venda do Master?
André Matos, CEO da MA7 Negócios, diz que o investidor deve manter a calma. Para ele, esse é um caso isolado, específico, e não representa um risco sistêmico. Segundo ele, os acionistas e detentores dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de grandes bancos, com boa governança e capitalização sólida, não têm motivos para se preocupar.
“Para quem está exposto a bancos menores, o momento é de rever exposição, respeitar os limites do FGC de R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. O mercado já vinha precificando parte desse risco, então o investidor precisa focar em fundamento e qualidade dos ativos. O susto passa, o que fica é a lição de prudência e análise criteriosa”, argumenta Matos.
Gustavo Assis, da Asset Bank, diz que para os investidores que possuem ações do BRB, é importante analisar a estratégia de expansão que será adotada a partir de agora. Já para as pessoas que investem no setor bancário de forma mais ampla, a indicação é observar que a recusa não altera a solidez dessas companhias.
“A recomendação, neste momento, é manter a diversificação da carteira e não superdimensionar o impacto de um episódio que, embora relevante, não muda os fundamentos do sistema financeiro brasileiro”, explica Assis.
Sendo assim, o investidor deve entender que o veto à venda do Banco Master é positivo para o sistema. O melhor no momento é manter a cautela com diversificação dos ativos, visto que o sortimento dos aportes melhora a proteção para qualquer intempérie no mercado.