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- Em entrevista para a Harper’s Bazaar, a cantora americana Beyoncé revelou que faz uso da maconha para uso terapêutico e inclusive está investindo em uma fazenda para o cultivo da cannabis
- A declaração da cantora, aliada à presença de Kamala Harris no governo, pode estimular a procura por ações de cannabis, especialmente nos Estados Unidos
- Além do cenário político favorável com a maioria de democratas no Senado, a reclassificação da ONU que retira a cannabis da lista de drogas mais perigosas, e a legalização no México, acendem ainda mais as expectativas dos investidores para o mercado
Em entrevista recente à revista americana Harper’s Bazaar, a cantora Beyoncé revelou que faz uso terapêutico da maconha e inclusive está investindo em uma fazenda para o cultivo da cannabis. Os produtos à base de canabidiol (CBD), substrato extraído da planta, são utilizados pela cantora para ajudar em casos de dor e estresse.
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Investimentos em cannabis não são novidade na família Knowles-Carter: o marido da cantora, o rapper Jay-Z, já é um dos maiores produtores da cannabis na Califórnia. O fato é que a declaração de Beyoncé, aliada à presença de Kamala Harris no governo, pode estimular a procura por ações de cannabis, especialmente nos Estados Unidos.
Beyoncé é considerada uma das mulheres mais influentes do mundo – no Instagram são 199 milhões de seguidores e no Twitter são 15,9 milhões – e é bastante ativa no cenário político dos Estados Unidos. Além disso, ela cantou na cerimônia de posse do democrata Barack Obama (2009-2012), e repetiu o show no segundo mandato (2012-2016).
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De posição nitidamente democrata, a declaração da cantora pode tornar o ambiente ainda mais propício à legalização da cannabis nos EUA, podendo destravar um mercado bilionário.
Além do cenário político favorável com a maioria de democratas no Senado, a reclassificação da ONU que retira a cannabis da lista de drogas mais perigosas, e a legalização no México, acendem ainda mais as expectativas dos investidores para o mercado. “O atual cenário político nos Estados Unidos é mais favorável com a maioria dos democratas ocupando as cadeiras do Senado. A expectativa é que haja uma disposição maior para legalizar”, comenta o analista da Empiricus, Enzo Pacheco.
Legislações
Existem dois projetos de lei tramitando no congresso americano que podem beneficiar e destravar a indústria de cannabis nos Estados Unidos. Um deles é o MORE Act, que trata da descriminalização da cannabis. A relatora do projeto é Kamala Harris, atual vice-presidente do país. Em 2019, Kamala escreveu em seu Twitter que já era hora de legalizar a cannabis a nível federal.
It’s time to legalize marijuana at the federal level. https://t.co/Y1elBavbVK
— Kamala Harris (@KamalaHarris) July 27, 2019
Nos Estados Unidos, a maconha não é legalizada em nível federal. Por lá, os 50 estados têm autonomia para decidir sobre o uso da erva e atualmente ela já é permitida em 36 deles. Devido ao cenário, as empresas americanas de cannabis que atuam diretamente na produção, fabricação e comercialização de produtos, não podem negociar suas ações no país. Essas companhias estão listadas, em sua maioria, nas bolsas canadenses, país onde a cannabis é legalizada federalmente.
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No entanto, a lei não permite que grandes agentes do mercado financeiro invistam fora dos Estados Unidos. Dessa forma, os grandes investidores – institucionais, fundos de investimento e os bancos – não podem investir nessas empresas americanas, ocasionando uma perda de bilhões de dólares que poderiam ser injetados nesse mercado.
Mas esse cenário está perto de mudar e para os analistas é apenas uma questão de tempo. “Hoje o que está em jogo não é mais se vai ser legalizada, mas quando”, diz George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo. Isso porque o país conta com o apoio da maioria: cerca de 68% da população americana é favorável à legalização. Só para termos de comparação, em 1972 esse percentual era de menos de 12%, de acordo com dados fornecidos pela Gallup.
O outro projeto de lei que promete destravar o mercado financeiro da cannabis é o SAFE Act, que trata da abertura do sistema bancário. Segundo Pacheco, as compras relacionadas à cannabis não podem ser transacionadas via serviços bancários das instituições federais sem que pese sanções. “Como é ilegal a nível federal, os grandes bancos evitam negócios com essas empresas. As transações são via dinheiro vivo ou no máximo cartão de débito”, explica Pacheco.
A lei também vai permitir que os empresários ligados aos negócios de cannabis consigam crédito e outros serviços junto às instituições bancárias. “Se aprovada, a lei tem potencial de grande valorização para o setor”, avalia.
Por que investir?
De novembro de 2020 até o início do ano, o índice NAMMAR (North American Marijuana) chegou a valorizar 150%, impulsionado pela eleição de Joe Biden e pela vice-presidente Kamala Harris. O caso das GameStop também ajudaram a inflar esse índice no início do ano.
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Embora o índice NAMMAR agora acumule quedas superiores a 20% nos últimos três meses, as expectativas de crescimento do mercado de cannabis e o atual cenário político nos Estados Unidos são bastante favoráveis aos investidores que pensam em ganhos de longo prazo. “É um setor com forte crescimento contratado para os próximos anos. O investidor tem possibilidade de ganhar dinheiro, mas tem que ter consciência que é um investimento de longo prazo, de três a cinco anos”, aponta Pacheco.
O mercado de cannabis pode chegar a valer US$ 104 bilhões até 2024, segundo estimativas da Prohibition Partners, empresa que estuda e analisa dados sobre o mercado de cannabis no mundo. As projeções do Banco Montreal aumentam esse valor para US$ 194 bilhões em 2026. E as projeções podem ser ainda maiores se nos próximos anos se a legalização evoluir em outros países. Atualmente, a cannabis é legalizada para fins terapêuticos em 50 países, inclusive o Brasil, que entrou nessa lista em 2014.
Segundo dados da Empiricus contidos no relatório CannaBiden, em cinco anos a The Supreme Cannabis Co. gerou ganhos de 161.900% ao investidor, a Maple Leaf Green World mais de 7,500% em quatro anos, a 22nd Century Group mais de 3.000% em um ano e quatro meses, a Endexx mais de 32.000% em um ano, a Surna Inc mais de 4.386% em cinco meses, e a Axim Biotechnologies mais de 8.948% em quatro meses.
De acordo com os cálculos da Empiricus, se o investidor tivesse alocado cerca de US$ 100 em cada um desses papéis – US$ 600 no total – o retorno teria sido de mais de US$ 218 mil, o que corresponde a R$ 1,1 milhão. Se o investimento fosse maior, de US$ 1 mil, o retorno seria de US$ 2,1 milhões, cerca de R$ 11 milhões.
Como investir
No Brasil, existem alguns fundos para os investidores interessados neste ativo. A Vitreo foi pioneira no mercado brasileiro a oferecer exposição aos ativos de cannabis. A fintech possui duas soluções: o Vitreo Canabidiol, voltado para investidores qualificados com patrimônio de R$ 1 milhão, com taxa de administração de 0,9% ao ano. E o Vitreo Ativo, voltado para o público em geral, com taxa de administração de 0,72% ao ano. Ambos com tíquete mínimo de entrada de R$ 100.
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George conta que os fundos possuem empresas atuantes em diversos segmentos com atividades atreladas à indústria de cannabis, desde empresa de cultivo legal, passando pelas farmacêuticas, até empresas de cosméticos. “O mercado de cannabis é bastante volátil. São fundos de risco e devem fazer parte de uma parcela pequena na carteira dos investidores. Mas, o interessante é que está em plena ebulição”, comenta Wachsmann.
Em pouco mais de dois anos, contando desde o início da operação dos fundos em 2019, o Vitreo Canabidiol soma uma rentabilidade de 53,01% para os seus 8,5 mil cotistas, e o Canabis Ativo acumula 14,38% de rentabilidade para os 13 mil cotistas.
A XP também fornece uma solução: o Trend Cannabis FIM. O fundo está disponível para investidores em geral com aplicação mínima de R$ 100. A taxa de administração do fundo é de 0,5% ao ano e não há cobrança da taxa de performance. As companhias com maior peso do fundo são Aurora Cannabis, GW Pharmaceuticals e Cronos Group.
No Brasil
No Brasil, a pauta da cannabis para fins medicinais também tem evoluído. Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não classifica a cannabis sativa como medicamento, mas autoriza a importação destes medicamentos via receita médica. O órgão regulador aprovou, em dezembro de 2019, a venda de medicamentos à base de maconha em farmácias e drogarias e a fabricação de medicamentos, com a ressalva de que os insumos sejam importados, mas o plantio da erva não teve sua aprovação.
O Projeto de Lei 399/15 tenta regulamentar o plantio para fins medicinais e a comercialização desses medicamentos. Em junho deste ano, o PL foi aprovado pela comissão especial da Câmara dos Deputados com 17 votos a favor e 17 contra. O projeto aguarda deliberação do recurso na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
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No Brasil, estima-se que mais de 20 mil pessoas usam maconha medicinal para tratamentos médicos, de acordo com o relatório da Empiricus.
A HempMeds, subsidiária da empresa de capital aberto Medical Marijuana, Inc, atua no Brasil desde 2015 via importação e prescrições médicas. No ano passado, a companhia anunciou ao mercado que planejava a abertura de capital na B3. Os planos, no entanto, não vingaram.
“Uma abertura de mercado no país ainda é muito sensível. No momento, outros projetos foram priorizados dentro da empresa – como a ampliação de médicos prescritores – antes de pensarmos em um IPO”, diz Matheus Patelli, diretor executivo da HempMeds no Brasil. No entanto, a abertura de capital não é descartada no longo prazo.