Marcelo Noronha é o CEO do Bradesco (Foto: Bradesco/Divulgação)
As ações do Bradesco(BBDC4) hoje caem após a companhia divulgar seus resultados dentro do esperado pelo mercado. Ontem, o banco reportou lucro líquido recorrente de R$ 6,2 bilhões no terceiro trimestre de 2025 (3T25), aumento de 18,8% em doze meses.
Por volta das 13h20 desta quinta-feira (30), as ações BBDC4 recuavam 2,50%, a R$ 18,36, enquanto as BBDC3 caíam 2,56%, a R$ 15,59.
Em entrevista coletiva com jornalistas nesta quinta-feira (30), o CEO da companhia, Marcelo Noronha, comentou que a queda de hoje das ações na Bolsa de Valores mostra um ajuste técnico e que os planos da companhia seguem como o esperado.
“Nas vésperas da divulgação do resultado a ação subiu mais de 3% e no ano, o ativo cresce cerca de 70%. Desse modo, não temos nenhuma preocupação, porque mesmo que a ação caia 3% ou 4% não é o retrato do balanço operacional. É um ajuste natural em função dessa valorização”, explica Noronha.
Os papéis do Bradesco acumulam alta de 58% (BBDC3) e 71% (BBDC4) em 2025.
Os analistas do Safra concordam com o executivo e dizem que a queda de hoje reflete uma forte alta das ações do ano após grandes expectativas sobre a recuperação da empresa, que continua dentro do prometido pelos executivos: no passo a passo. Segundo os analistas Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre, os números vieram na maioria em linha com as estimativas da própria casa.
Os destaques do balanço do Bradesco do 3T25
No balanço do 3T25, o Bradesco reportou disparada de 20,1% nas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), que chegaram a R$ 8,56 bilhões no terceiro trimestre de 2025. Segundo o executivo, a alta acontece em meio ao crescimento na carteira de cartão de crédito. Noronha explica que os bancos devem fazer provisões para perda esperada em vez de aguardar a confirmação do calote. Com isso, há um aumento da provisão, que pode ser revista caso não se materialize.
“Quando concedo mais limite de cartão de crédito, mesmo que ele não tenha usado, mas esteja o limite concedido, eu faço mais provisão para perda esperada. Por isso há esse aumento”, diz o executivo.
Na visão da XP Investimentos, a altana PDD está dentro do esperado. Os analistas, inclusive, dizem que o principal destaque foi a estabilidade da inadimplênciaacima de 90 dias, que ficou em 4,1%, melhor que o esperado. Além disso, a corretora reforça que as despesas operacionais aumentaram moderadamente, mantendo o Índice de Eficiência próximo a 50%.
Em resumo, os especialistas dizem que o Bradesco continua a consolidação da rentabilidadee melhorar a qualidade dos ativos, confirmando progresso consistente em seu turnaround(processo de recuperação do valor do ativo) e alinhamento com o guidance (metas) para 2025. “A recuperação permanece gradual, mas o banco parece ter alcançado uma nova base de normalização dos lucros”, afirmam Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, que assinam o relatório da XP.
Para os analistas do Citi, o Bradesco reportou resultados sólidos no terceiro trimestre de 2025, sustentados por melhora operacional e disciplina de custos, ainda que o ritmo de avanço em lucratividade mostre sinais de perda de fôlego.
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O Bradesco apresentou rentabilidade medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) de 14,7%, avanço de 2,3 pontos porcentuais na comparação com o mesmo período do ano passado. O Citi elogia o ROE do 3T25. No entanto, a alta trimestral de 0,1 ponto porcentual mostra que o crescimento da rentabilidade começa a esfriar, limitada pelo nível elevado de despesas.
Postura cautelosa no crescimento da carteira
Em relatório do Citi, os analistas Gustavo Schroden, Brian Flores e Arnon Shirazi destacam que, nas principais linhas de receita do Bradesco, a margem com clientes avançou 0,2 ponto porcentual no trimestre, para 9,0%, impulsionada por “melhor mix e spreads” nos passivos.
O resultado com juros ajustado ao risco (NII, na sigla em inglês) voltou a crescer, indicando, segundo o Citi, ganho de tração das receitas orgânicas. As tarifas tiveram incremento, mas foram ofuscadas pelos gastos, elevando a relação custo/receita no período. No braço de seguros, o ROE chegou a 22,4%, acima dos 21,4% dos três meses anteriores.
Sem alterar o guidance, o Bradesco continua a privilegiar linhas com garantias, refletindo postura cautelosa no crescimento da carteira.
Para o Citi, a instituição está bem posicionada, mas dependerá cada vez mais de uma retomada mais forte da economia para elevar a rentabilidade. “Com as oportunidades de ganho de margem já colhidas, reduzir despesas operacionais será chave para avanços mais expressivos do ROE”, diz o Citi.
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Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, o E-Investidor questionou Noronha sobre a possibilidade de maior redução de despesas para elevar a rentabilidade da companhia. Segundo o executivo, o Bradesco vem trabalhando para reduzir despesas operacionais. Porém, não deve sacrificar investimentos para isso.
“Se aparecer uma oportunidade de aumentar a despesa em R$ 1 bilhão para ganhar R$ 2 bilhões, nós vamos fazer”, afirmou Noronha.
Banco confirma guidance de 2025
Para o fechamento de 2025, o banco reforçou a manutenção de suas projeções, entre elas o crescimento da carteira de crédito entre 4% e 8%. No entanto, a companhia está com um crescimento de 9,6% da carteira de crédito, acima do projetado. Questionado pelo E-Investidor se a empresa deve cortar a concessão de crédito para ter um crescimento menor da carteira no quarto trimestre e ficar dentro do guidance, o executivo confirmou a tese.
“Vamos ficar com crescimento da carteira de crédito entre 7% e 8%, mais para 7% do que para 8%. Manteremos o apetite ao risco moderado, com índices de inadimplência, carteiras e safras absolutamente sob controle. Com isso, a carteira de crédito terá crescimento equilibrado, com prioridade ao retorno ajustado ao risco”, afirmou o executivo.
O que esperar das ações do Bradesco?
A XP Investimentos tem recomendação neutra para o Bradesco com preço-alvo de R$ 17,00 para o fim de 2025, queda de 9,7% na comparação com o fechamento de quarta-feira (29). “Reafirmamos nossa recomendação neutra, pois sustentar ROE acima de 15% com custo de crédito estável será fundamental para uma reavaliação positiva em meio a um cenário macroeconômico ainda desafiador”, reforçam os analistas da XP.
Já o Safra tem recomendação outperform(equivalente à compra) para as ações do Bradesco. O preço-alvo se encontra em R$ 21, representando um potencial de valorização de 12% ante o fechamento do papel no pregão de ontem. A Genial Investimentos vai na mesma linha e recomenda compra com preço-alvo de R$ 21,90, possível crescimento de 17,4% na comparação com a cotação do último fechamento da Bolsa.
“O valuation (valor do ativo) permanece atrativo, com o papel negociando a 8 vezes o múltiplo Preço sobre Lucro (P/L) estimado para 2025. Além de 6,0 vezes o P/L estimado para 2026“, dizem Eduardo Nishio, Luis Degaspari e Bernardo Noel, que assinam o relatório da Genial.
O mercado esperava continuidade no forte crescimento do balanço do Bradesco e precificou tal expectativa nos ativos. No entanto, os números dentro do esperado diminuíram o otimismo dos analistas e as ações do Bradesco (BBDC4) hoje caem.