Mercado

Bruno Funchal é nomeado Secretário do Tesouro. O que o mercado espera da posse

Especialistas comentam as expectativas com a nova gestão

Bruno Funchal é nomeado Secretário do Tesouro. O que o mercado espera da posse
Imagem cedida pelo Ministério da Economia - Foto: Edu Andrade/ASCOM/ME
  • Bruno Funchal tem uma trajetória positiva no controle de contas públicas, além de um histórico profissional acadêmico
  • Cargo é essencial para garantir o controle das contas públicas e transparência em relação à situação fiscal do País
  • Especialistas estão satisfeitos com indicação "técnica" para o cargo. A nomeação transmite confiança para o investidor estrangeiro e pode estimular a entrada de recursos no País

A nomeação oficial do economista Bruno Funchal para o comando da secretaria do Tesouro Nacional foi publicada nesta quarta-feira (15) no Diário Oficial da União (DOU). Com a saída de Mansueto Almeida, Funchal se torna responsável por funções sensíveis, como controlar o déficit público, executar as contas e fazer projeções, negociar com estados e municípios e fazer a distribuição da despesa orçamentária entre ministérios.

“É um cargo essencial e totalmente ligado à área fiscal”, explica Danilo Luna, consultor da Ivest. “Uma má gestão refletiria nas empresas brasileiras, já que nossa trajetória fiscal seria pior e as condições econômicas do País também ficariam piores. Poderia influenciar, inclusive, na própria trajetória dos juros brasileiros.”

Formado em economia pela Universidade Federal Fluminense e doutor pela Fundação Getúlio Vargas, Funchal já foi secretário da Fazenda do Espírito Santo entre 2017 e 2018 – quando o estado foi o único a receber nota máxima em relação à capacidade de pagamento de dívidas. O economista também atuou por mais de 10 anos como professor na FUCAPE Business School e, desde janeiro de 2019, trabalhava como diretor de programas no Ministério da Economia.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

A indicação de Bruno Funchal foi feita pelo próprio antecessor, Mansueto Almeida, em conjunto com Paulo Guedes. Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, o novo nome indica uma continuidade nos trabalhos de controle fiscal que já vinham sendo executados no Tesouro Nacional e que eram bem vistos pelo mercado financeiro.

  • Danilo Luna, consultor da Ivest

“Eu vejo como um bom nome, já que o próprio Mansueto, que é uma das pessoas que mais entende de contas públicas no Brasil, endossou o nome dele. Realmente uma indicação técnica. Além disso, Funchal sempre foi um acadêmico na sua trajetória profissional e isso faz com que ele tenha um perfil comunicador que pode agregar muito para o diálogo com os estados. O desafio agora é grande, já que temos um déficit público enorme e o novo secretário vai ter que trabalhar bastante nos bastidores para fazer articulações, cumprir o teto de gastos, que é uma das coisas críticas do atual Governo, e ajudar na elaboração de políticas públicas.

O investidor estrangeiro e local olham muito para a situação fiscal do País para entender se é confiável e tem uma trajetória fiscal saudável. Quando você tem um País com um histórico fiscal turbulento, isso afasta os investidores, já que eles buscam o máximo de previsibilidade nas aplicações. Ou seja, se o nome não agrada o mercado, isso acabaria gerando desconfiança no investidor estrangeiro e, consequentemente, desestimularia a colocação de recursos no País.

É um cargo sensível, que dá sinalização para o mercado. Uma má gestão refletiria nas empresas brasileiras, já que nossa trajetória fiscal seria pior e as condições econômicas do País também ficariam piores. Poderia influenciar, inclusive, na trajetória dos juros brasileiros. O investidor pessoa física sentiria esse impacto indiretamente, mesmo que não soubesse avaliar.”

  • João Beck, especialista em investimentos e sócio da BRA

“Foi uma boa escolha. O Funchal tem título, conhecimento teórico e um bom histórico. A atuação dele à frente da Secretaria da Fazenda do Espírito Santo foi exemplar. Manteve o Espírito Santo como o único estado avaliado com nota A no Tesouro Nacional com relação a capacidade de pagamento de dívidas.

Por ser um profissional técnico com passagem em órgão público, sem envolvimento em cargo político, é algo positivo aos olhos do mercado. É importante que ele seja uma pessoa alheia à política e que tenha um alinhamento com o ministro Guedes.

Um profissional técnico à frente dos gastos públicos, ainda mais nesse momento de pandemia, é acreditar que uma racionalidade maior deve ser tomada nas decisões. Acredito que isso traga sim um contexto favorável dentro de mercado que já tem instabilidade política.

Publicidade

Em relação aos investimentos, o fato de ser uma pessoa que transmite pragmatismo, faz com que o mercado confie na boa gestão do orçamento público. Com isso, diversas variáveis podem se manter comportadas, como câmbio, inflação e taxas de juros. E mais: com bom ambiente econômico podemos atrair investimentos internos e externos para o setor produtivo no Brasil.”

  • Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset

“Não tenho absolutamente nenhuma preocupação com a indicação do Bruno Funchal. O novo secretário é do grupamento da Fazenda, tem um conhecimento técnico enorme apesar da juventude, além de ser da linha fiscalista, do próprio Mansueto.

O que Mansueta tinha, que o Bruno ainda não tem, é essa comunicação com o mercado bem desenhada, mas isso é questão de tempo. O Funchal também é conhecido e as pessoas sabem da linha que ele segue. Então o novo nome não é ‘ponto de virada’, ele dá continuidade, o que é positivo.

O cenário é desafiador e vai ser uma escola monstruosa para ele. O fato de ser uma pessoa que se comunica bem,  também pode ser uma vantagem com o Congresso.”

  • Pedro Paulo Silveira, economista-chefe de Nova Futura Investimentos

“O Mansueto teve uma experiência muito positiva no Tesouro Nacional com o mercado financeiro. Como existia uma visão positiva da sociedade e dos investidores, fazer uma troca não é agradável. Mas o próprio Bruno Funchal já teve uma aprovação quando exerceu o cargo como secretário de estado do Espírito Santo. Então o mercado já o conhece e isso mitiga os potenciais problemas que poderiam ocorrer no caso dessa troca.

Ele vai assumir e não deve enfrentar uma situação traumática, porque é um nome técnico. Se não fosse, levaria à desconfiança do mercado.”

  • Étore Sanchez, economista-chefe de Ativa Investimentos

“Uma indicação ruim poderia afetar a gestão da dívida que já existe. Se uma empresa está rodando bem e você coloca uma pessoa incompetente ali, fica mais difícil a gestão e a perspectiva de que a instituição continuará funcionando. Mas não é esse o caso.

Funchal é um profissional gabaritado e que já teve experiências de sucesso em gestão de governo. A minha expectativa é boa, dado esse histórico dele, e a indicação de que ele deve manter o trabalho do Mansueto em relação aos aspectos fiscais. Outra coisa positiva é que ele já trabalhava no ministério da economia, portanto, o cargo não vai gerar um choque de relacionamento com a equipe. Foi realmente uma escolha muito boa.”

Publicidade

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos