O que este conteúdo fez por você?
- O BTG afirma que tornou-se "cada vez mais difícil" separar a retórica do governo das ameaças reais à independência da Petrobras e traçou diferentes cenários para possíveis interferências
Por Gabriel Vasconcelos – O BTG Pactual informou nesta terça-feira (31), em relatório a investidores, que tornou-se “cada vez mais difícil” separar a retórica do governo das ameaças reais à independência da Petrobras e traçou diferentes cenários para possíveis interferências.
Leia também
Com o barril de Brent a US$ 120 – faixa da qual não deve se afastar no médio prazo, segundo as casas de análise -, o BTG estima que intervenções na política de preços da estatal ou em seu papel nas importações levariam a uma perda de Ebtida, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, entre US$ 6 bilhões e US$ 7,5 bilhões para cada 10% de diferença ante os preços internacionais.
A perda relativa ao pagamento de dividendos ficaria entre US$ 3,6 bilhões e US$ 4,5 bilhões para cada 10% de defasagem.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Segundo o documento, assinado pelos analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, “até recentemente” o BTG Pactual acreditava que o mercado tinha aprendido a lidar com os ruídos políticos em torno dos preços dos combustíveis, o que minimizaria impactos sobre o desempenho de mercado da Petrobras. Entretanto, “depois de mais uma mudança de CEO e queda de 7% no preço das ações desde quinta-feira” a percepção de risco dos investidores aumentou e há dúvidas crescentes sobre o impacto da escalada de atritos entre União e Petrobras no balanço financeiro da companhia.
No primeiro cenário traçado, a estatal não aumenta ativamente importações de diesel e gasolina para garantir abastecimento, subsidiando esse processo, mas segue, como nos últimos meses, comercializando combustível com preços defasados ante os preços de paridade internacional.
Com o Brent a US$ 120 e o dólar a R$ 5, o BTG Pactual estima que, para cada 10% ou US$ 15 de desconto no preço do barril de diesel e gasolina praticado no mercado internacional, a Petrobras “deixaria na mesa” US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões) de seu potencial lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida) no ano.
“Isso significa que para cada desconto de US$ 15/boe, a Petrobras abre mão de US$ 3,6 bilhões em potencial pagamento de dividendos”, estimam os analistas do BTG Pactual Pedro Soares e Thiago Duarte.
Publicidade
Mantidas as premissas, em um segundo cenário em que a Petrobras voltaria à posição de “importadora chave” do volume necessário de combustível para abastecer o país, não mais dividindo a função com importadores privados. Então, assumiria, de fato, um prejuízo oriundo da defasagem entre o preço de importação e o preço praticado no Brasil. Nesse caso, a perda de Ebtida saltaria a US$ 7,5 bilhões e a redução de dividendos chegaria a US$ 4,5 bilhões para cada US$ 15 de defasagem no preço do barril de derivado.
Soares e Duarte anotam que, nos últimos 12 meses, o Brasil consumiu uma média diária de 508 mil barris de gasolina e 971 mil barris de diesel, enquanto produzia 447 mil e 751 mil barris diários de cada combustível, 88% da demanda de gasolina e 77% da demanda de diesel respectivamente.
“Supondo que toda a diferença seja suprida por importações, que todas as importações de combustíveis sejam feitas pela Petrobras por um ano e o preço do Brent fique em US$ US$ 120, então o prejuízo incorrido pela empresa totalizaria US$ 1,5 bilhão para cada US$ 15/boe de desconto nos preços domésticos para IPP, ou menos US$ 0,92 bilhão em dividendos. Caso adicionemos isso ao cenário 1, estimamos uma perda total de Ebtida de US$ 7,5 bilhões e redução de dividendos de US$ 4,5 bilhões para cada desconto de US$ 15/boe para o preço de paridade internacional, significando um rendimento de 5,5%”, escrevem os analistas.
Para os analistas do BTG Pactual, em função do cenário doméstico e da cotação internacional do petróleo, o valor das ações da Petrobras seguirá volátil até outubro. Ainda assim, eles afirmam que um subsídio direto financiado pela companhia aos combustíveis não é provável e nem fácil de implementar. “Mas acreditamos que as chances aumentaram”, afirmam no relatório.
Publicidade