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- Se o governo norte-americano não pagar sua dívida, os efeitos podem ser desastrosos, ameaçando minar o papel dos Estados Unidos no centro das finanças globais
- Os investidores estão cientes dos riscos e, fora do mercado de ações, há sinais de cautela ganhando terreno
Se o governo norte-americano não pagar sua dívida, os efeitos podem ser desastrosos, ameaçando minar o papel dos Estados Unidos no centro das finanças globais e levar sua economia à recessão. Mas depois que o governo atingiu seu limite de endividamento e se aproxima o dia em que ficará sem dinheiro para pagar as contas, o mercado de ações não está mostrando sinais de pânico. O S&P 500 subiu mais de 8% no ano.
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Isso porque, simplificando, os investidores em ações encaram uma escolha com duas possibilidades: ou os legisladores fazem um acordo no último minuto para aumentar o teto da dívida do país, como aconteceu no passado, ou a nação não cumpre suas obrigações, com consequências possivelmente catastróficas que são difíceis para os investidores compreender, quanto mais para refletir no preço das ações.
O dia exato em que o governo ficará sem dinheiro, conhecido como “data x”, é desconhecido, o que também complica as decisões de negociação para os investidores. Poderia ser tão logo quanto o dia 1º de junho, de acordo com comentários recentes da secretária do Tesouro, Janet Yellen.
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“O que vocês estão vendo é uma perspectiva consensual de que não ultrapassaremos a data X”, disse Ralph Axel, estrategista de taxas de juros do Bank of America. “No momento, esse continua sendo um evento de baixa probabilidade que é difícil de se precificar.”
Entretanto, se o governo ficar sem dinheiro, contanto que outras soluções alternativas falhem, os efeitos de um calote da dívida atingiriam uma economia que já está “batendo na porta da recessão”, disse Paul Christopher, chefe de estratégia de investimento global do Wells Fargo Investment Institute.
“A gente fica com a dúvida: eles vão dar calote ou não?”, disse Christopher. “Eles resolveram isso todas as vezes no passado, então essa é a melhor aposta, mas se isso não acontecer dessa vez, então, fique atento, pode ser uma surpresa muito desagradável.”
A situação semelhante mais próxima do atual impasse foi a estratégia arriscada em relação ao teto da dívida em agosto de 2011. Em julho, o S&P 500 foi negociado perto de sua máxima daquele ano. No entanto, na sexta-feira, 5 de agosto, quando a S&P rebaixou a classificação de crédito do país, o índice caiu mais de 10%. Na segunda-feira seguinte, ele tinha caído mais de 16% em relação ao seu pico em julho.
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Os investidores estão cientes dos riscos de uma repetição e, fora do mercado de ações, há sinais de cautela ganhando terreno. Os investidores já recuaram em ter títulos da dívida do governo com vencimento na época em que se espera que o país fique sem dinheiro.
Na semana passada, o Departamento do Tesouro pediu dinheiro emprestado por quatro semanas a uma taxa de juros de quase 6%, bem acima do que pagou recentemente por empréstimos por períodos muito mais longos, refletindo a apreensão dos investidores em relação ao que poderia acontecer perto da data X.
O preço de se defender contra o governo não pagar suas dívidas, usando contratos de derivativos chamados credit default swaps, também ficou mais alto, sugerindo uma probabilidade cada vez maior de calote.
O ouro subiu mais de 10% nos últimos dois meses, alta atribuída em parte aos investidores em busca da segurança do metal precioso, que deve manter o seu valor durante as instabilidades no mercado. É difícil separar parte dessa atividade de trading das preocupações mais amplas em relação à economia, principalmente após a série de problemas bancários recentes, pois muitos investidores já posicionaram suas carteiras na defensiva.
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Entretanto, até mesmo os investidores em ações começaram a proteger suas apostas, comprando derivativos que geram rendimentos em caso de uma queda repentina no mercado nos próximos meses.
Stuart Kaiser, analista de ações do Citigroup, disse que também tem respondido a perguntas de investidores sobre quais partes do mercado são mais dependentes dos recursos financeiros do governo, como as ações dos serviços de saúde e da Defesa. Essas empresas podem ficar com contas pendentes em caso de calote ou enfrentar cortes de verbas futuros como parte de um acordo negociado em Washington.
“As pessoas estão tirando a poeira do manual de estratégias de 2011 e preparando melhores ofertas para 2023”, disse ele./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA