- O dólar americano é uma das principais divisas globais.
- Trata-se de um ativo para o qual o investidor “corre” durante períodos de incerteza
O dólar americano é uma das principais divisas globais, sendo um ativo para o qual o investidor “corre” em busca de proteção durante períodos de incerteza. Porém, em 2023 ele cai 7,20% frente ao real, no acumulado do ano. O câmbio tem sido influenciado pela inflação americana, cujo Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de dezembro aponta para uma alta de 3,1%, um volume atípico para os padrões do Tio Sam.
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A pressão externa também vem da Ásia, com a China reportando crescimento de 4,9% no terceiro trimestre de 2023, quando o país registrou um Produto Interno Bruto (PIB) de 91,3 trilhões de iuanes (cerca de US$ 12,7 trilhões), ficando aquém das expectativas.
Por conta disso, a S&P reduziu a previsão de crescimento do PIB da China em 2023 de 5,2% para 4,8%. De igual modo, o Banco Mundial reduziu o crescimento do PIB da China para 4,4% em 2024, frente aos 4,8% de antes.
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O Brasil, por sua vez, reportou uma alta de 0,1% no PIB do terceiro trimestre frente ao segundo trimestre de 2023, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora o número seja baixo, a expectativa era de queda. A autarquia informou, em 5 de dezembro, que o PIB atingiu novamente o ponto mais alto da série histórica, operando 7,2% acima do nível pré-pandemia registrado no quarto trimestre de 2019.
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O head de solutions da EQI Corretora, Alexandre Viotto, lembra que o dólar começou o ano cotado em R$ 5,28, e está encerrando 2023 em patamares de R$ 4,90. “Isso fez dele um dos piores investimentos do período”, diz.
O especialista explica que um dos principais motivos para a queda foi uma “surpresa positiva” com o novo governo, que se mostrou mais austero do que se esperava. Além disso, o diferencial de juros entre Brasil e outros pares no exterior se manteve alto, o que atraiu capital estrangeiro para o País.
“Por fim, commodities que fazem parte relevante da nossa pauta de exportações, tal como petróleo e minério de ferro, tiveram um ano de fortes altas no mercado internacional”, destaca. Com isso, o resultado foi real para cima e dólar para baixo.
O que esperar do dólar em 2024?
Viotto afirma que em 2024 o Brasil seguirá dependendo da evolução das contas públicas frente à própria austeridade do governo federal. No exterior, elenca que o investidor deve se ater aos movimentos do Federal Reserve (Fed, banco central americano), pois este sinalizou queda nos juros para os próximos meses.
Ou seja, estes dois elementos – governo brasileiro e banco americano – ajudam a fazer preço no dólar, bem como o movimento das commodities. O “imponderável” também deve entrar no radar, ressalta o analista, mencionando conflitos militares e a própria eleição presidencial nos EUA, em 2024.
“Na minha opinião, a tendência é de leve alta, com o dólar operando muito mais próximo de R$ 5,30 do que de R$ 4,50, e isso já a partir do segundo trimestre de 2024”, indica.
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Já Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio, também enxerga o cenário político e econômico nos EUA, marcado por desafios relacionados ao crescimento da dívida e problemas orçamentários, contribuindo para a desvalorização do dólar em 2023.
A confirmação de que os bancos centrais dos EUA e da Europa não elevaram mais suas taxas de juros neste ano teve um impacto significativo, retirando a atratividade de investimentos nessas regiões. “Isso ocorreu à medida que o mercado começou a precificar um início de ciclo de cortes, previsto para o primeiro semestre de 2024”, frisa.
Para ele, o Banco Central do Brasil (BC) desempenhou um papel crucial na melhoria das expectativas econômicas, adotando uma abordagem técnica. Com a saída prevista do presidente Roberto Campos Neto, em 2024, permanece a incerteza sobre se seu sucessor manterá o compromisso de resistir às pressões políticas.
“Para o próximo ano, continuaremos atentos a questões macroeconômicas, incluindo desdobramentos políticos e econômicos locais e externos”, diz. Segundo Costa, a Argentina como terceiro maior parceiro comercial do Brasil e com as novas propostas do presidente Javier Milei, também deve ser monitorada.
Além disso, indica que a reação da inflação diante da postura mais suave (dovish) dos bancos centrais mundiais e as implicações geopolíticas de conflitos como o da guerra entre Israel e Palestina, permanecem como riscos imponderáveis no curto prazo.