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“Magalu (MGLU3) vai sobreviver à crise no varejo”, diz Felipe Miranda

O CEO do Grupo Empiricus falou sobre o que esperar dos mercados em 2024 e das recentes mudanças no grupo

“Magalu (MGLU3) vai sobreviver à crise no varejo”, diz Felipe Miranda
Felipe Miranda é CEO e co-fundador do Grupo Empiricus (Foto: Empiricus)
O que este conteúdo fez por você?
  • Para Felipe Miranda, o preço das ações da Magazine Luiza (MGLU3) ainda está em patamar elevado e não reflete a sua capacidade operacional
  • O CEO da Empiricus acrescenta ainda que a empresa deve perder espaço para players importantes, como Mercado Livre e Amazon
  • Mesmo com os desafios, ele enxerga que a Magalu deve encontrar o seu nicho de mercado por ter qualidades que a tornam bastante competitiva

As ações do Magazine Luiza (MGLU3) continuam resistentes ao ambiente econômico que ainda permanece hostil para o setor do varejo. Os eventos de inconsistência contábeis, resultados trimestrais fracos e pedidos de recuperação judicial não foram suficientes para pôr em dúvidas o futuro do Magalu. Pelo contrário, nesta reta final de 2023, período em que coincide com o quarto corte da taxa Selic, as ações acumulam uma valorização de 29,21% no acumulado de dezembro.

O desempenho do papel compactua com a percepção de Felipe Miranda, CEO do Grupo Empiricus, sobre a empresa. Segundo ele, mesmo com as turbulências no varejo em 2023, o Magalu deve sobreviver a mais esta crise e encontrar o seu nicho de mercado.

“O Magalu começou a apresentar uma melhora sequencial dos seus resultados. Tem um management espetacular. Possui uma tecnologia e uma inteligência de e-commerce muito grande e um relacionamento bancário muito forte com o Itaú por meio da Luisa Credit”, afirma Miranda.

Mas as qualidades listadas pelo CEO da Empiricus não serão suficientes para garantir uma guinada no desempenho do papel para os próximos meses. Segundo Miranda, o preço da ação ainda está acima da sua realidade operacional e a perspectiva é que a empresa perca espaço no mercado para outros concorrentes relevantes, como o Mercado Livre e Amazon.

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”A empresa vai continuar existindo. Vai sobrar um pedaço do mercado para o Magazine Luiza por ter virtudes que a credenciam para ser um dos players relevantes”, ressalta.

Os bons ventos favoráveis para a Bolsa brasileira em 2024 também devem evitar que o Magazine Luiza (MGLU3) tenha o mesmo desfecho de outras companhias do setor. De acordo com o especialista, apenas os investidores estrangeiros estão posicionados no mercado de ações do Brasil e a perspectiva de queda dos juros nos Estados Unidos a partir do próximo ano pode garantir a recuperação dos ativos locais.

“Tradicionalmente, os ciclos de queda de juros implicam na valorização de ações. Os fundos de investimentos estão sublocados em Bolsa e apenas o investidor gringo está posicionado”, afirma. Mas a construção desse cenário favorável só deve se materializar se o mercado não for surpreendido com o campo fiscal. “Não devemos cumprir a meta fiscal de 2024, o que é ruim, mas não é trágico”, ressalta. “Então, estamos dentro de uma normalidade”.

Ao E-Investidor, Felipe Miranda também falou sobre a decisão da Empiricus em deixar de ser corretora para atuar apenas como casa de análise. A mudança trata-se de uma estratégia de ampliar a sinergia do Grupo com o banco BTG Pactual. Veja a entrevista completa abaixo:

E-Investidor — O Ibovespa encerrou novembro com a maior alta no acumulado mensal em três anos. O desempenho é um sinal de que a Bolsa pode decolar em 2024?

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Felipe Miranda — Não acho que seja a performance de novembro que nos permite achar isso. A economia e o mercado são cíclicos. Então, em março de 2020 (início da pandemia da covid-19), os bancos centrais cortaram o juro e injetaram todo o dinheiro que poderiam na economia, mas essa conta chegou. O Banco Central começou a subir a taxa de juros e essa “ressaca” (da política monetária expansionista) acabou. Eu não sei se os investidores têm dimensão, mas o ciclo que vivemos de julho de 2021 até agora foi de completa destruição. As ações que eram vistas de qualidade caíram 50% a 60% por causa da alta dos juros.

Quando os juros subiram, as ações de maior risco caíram bastante. No momento em que os juros começaram a cair, os papéis subiram bastante. A economia dos Estados Unidos começou a desacelerar mais fortemente. Então, os juros do Treasury de 10 anos estavam em 5,05% e caíram para 4,20%. Com isso, começamos a ter a expectativa do Federal Reserve (FED), banco central norte-americano, de cortar os juros em 2024. O BC brasileiro deve continuar com os cortes na Selic. Por isso, acho que teremos um ano (2024) ainda mais positivo. Começamos um novo ciclo econômico, mas com cautela. Não teremos uma “farra” como a de novembro, mas teremos um cenário favorável.

Então, pode-se dizer que estamos iniciando um período de bull market (mercado em alta)?

Formalmente, sim! O “bull market” tem uma taxonomia objetiva que trata-se de um mercado que sobe mais de 20% desde a sua última mínima. Então, a resposta objetiva é sim. Agora, talvez, o que as pessoas estejam pensando é que, se a alta vista agora (em novembro), tem espaço para ser ainda maior. Na minha avaliação, acho que há sim. Vivemos um ciclo muito ruim desde julho de 2021 até agora e seria natural que vivêssemos um período oposto. A Bolsa brasileira está mais barata do que a sua média histórica. Tradicionalmente, os ciclos de queda de juros implicam na valorização de ações. Os fundos de investimentos estão sublocados em Bolsa e apenas o investidor gringo está posicionado. Tudo isso indica um ciclo favorável positivo mais sustentável.

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Qual é o fator que pode influenciar com mais força na performance do Ibovespa: o campo fiscal ou fim do ciclo de alta de juros nos EUA?

Se o Brasil estivesse com o fiscal explodindo, os juros nos Estados Unidos poderiam até ir para zero, mas a Bolsa brasileira iria performar mal. Ao mesmo tempo que, se você tivesse um fiscal razoável com juros explodindo lá fora, a Bolsa também ia ficar ruim. Mas o Brasil já tem um novo arcabouço fiscal. Não devemos cumprir a meta fiscal de 2024, o que é ruim mas não é trágico, e devemos voltar a discutir o cenário fiscal no Brasil em 2026. Então, estamos dentro de uma normalidade e, em comparação a outros países emergentes, estamos em uma situação razoável. Por isso, avalio que os juros dos Estados Unidos vão ser preponderantes se não tivermos uma surpresa no campo fiscal.

Com esse cenário, quais são as ações que você avalia que o investidor deve manter no radar em 2024?

Não acho que o investidor precise adicionar riscos de mais na sua carteira para ter um retorno muito bom. Não vejo motivo para o investidor se posicionar em empresas muito alavancadas. Isso não significa que não possa subir. Podemos subir, mas oferecem um risco muito elevado. Eu acho que o valuation de algumas ações brasileiras consideradas de qualidade ainda estão muito atrativas. Nós (da Empiricus) fizemos essa opção neste ano e foi uma estratégia que deu super certo. Compramos as ações da Localiza (RENT3), Equatorial Energia (EQTL3), Banco BTG Pactual (BPAC11) e Arezzo (ARZZ3). São nomes de muita qualidade porque são empresas líderes dos seus setores, com um nível de risco controlado e com potencial de subir em torno de 30%.

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O ano de 2023 foi bastante difícil para o Varejo com os casos da Americanas, Marisa e Casas Bahia. Na sua avaliação, há esperança para o setor em 2024?

Quando falamos em varejo, há um espectro muito amplo. Tem muita coisa aqui dentro desse setor e precisamos qualificar cada evento. O caso da Americanas foi uma fraude. A Via Varejo é um negócio, na minha avaliação, que não volta mais. Já a Magalu é uma ótima empresa e vai sobreviver, no meu entendimento. O Mercado Livre foi super bem. Foi um grande vencedor deste ano e as ações estão refletindo isso. Vivara e Track & Field foram super bem também em 2023. Às vezes, nos apegamos a algumas ações mais histriônicas e perdemos os cases mais silenciosos.

Quais são as razões para o seu otimismo com o Magalu?

O caso da Americanas foi um problema incontornável. Já o Grupo Casas Bahia criou um problema de uma dívida muito grande. Acho até que o novo management é bem intencionado e tem um plano correto. Só que quando se reduz a companhia, pode até ter uma boa rentabilidade, mas a dívida continua a mesma e do mesmo tamanho.

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O Magalu começou a apresentar uma melhora sequencial de resultados. Tem um management espetacular. Possui uma tecnologia e uma inteligência de e-commerce muito grande. Possui um relacionamento bancário com o Itaú muito forte por meio da Luisa Credit. Acho as ações caras para o que a empresa gera operacionalmente. Vejo também que deve perder market share para o Mercado Livre e Amazon. Mas a empresa vai continuar existindo. Vai sobrar um pedaço do mercado para o Magazine Luiza por ter virtudes que a credenciam para ser um dos players relevantes. A questão é que a ação deveria cair mais para refletir a realidade operacional.

O governo apertou o cerco na Petrobras. Houve até boatos de uma possível substituição de Prates. Esses movimentos tornaram o papel menos atrativo?

Quando olho para a Petrobras, vejo uma empresa com um corpo técnico fantástico, com uma geração de caixa gigantesca, com dividendos muito interessantes e com um nível de valuation bacana. Agora, temos um problema com a Petrobras. Não temos como saber as intenções reais da União e o que vai ser feito com a Petrobras. Quando você ver o Rui Costa (ministro chefe da Casa Civil) discutindo com Jean Paul Prates (CEO da Petrobras) não sabemos o que pode resultar. Pode ser apenas um ruído, mas não consigo definir se a discussão é apenas uma troca de farpas natural.

Não cabe ao analista financeiro de investimentos conseguir antecipar, por mais que ele tente, movimentos que não são econômicos e financeiros. Quer dizer que nunca devo comprar estatais? Não, eu compro estatal, mas em momentos que tenho um pouco mais de visibilidade e tranquilidade. Não acho que esse seja o caso. Então, não cabe ao investidor capturar todas as oportunidades que existem. Ainda que as ações possam subir, eu não vejo conforto necessário para comprá-las.

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A Empiricus fechou a corretora e voltou a ser somente casa análise. Como esse movimento foi decidido?

O fechamento da corretora é mais um movimento natural de captura de sinergias entre nós e o BTG, na direção da alavancagem operacional. A decisão foi tomada pensando sobretudo no cliente, que passa a ter agora o serviço de corretagem da plataforma do BTG, o maior banco de investimento da América Latina. Sem essa atividade, podemos voltar o foco total à análise que é e sempre foi o nosso core business. Além disso, o research pode servir mais direta e efetivamente a todo BTG Digital. A decisão já se reflete no aumento do número de assinantes em novembro, quando iniciamos o tombamento dos clientes pro banco e o research cresceu 3% a sua base, retomando o patamar de 370 mil assinantes.

Quais as perspectivas para a Empiricus a partir de agora?

Seguimos com o negócio de análise de investimento como principal atividade. As ideias originadas nos relatórios também permanecem sendo perseguidas na Empiricus Gestão. Além disso, poderemos acessar de forma mais eficiente a base de clientes do BTG. Estamos muito otimistas com o próximo ano. Temos um research muito diferenciado, o maior da América Latina, e todo setor deve se beneficiar de uma maior procura por ativos de risco com os juros caindo.

Qual vai ser o seu papel na companhia diante dessa nova configuração?

Na prática, muda pouco. No papel, assino como estrategista-chefe da equipe de análise e co-CEO do Grupo Empiricus.

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