O mês de julho marca o retorno do capital estrangeiro na Bolsa pela primeira vez em 2024, com entrada de R$ 5,37 bilhões até a última quarta-feira (26), último dado disponível. A proximidade de um afrouxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) e a oferta de privatização da Sabesp (SBSP3) foram os principais impulsionadores de capital externo, segundo profissionais do mercado ouvidos pelo Broadcast. O tom mais brando do governo brasileiro em relação à política fiscal também ajudou.
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Assim, 2024 caminha para ter o melhor desempenho para o mês de julho na série histórica compilada pelo Broadcast desde 2007. Contudo, o movimento ainda está distante de apagar as saídas de R$ 34,33 bilhões de capital externo no acumulado do ano até junho. “Dado que a probabilidade é de um corte de juro nos Estados Unidos em setembro, é natural que o investidor estrangeiro comece a alocar em mercados emergentes em geral, não só no Brasil. Por isso vemos entrada líquida, após seis meses no negativo”, afirma o CEO da Eleven Financial Research, Raphael Figueredo.
Para Figueredo, outro fator que chamou a atenção em julho foi a captação da Sabesp. “Foi recorde no nosso mercado. A oferta da Sabesp ajudou a entrada de capital estrangeiro via mercado secundário”, afirma. Segundo documentos a que o Broadcast teve acesso, a oferta da companhia de saneamento básico teve demanda de R$ 187 bilhões, com estrangeiros respondendo por cerca de 53% deste montante, com R$ 96,5 bilhões.
Na mesma linha, o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, diz que a participação do investidor estrangeiro na Sabesp foi razoável, com a oferta de privatização sendo um dos fatores “one-off” (não recorrente) que ajudaram a impulsionar a entrada de capital externo.
Capital estrangeiro e o voto de confiança no governo
Para o sócio da One Investimentos Pedro Moreira, o ingresso de estrangeiro na B3 este mês também tem relação com a trégua do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à política monetária brasileira. Além disso, acrescenta que o sinal fiscal recente trouxe certo ânimo aos investidores. O governo anunciou um congelamento de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano e a intenção de cortar R$ 25,9 bilhões no ano que vem, ambos com respaldo de Lula. “Isso animou um pouco mais o local, mas o estrangeiro ainda não voltou com tudo”, diz Moreira.
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Borsoi considera que, na margem, o risco fiscal está um pouco melhor por causa da moderação de tom do governo Lula nas últimas semanas. “Acho que a disparada do dólar a R$ 5,70 convenceu o governo a voltar atrás e moderar o discurso, o que ajudou a reduzir os prêmios de risco”, afirma, ponderando que o Relatório Bimestral de Despesas e Receitas, que trouxe a contenção de R$ 15 bilhões, ainda demonstra uma relação fiscal “ruim”, com dificuldade no resultado primário.
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Figueredo, da Eleven, diz que não relaciona a entrada de estrangeiro na B3 com a questão fiscal, porque “medidas fiscais são mais a longo prazo”. Assim, “fluxo de verdade, para valer mesmo será só com corte dos juros pelo Fed”, completa Moreira, da One Investimentos.
Promoção de ações para os gringos
Outro ponto que justifica parte da entrada de capital estrangeiro na Bolsa em julho é o fato de algumas ações estarem com preços atrativos, destaca o CEO da Melver, Raony Rossetti. “Algumas empresas estão tão ‘amassadas’ que o investidor estrangeiro aproveita para comprar papéis de companhias do Brasil, que está em uma situação menos desfavorável entre os emergentes”, opina.