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Caso 123milhas pode afetar ações de Azul (AZUL4), Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3)? Entenda

Empresa de turismo não conseguiu honrar com a compra das passagens no momento em que as viagens deveriam ocorrer

Caso 123milhas pode afetar ações de Azul (AZUL4), Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3)? Entenda
Avião da Azul, uma das principais companhias aéreas brasileiras. Foto: Fabio Motta/Estadão
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  • A crise da 123milhas pode impactar as aéreas, mas de um jeito que o mercado não espera: positivamente
  • A companhia suspendeu a emissão e vendas de voos promocionais de setembro a dezembro de 2023. Segundo especialistas, o motivo foi porque ela não consegue arcar com o custo das passagens, que estão caras
  • Apesar AZUL4 e GOLL4 poderem ser beneficiadas, analistas dizem que é muito cedo para mensurar o impacto nas ações e que tudo vai depender do volume de clientes prejudicados na 123milhas

O que começou com a Hurb em meados de abril, agora chegou à 123milhas. Na sexta-feira (18), a empresa anunciou que irá suspender temporariamente os pacotes com datas flexíveis e a emissão de passagens promocionais. Para os amantes de viagens, as notícias não são as melhores, o que faz com que eles fiquem atentos ao segmento.

Quem entra no jogo são as companhias aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), listadas na Bolsa de Valores brasileira. Ao fechamento da sessão desta terça-feira (22), registravam altas de 2,04% e 0,92%, cotadas a R$ 16,01 e R$ 7,68, respectivamente.

Para entender a relação dessas companhias com a crise da 123milhas, os analistas ouvidos pelo E-Investidor explicam que o produto, chamado Promo123, oferecia passagens aéreas sem data definida, a preços muito abaixo do mercado. Durante a pandemia, houve a compra de muitos desses voos que iriam ocorrer neste ano.

Contudo, a empresa não conseguiu honrar com a compra das passagens no momento em que as viagens deveriam ocorrer. Por conta disso, anunciou o reembolso desses valores no formato de vouchers para clientes que pretendiam viajar entre setembro e dezembro de 2023. Neste sentido, Gustavo Cruz, estrategista da RB, cita que as aéreas podem ser impactadas, mas transformando a crise em oportunidade.

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“Qualquer tipo de susto, pode impactar as empresas. Mas se a 123milhas tiver reservado esses voos com possibilidade de cancelamento, o que pode acontecer é as aéreas pegarem as passagens canceladas e fazerem disso uma oportunidade de venda. Essa demanda [que pode surgir pelos cancelamentos] me parece que pode ser recuperada”, comenta Gustavo Cruz, estrategista da RB.

Mercado tem cautela

Apesar de Azul e Gol apresentarem altas, com a primeira avançando mais de 2% nesta terça, Guilherme Ammirabile, assessor na iHUB Investimentos, escritório associado a XP, diz que ainda está cedo para mensurar o impacto nas ações e no mercado como um todo, mas o investidor deve acompanhar de perto.

Já Rodney Ribeiro, assessor de investimentos na WIT Invest, pontua que o mercado está “bem receoso com a crise”. Contudo, ele enfatiza que o problema decorrente da 123milhas não é um número significativo a ponto de afetar o setor como um todo. “Esta parte promocional que está sendo suspensa pode não afetar significativamente o setor de turismo, uma vez que, segundo a própria 123milhas, esse produto corresponde a 7% dos embarques das companhias”, diz.

O especialista afirma que as ações das empresas aéreas podem ser impactadas em um primeiro momento por uma questão mais de um comportamento do consumidor, no sentido de querer ver até onde o problema tem alcance. Mas enfatiza que o que mais afeta as empresas aéreas é o chamado “custo Brasil (combustível, tributação e infraestrutura)”.

Segundo Ribeiro, ao analisar o desempenho dos últimos dois a três meses de Gol e Azul, as aéreas apresentam uma constante na Bolsa, com uma volatilidade relativamente baixa, ante o que viveu durante a pandemia: -10,31% para Azul e +10.03% do dia 1º de junho até esta terça (22). Para ele, a oscilação ocorre muito mais por perspectivas macroeconômicas “do que pelo fator da 123milhas”.

Outros possíveis impactos

O terreno negativo para 123milhas e Hurb pode se tornar algo positivo para as respectivas companhias por outro fator, além da janela de oportunidade para a revenda das passagens. Segundo Ammirabile, o movimento pode acontecer porque clientes da 123milhas receberão os valores investidos integralmente em “vouchers acrescidos de correção monetária de 150% do CDI, acima da inflação e dos juros de mercado”, como informou a própria empresa.

Assim, eles poderão, em uma hipótese, comprar novas passagens em voos nacionais. “Por exemplo, ano passado eu paguei R$ 3 mil em uma passagem para viajar para os Estados Unidos. Hoje a passagem custa R$ 5 mil, ou seja, a empresa não consegue pagar para mim essa passagem. Por conta disso, eles estão reembolsando via voucher. Só que com esse crédito não é possível comprar uma passagem para o mesmo destino”, conta Ammirabile.

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Visto isso, ele analisa que o que pode acontecer é que os clientes que compraram passagens internacionais, como o valor não é o suficiente para adquirir os mesmos bilhetes, elas podem migrar para viagens nacionais. Com isso, as aéreas brasileiras podem se beneficiar com os voos domésticos.

“Isso só é possível se os clientes aceitarem esse voucher. Se ninguém aceitar e processarem a 123milhas, isso pode contaminar o mercado e as companhias aéreas podem ser prejudicadas. Mas não acho que isso vá acontecer”, comenta o especialista.

O movimento também pode beneficiar outra empresa além das aéreas. Como destaca Ammirabile, Hurb e 123milhas “roubaram” os clientes de CVC (CVCB3), que atua no mesmo nicho de pacotes de viagens. Com uma crise de desconfiança instaurada, os clientes podem voltar a utilizar a agência de viagens tradicional. “CVC pode herdar alguns clientes de 123milhas”, diz o especialista. A companhia fechou a sessão desta terça-feira (22) com um avanço de 1,60% cotada a R$ 2,54.

Por que 123milhas precisou suspender os voos?

Cruz pontua que o problema que a 123milhas enfrenta são os preços das passagens caros, por conta de alguns direcionadores. O primeiro deles diz respeito ao mercado acreditar que a normalização do setor de turismo seria mais estável. Mas foi observado uma demanda superaquecida no turismo, o que fez os preços subirem.

Além disso, há uma tentativa de recuperar o prejuízo que as aéreas sofreram na pandemia, o que também pressionou as tarifas aéreas para cima. No passado, a 123milhas apostou que na época da compra das passagens os valores estariam mais acessíveis, por ser baixa temporada. A previsão, contudo, não ocorreu. “O problema é que até a baixa temporada está cheia”, completa, citando que o número de voos e a oferta de assentos ainda está em ritmo lento, o que também força os preços.

Ribeiro também acrescenta que “as contas não fecham” por conta do alto custo inflacionário, que vem prejudicando o setor de turismo como um todo. “Preço de combustível, hospedagem e alimentação, são impactados por conta de toda uma situação global”, afirma.

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