Mercado

O que impede o Ibovespa deslanchar na reabertura da China?

Incertezas permeiam a retomada mais forte da economia do país asiático que deverão segurar a Bolsa brasileira

O que impede o Ibovespa deslanchar na reabertura da China?
A reabertura da China deve ser insuficiente para empolgar os mercados, especialmente emergentes como o Brasil,. Foto: Envato Elements
  • No limite, estima Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, o Ibovespa pode descer aos 100 mil pontos, mas retornar rápido
  • Segundo ele, em meio a ruídos de pânico ou de euforia, acaba voltando para a faixa dos 108 mil pontos. "Não dá para projetar lucros crescentes", pondera

A reabertura da China deve ser insuficiente para empolgar os mercados, especialmente emergentes como o Brasil, que têm o gigante asiático como um dos principais parceiros comerciais. A percepção de analistas ouvidos pelo Broadcast é que alguns investidores foram com “muita sede ao pote”, estimulados por uma expectativa de retomada pujante da economia chinesa, que ainda não aconteceu.

O processo ocorre lentamente e rodeado de incertezas, em meio ao excesso de estoque de aço. Ainda no exterior, há questionamentos sobre o ponto de chegada dos juros nos Estados Unidos. Além disso, incertezas locais entram como fatores que podem inibir ou mesmo provocar uma deterioração dos ativos domésticos, como o Ibovespa. O investidor também se mantém na defensiva à espera de novidades a respeito do arcabouço fiscal, previsto para março.

No limite, estima Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, o Ibovespa pode descer aos 100 mil pontos, mas retornar rápido. Segundo ele, em meio a ruídos de pânico ou de euforia, acaba voltando para a faixa dos 108 mil pontos. “Não dá para projetar lucros crescentes”, pondera.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Nesse ambiente, Eduardo Telles, especialista em renda variável da Blue3, diz que nem mesmo o fato de o índice Bovespa estar “barato” é suficiente para empolgar o investidor. “Aqui, está com o P/L (preço/lucro) descontado em relação aos índices de Nova York, está com o desvio-padrão abaixo da média. Ainda assim, não tem força para subir tanto quando está inclinado a esse movimento por causa do maior nível de incerteza no campo político”, afirma, acrescentando que há dúvidas se de fato o arcabouço fiscal sairá do papel e, em saindo, se evidenciará compromisso fiscal. Outra questão, cita, é se a relação entre o governo e o Banco Central (BC) melhorou.

Um dos sinais da cautela por parte dos agentes pode ser visto no fluxo de estrangeiros na B3. Tanto no dia 17 (saída de R$ 3,139 bilhões) quanto no dia 22 (saída de R$ 375,891 milhões) foram retirados recursos da Bolsa. Já no dia 23 entraram R$ 501,085 milhões. Ainda assim, o resultado em fevereiro está negativo em R$ 696,499 milhões e aquém da entrada de R$ 30,129 bilhões registrada em fevereiro de 2022.

“Tivemos um momento de fluxo com a China reabrindo, mas isso não se refletiu nos resultados [empresas, nos balanços]. Não há uma demanda forte por lá. Parece que foi só mesmo um fluxo e agora há uma realidade de preços”, analisa Cozzolino, da Levante.

As dúvidas sobre até onde irão os juros nos EUA também agregam cautela, principalmente após o índice de inflação Preço de Gastos com Consumo (PCE, na sigla em inglês) de janeiro do país mostrar força e resiliência. Com isso, voltaram as apostas de aumento de meio ponto porcentual no juro norte-americano e o temor de queda da economia. “Além da China, outro grande tema é a possibilidade de recessão [EUA e Europa], acompanhada de uma política contracionista. E, nos EUA, se fala de uma alta maior dos juros [e mais duradoura]”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Com rali de mais de 60% do minério de ferro nos últimos meses, que levou junto as ações da Vale (VALE3), a expectativa é de ajuste até que se tenham novos motivadores, inclusive da China. “Daqui para frente, parece que o direcionamento será a reabertura chinesa, apesar de isso ser acompanhado de volatilidade. Já falávamos que não seria linear”, acrescenta a estrategista da XP.

Publicidade

O analista Bruno Takeo, da Ouro Preto Investimentos, lembra da estocagem de produtos metálicos antes do feriado do ano novo lunar na China, reduzindo o consumo. Só que após o fim da folga, o mercado esperava ver a redução dos estoques. “Não aconteceu na velocidade esperada e o minério apanhou”, diz Takeo.

“Foi um pouco de tudo [frustração/antecipação da retomada]. Não tem nenhum fato isolado. Foi a tempestade perfeita”, completa Laatus.

Li recorda que a política de Covid zero na China trouxe bons resultados no começo da sua implementação, mas depois o efeito foi diminuindo. “Deve demorar para ver isso refletido nos dados de curto prazo de forma expressiva, já que houve interrupções durante a pandemia [o abre e fecha]. Mas não acredito que voltará a fechar de novo”, finaliza.

“Estamos moderadamente otimistas com a reabertura da China. A demanda chinesa está mais fraca e isso pode não demonstrar uma economia tão forte como o esperado”, avalia Ricardo Carneiro, especialista em commodities e renda variável na Wit Invest.

Outro ponto monitorado pelo mercado é o anúncio de um caso do “mal da vaca louca” no Pará, que levou à suspensão das exportações da carne bovina brasileira para a China. Ainda que o governo estime se tratar de algo isolado e atípico, esse é mais um tema a trazer volatilidade ao Ibovespa.

Publicidade

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos