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- Investidores que quiserem manter esses papéis nas carteiras precisam considerar que as empresas possuem dinâmicas distintas, podendo afetar a performance das ações
- O Banco Central (BC) informou que o Índice de Commodities Brasil (IC -Br) avançou 10,55% em janeiro na comparação com dezembro de 2020, quando o indicador caiu 1,36% em relação a novembro
- No caso do petróleo, afetado em 2020 principalmente pela queda da demanda provocada pela redução de mobilidade, o momento é também de recuperação de preço
Se a pandemia afetou o mercado de commodities em 2020, analistas acreditam que neste ano as perspectivas são animadoras para as ações de empresas que produzem matérias-primas, sobretudo destinadas ao mercado externo. Os investidores que querem manter esses papéis na carteira, porém, precisam considerar que as empresas do setor possuem dinâmicas distintas, o que pode afetar a performance das ações.
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Na semana passada, o Banco Central (BC) informou que o Índice de Commodities Brasil (IC -Br) avançou 10,55% em janeiro na comparação com dezembro de 2020, quando a queda foi de 1,36% em relação a novembro. O indicador internacional de commodities, o CRB, cresceu 8,29% em janeiro no cotejo com o mês anterior. O efeito é decorrente da alta nos três segmentos que o compõem: agropecuária (+11,34%), energia (+11,24%) e metal (+7,20%).
Apesar da expectativa de um “boom” das commodities, como se viu nos anos 2000, analistas explicam que as matérias-primas vivem ciclos diferentes, portanto, a escolha de papéis precisa analisar o contexto de forma particular.
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“Enquanto o minério de ferro atingiu o pico e agora está em um momento de acomodação de preços, no caso da celulose há um início de ciclo de alta, com as companhias produtoras passando aumento de preço”, afirma Patrick Conrad, analista de commodities da Western Asset.
No caso do petróleo, afetado em 2020 principalmente pela queda da demanda provocada pela redução de mobilidade, o momento é de recuperação de preço, devido ao início da vacinação contra a covid-19 e a crença de que as economias vão se recuperar, adiciona Conrad.
Ainda assim, há quem faça leitura de um novo salto nas commodities, como se viu em intervalos de tempo diferentes nas últimas duas décadas. Quando a China começou sua ascensão como gigante na produção de ferro na primeira década de 2000, gerando demanda, o Brasil se consolidou como um dos principais exportadores da matéria-prima ao lado da Austrália.
Entre 2002 e 2008, por exemplo, as ações da Vale (VALE3) tiveram um retorno médio anual de 51,07%, como mostra um levantamento da Economática para o E-Investidor (veja o gráfico). Outras commodities foram bem no mesmo período, como Petrobras (PETR4), com retorno médio anual de 57,08%.
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No Brasil, esses papéis enfrentaram um período de lateralização após a crise mundial de 2008 e só voltaram a crescer a partir de 2016. Entre janeiro daquele ano e fevereiro de 2021, a ação VALE3 teve retorno médio anual de 62,42%, e PETR4, de 45,92%.
A JBS (JBSS3), do setor de proteína animal, só teve o IPO realizado em março de 2007. Por isso seu desempenho no primeiro intervalo considerado no levantamento é reduzido na comparação aos outros dois papéis. Mas, entre 2016 e 2021, a ação da exportadora de carnes teve retorno médio anual de 20,31%.
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Expectativa para 2021
A expectativa de retomada econômica global, amparada sobretudo no avanço da vacinação, é positiva e pode beneficiar esses papéis. Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, vê três fatores fundamentais para esse processo: recuperação da demanda, liquidez elevada nos mercados e o nível de oferta.
“No ano passado, algumas commodities acabaram com uma redução da oferta diante da preocupação com os impactos da pandemia. Houve também paradas para manutenção em algumas plantas. Mas agora há uma demanda com potencial de expansão e uma oferta mais equilibrada”, diz França.
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As principais recomendações da Ágora neste setor são: Vale, Petrobras, Suzano (SUZB3) e JBS, com preços-alvos de R$ 120, R$ 38, R$ 89 e R$ 33, respectivamente. Para a corretora, esses papéis ainda estão com preço interessante para o investidor. “Cada uma das empresas, com as suas características, devem entrar em uma dinâmica mais saudável”, afirma França.
No caso da Vale, além do preço do minério de ferro, outro fator que pode pesar no papel no curto prazo é o acordo final com as autoridades de Minas Gerais para reparar os danos causados pela tragédia de Brumadinho. “O investidor não gosta de incertezas. Quando ele tem um número em mente, como esse acordo de R$ 37 bilhões, ele tem uma certeza de qual é o tamanho do passivo da Vale com relação a demandas específicas do Ministério Público”, diz Conrad, da Western.
Para a Petrobras, França destaca que a companhia tem apresentado bom desempenho operacional, com ganho de produtividade e aumento de participação do pré-sal dentro dos resultados consolidados. No caso da Suzano, o analista da Ágora lembra que a ação continua descontando, mas ainda não está precificando o potencial de recuperação nos preços da celulose.
Na outra ponta, no setor de proteína, o cenário é de um ano forte. Por ser um setor essencial, as empresas praticamente não tiveram paralisações em 2020. Contudo, o investidor precisa avaliar caso a caso. “O aumento do preço do milho encarece principalmente a produção do frango. É necessário entender como cada empresa está se posicionando”, diz França.
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No caso da JBS, os especialistas reforçam que ventila no mercado uma discussão sobre o eventual IPO da divisão da companhia nos Estados Unidos, o que poderia destravar valor para a empresa. A BRF (BRFS3), por outro lado, já apresentou um plano agressivo de expansão internacional, de crescimento em outras linhas de negócio, como ração animal.
Tendências para os papéis
O analista Hugo Carone, da Easynvest, mostra em uma análise técnica de tendência que, no ano passado, a ação da Vale era a mais bem avaliada entre os ativos ligados a commodities, devido à uma formação de alta que durou entre 2008 e 2016.
No entanto, a avaliação é que uma nova projeção de alta ainda está muito longe do seu preço-alvo e só deve acontecer ao longo de alguns anos – e não de imediato. “Pelo gráfico semanal, o ativo já chega em uma faixa de preço importante, de R$ 88. Se não sustentar essa faixa no curto prazo, a busca pelos R$ 65,65 seria possível’, diz.
Do ponto de vista da JBS, o analista da Easynvest destaca que o ativo trabalha próximo de uma forte resistência de longo prazo [ponto onde o preço é considerado acima do mercado], na faixa dos R$ 28. Esta resistência não é uma constante, dado à inclinação da reta no gráfico. Por isso, a análise indica que é possível que o papel ultrapasse esta faixa. “A projeção mais otimista para o ativo nos próximos anos estaria em R$ 87, se a situação atual não mudar nos próximos meses”, afirma Carone.
A Petrobras, por sua vez, passou por três crises nos últimos anos e permanece na mesma faixa de preço. A análise da Easynvest, contudo, mostra que a ação pode finalmente romper uma importante faixa de resistência, que está perto da máxima do mês passado, de R$ 32. “Chegando lá, o ativo abriria espaço para uma nova pernada de alta na visão de longo prazo”, diz o analista.
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