Janeiro de 2020 trouxe um sopro de otimismo para a atividade econômica no País. Não só o governo federal, como diversas instituições financeiras, projetavam um crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos 2%. Mas o sinal de alívio foi logo deixado de lado com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, que paralisou o comércio, a indústria e confinou milhares de brasileiros em casa.
Para mapear o impacto do coronavírus na economia, nós observamos o que acontece nos países que sofreram o choque há mais tempo, como a China e a Itália”, diz Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú.
A China, por exemplo, sofreu queda de 60% na atividade econômica em apenas um mês. Mas como houve retomada forte no ritmo de produção, a recuperação pode vir nos próximos dois meses.
Já na Itália, os casos de pessoas infectadas pela doença continuam crescendo, deixando o cenário econômico ainda mais imprevisível. “Também levamos em consideração o tempo que o local está em quarentena”, diz Gonçalves. “No caso do Brasil, calibramos a realidade de acordo com os exemplos e a experiência de outros países.”
Segundo Nelson Marconi, professor de economia da FGV, fazer projeções, na atual conjuntura, é um desafio ainda maior. “As previsões são feitas com modelos estatísticos que ajudam prever o que pode acontecer no futuro da economia”, diz.
Como a crise do coronavírus é uma situação sem precedentes, não existe uma base de dados para comparação, deixando as projeções menos assertivas. “Além de modelos estatísticos, o economista precisa usar a sua experiência”, afirma Marconi.
E quando acontecerá a retomada?
O cenário volátil não impediu as apostas de forte recuperação para o ano que vem. Segundo o Relatório Focus, a publicação semanal do Banco Central, o mercado financeiro projeta uma alta de 2,5% em 2021.
Mais otimista que a média das instituições, o Itaú aposta em um crescimento robusto de 5,5% para o Brasil e de 6,1% para o mundo. Gonçalves explica a perspectiva do banco. “O choque que estamos vivendo é temporário e ficará contido ao primeiro semestre deste ano”, diz.
Se os governos não agirem, o impacto no PIB poderá ser sentido até 2021
Na prática, como há expectativa de que a crise não se prolongue, o efeito comparativo de um período de grande turbulência – como esse primeiro semestre de 2020 – com o mesmo período de 2021, pode dar espaço para impulsionar os números.
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Essa é a mesma visão da consultoria TCP Partners, que espera uma recuperação em “V”, ou seja, uma queda com menos velocidade, seguida de uma recuperação mais acelerada. “O que preocupa é a questão política, falta alinhamento entre o governo federal e os governadores”, afirma Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners.
Na outra ponta, há quem seja mais cético. Para Marconi, da FGV, as estimativas de crescimento rápido para o ano que vem podem ser equivocadas.
“Se os governos não agirem com força na complementação de renda dos trabalhadores e com recursos para que as empresas não quebrem, a crise pode se prolongar”, diz o professor. “O impacto no PIB poderá ser sentido até 2021.”