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- A Alpargatas (ALPA4), dona da Havaianas, passa por um momento turbulento na Bolsa. Pouco antes da divulgação dos resultados do 1º trimestre de 2023, o então CEO, Roberto Funari, renunciou ao cargo
- Os resultados vieram abaixo do esperado, mas uma oferta de ações voluntária proposta pelo controlador animou os investidores
- Entretanto, os analistas consultados pelo E-Investidor continuam céticos com os papéis, que ainda devem sofrer no curto prazo no cenário macro de juros altos
A Alpargatas (ALPA4), dona da Havaianas, passa por um momento turbulento na Bolsa. Depois de quatro anos à frente da companhia, o então CEO, Roberto Funari, renunciou ao cargo no dia 27 de abril – exatamente uma semana antes da divulgação do balanço do primeiro trimestre de 2023.
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No pregão seguinte, as ações subiram 5,11%, aos R$ 7,41, sinalizando, portanto, que a notícia foi bem recebida pelo mercado. Até o fechamento desta terça-feira (23), o papel registra queda de 80% desde o pico de R$ 61,64 atingido em agosto de 2021. Agora, a ação é negociada a R$ 10,25 e a companhia continua a procura de um novo CEO. Por ora, Luiz Fernando Ziegler exerce o cargo interinamente.
“A saída de Funari foi natural. A sensação era de que ele estava desgastado no cargo”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos. A desvalorização dos papéis acontece na esteira da queda nos resultados, que vieram mais fracos que o esperado pelos analistas.
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De janeiro a março deste ano a companhia reportou um prejuízo líquido de R$ 199,5 milhões, revertendo o lucro de R$ 32,9 milhões obtido no mesmo período do ano passado. A receita líquida foi de R$ 902,4 milhões, queda de 2,7% em comparação ao primeiro trimestre de 2022. Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cedeu 62,5% em 12 meses, passando de R$ 168,6 milhões para R$ 62,3 milhões.
O endividamento saltou no período. Empréstimos e financiamentos saíram de R$ 118,5 milhões no primeiro trimestre de 2022 para R$ 1,4 bilhão no mesmo período de 2023, levando a dívida líquida para R$ 890,2 milhões.
E as perspectivas, pelo menos no cenário econômico, devem continuar pesando contra a companhia. Com juros de 13,75% ao ano, a expectativa é que a Alpargatas enfrente dificuldade nas vendas, assim como todo setor de varejo ligado a itens não essenciais e voltado para um público que não consome artigos de luxo. Além disso, a empresa deve lidar com uma alavancagem maior, uma vez que parte da dívida está indexada ao CDI.
“Com taxa de juros altas, a perspectiva não é das melhores”, diz Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira. Essa também é a visão de Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos. “É uma empresa de bens e no momento as pessoas estão preferindo serviços.”
Controlador dobra a aposta
O cenário macro ruim, entretanto, não parece intimidar a família Moreira Salles, controladora da Alpargatas e acionistas de referência de outras empresas, como o Itaú. Na última segunda-feira (22), a MS Alpa Participações, da família, comunicou que deseja realizar uma oferta de ações (OPA) voluntária no valor de R$ 32 milhões.
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Cada ação foi precificada a R$ 10,50 na oferta, um prêmio de 17,2% do preço de fechamento em 19 de maio de 2023, de R$ 8,96, pregão anterior à data da divulgação do edital referente à OPA. Esse preço foi fixado mesmo com o laudo econômico encomendado sobre a companhia apontar que o preço-justo para as ações preferenciais seria de R$ 8,74.
A oferta permanecerá válida pelo prazo de 30 dias contados a partir de 23 de maio de 2023 (primeiro dia útil seguinte à divulgação do edital), encerrando-se em 21 de junho de 2023, data em que será realizado o leilão.
Esta OPA voluntária foi interpretada como uma sinalização de que o controlador possui confiança na recuperação da empresa, o que fez os papéis dispararem 17,41% na última segunda-feira (22). Já na terça-feira (23), a Dynamo Administração de Recursos e a Dynamo Internacional Gestão de Recursos anunciaram aquisição de participação acionária relevante na Alpargatas, de 15,43% das ações preferenciais.
“Os controladores entenderam que a ação estava muito desvalorizada, abaixo do preço-justo. Vale lembrar que são pessoas com visão de muito longo prazo”, afirma Cruz, da RB. Há também uma percepção entre os analistas de que o controlador pode, inclusive, estar preparando caminho para fechar o capital da companhia. “Não ficou esclarecido qual a direção a ser tomada. De qualquer forma, entendo que o mercado interpretou de forma positiva essa OPA porque o controlador é respeitado.”
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Contudo, a realização da oferta também pode diminuir a liquidez das ações – e isto deve estar no radar do investidor. “Se a oferta for totalmente executada, o free float (parcela das ações de uma empresa em livre negociação na Bolsa de Valores) dos papéis será reduzido de 60% a 45%”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos.
Devo seguir os controladores?
Apesar de o controlador estar se movimentando no sentido de aumentar a participação na companhia, a avaliação dos analistas é de que ainda faltam gatilhos positivos para recomendar a compra.
“Basicamente os controladores estão apostando que conseguirão uma reviravolta de resultados, que não dependem só da economia, mas de fatores internos da empresa que não vêm funcionando nos últimos dois anos”, afirma Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research. “Para recomendar, precisaríamos ter mais visibilidade sobre como a reestruturação funcionaria. E a empresa segue sem presidente, tem esse furo na gestão.”
Danniela Eiger, head de Varejo do Research da XP, espera desafios no curto prazo, tanto na operação no Brasil quanto no cenário internacional, com os ajustes de estratégia. “Por isso, temos recomendação neutra no papel.”
O mesmo pensamento é compartilhado por Cruz, da RB Investimentos. “Não temos recomendação, porque dentro de varejo, tem outras empresas mais interessantes e menos dependentes do consumo, como a Soma (SOMA3)”, afirma.
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