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Tanure não é o único investidor interessado na Light, diz BeeCap

Claudio Silveira, cofundador da BeeCap, falou ao E-Investidor sobre a relação entre credores e managament

Tanure não é o único investidor interessado na Light, diz BeeCap
O empresário Nelson Tanure. Foto: TASSO MARCELO/AE
  • Na última sexta-feira (12), a Light (LIGT3) entrou com um pedido de recuperação judicial por meio da holding Light S.A., já que concessionárias de energia são vetadas por lei de utilizarem o recurso
  • Dentro da petição, a empresa cita um forte desacordo com um grupo pequeno, mas de “altíssima belicosidade”, de credores que não teriam aceitado estabelecer negociações via mediação
  • Independentemente do grupo de credores ao qual a empresa se refere, as dificuldades de negociação com a companhia não são recentes

Na última sexta-feira (12), a Light (LIGT3) entrou com um pedido de recuperação judicial por meio da holding Light S.A., já que concessionárias de energia são vetadas por lei de utilizarem o recurso. A solicitação vem 30 dias após uma medida cautelar que estabeleceu uma mediação com os credores e suspendeu obrigações financeiras da companhia, entre elas o pagamento de R$ 6,2 bilhões em debêntures.

Com a RJ, 33 mil investidores pessoas físicas e quase 30 fundos de crédito com cerca de 3 milhões de cotistas podem ser afetados.

Dentro da petição enviada à Justiça, a empresa cita um forte desacordo com um grupo pequeno, mas de “altíssima belicosidade”, de credores que não teriam aceitado estabelecer negociações via mediação – um dos fatores que teria feito a companhia optar pela RJ.

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Independentemente do grupo de credores ao qual a empresa se refere, as dificuldades de negociação com a companhia não são recentes. Claudio Brandão Silveira, sócio da BeeCap, assessoria boutique que representa um grupo de debenturistas que tem em sua posse R$ 5 bilhões em debêntures, entrou em contato com a Light muito antes da cautelar.

“Falei com a companhia algumas vezes. Tanto com o CEO, Octávio Lopes, quanto com o CFO, Eduardo Gotilla, e eles não trouxeram nenhum tipo de informação. Sempre falavam que ainda não estavam prontos”, afirma Silveira. Segundo ele, a recuperação judicial foi um caminho escolhido deliberadamente pela gestão e chancelado pelos acionistas de referência, Ronaldo Cesar Coelho e Carlos Alberto Sicupira. No dia 28 de abril, o plano de remuneração à diretoria foi aprovado em assembleia, com votos favoráveis de Coelho e Sicupira.

De acordo com os credores, a Light pagaria o equivalente a 5% do capital da companhia à diretoria, caso uma série de metas fossem alcançadas. Entre elas, a renovação de concessão e readequação da estrutura capital, critérios questionados pelos debenturistas.

Silveira aponta que Coelho e Sucupira validaram essa estrutura. “Eles alinharam interesses para que se recupere o valor das ações. É muito mais fácil conseguir isso trabalhando para uma perda de valor dos credores do que na dedicação operacional da companhia”, diz.

Ele diz ainda que há interessados tanto na compra da geração da Light quanto em desbancar Sicupira e Coelho da posição de acionistas de referência. Procurada, a Light não respondeu às solicitações do E-Investidor.

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E-Investidor – Antes de entrar com o pedido de recuperação judicial, a empresa havia suspendido as obrigações de pagamento por 30 dias e estabelecido uma mediação com credores. Não houve avanço nas conversas?

Claudio Brandão Silveira – Nós já tínhamos tentado falar com a companhia antes mesmo da cautelar. Eu cheguei a falar tanto com o CEO, Octávio Lopes, quanto com o CFO, Eduardo Gotilla, e eles não trouxeram nenhum tipo de informação. Sempre falavam que ainda não estavam prontos. Depois entraram com essa cautelar, iniciou-se a mediação, alguns agentes foram mediar e a resposta era sempre “não tenho nada para te falar ainda, precisamos de mais tempo”.

Quando chegaram os 30 dias de mediação, sem que eles apresentassem absolutamente nada, era certo que iríamos acordar na sexta com a notícia da recuperação judicial. Hoje, o principal financiador da Light é o mercado de capitais. Dos 11 bilhões de dívida, só R$ 1 bilhão está com bancos. Cerca de R$ 7 bilhões estão com debêntures e R$ 3 bilhões com bondholders. Fazendo isso, a Light machuca o seu principal financiador.

Não há um contrassenso em ignorar os credores para entrar em RJ logo em seguida? 

A RJ é o desenvolvimento de uma estratégia que o management da Light começou a implementar no final de janeiro de 2023, quando contratou o escritório de advocacia Laplace e Galdino & Coelho. Ali o mercado já começou a entender o que viria. Dito isso, os papéis (debêntures) começaram a negociar com um deságio de 70% e os ratings derreteram.

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A empresa optou por uma estratégia heterodoxa. Ou seja, pedir recuperação judicial para a holding que não tem dívida para emular uma recuperação judicial que não poderia ser feita na distribuidora. Isso é uma fraude. A administração tem viés direcionado a tomar dinheiro do credor, em benefício próprio e dos acionistas de referência. No dia 28 de abril, eles obtiveram o direito de comprar até 5% da empresa por R$ 0,01. Muitas pessoas físicas serão afetadas por essa estratégia perversa.

 O Sr. quer dizer que o management forçou essa situação para se beneficiar com a remuneração?

Não foi só isso, mas é todo um contexto. O acionista de referência se alinhou com o management. O Brasil tem um mercado de capitais marcado por dois grandes casos, que são Americanas e Light. Por acaso, essas duas empresas têm um ponto de interseção, que é o acionista de referência Beto Sicupira. Na Light, tanto o Ronaldo Cesar Coelho quanto Beto Sicupira validaram esse management, porque deram a eles a opção de comprar quase 5% da empresa por R$ 0,01. Eles alinharam interesses para recuperar o valor das ações.

Fontes afirmaram ao E-Investidor que há interessados na compra da geração de energia da Light. A venda desta operação é uma opção?  

Há interessados em comprar, mas logicamente não são os credores que determinam essa venda. Dito isso, seria uma atitude responsável da administração iniciar um processo de venda em benefícios da melhoria da estrutura de capital da distribuidora. A Energisa fez isso no passado e vendeu a geração quatro vezes em benefício da melhoria da estrutura de capital e pela responsabilidade da companhia com o credor. A gestão da Light escolhe outro caminho.

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Como o grupo de credores vê a aproximação de Nelson Tanure, o polêmico empresário conhecido por investir em empresas inadimplentes?

Ele não é o único interessado na Light. Já conversamos com outros grupos e temos outros desenhos sendo construídos, mas eu não imagino alguém com construção de plano alternativo à recuperação judicial. Também não acho que a recuperação judicial seja algo que vá adiante.

Essa fraude vai parar em determinado momento, não sei se em uma semana ou dois meses. Alguma alternativa vai acontecer e acredito que seja através da troca do acionista de referência que a Light possui. Tanure tem um plano próprio com advisors contratados para isso, assim como um outro interessado que já está trabalhando nessa estrutura. A solução vai acontecer daqui a pouco.

E o que o grupo de debenturistas deve fazer a partir de agora?

Continuamos com a unidade dos credores e falamos com os bancos e bondholders todos os dias. Temos consciência do tamanho da nossa responsabilidade, que é muito maior do que os R$ 11 bilhões de dívida da Light. Estamos falando do mercado de capitais brasileiro e das debêntures de infraestrutura, que hoje estão em risco em função desse movimento irresponsável.

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