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Credit Suisse mantinha contas com US$ 8 bilhões em dinheiro sujo

Banco manteve por anos contas bancárias de corruptos, criminosos e ditadores, segundo investigação global

Credit Suisse mantinha contas com US$ 8 bilhões em dinheiro sujo
Credit Suisse teria aceitado criminosos, espiões e até ditadores entre os clientes. Foto: REUTERS/Arnd WIegmann/File Photo
  • Uma investigação global feita por jornalistas, chamada ‘Suisse Secrets’, revelou que o Credit Suisse manteve por anos contas bancárias de ditadores, espiões, corruptos e criminosos de guerra
  • As informações vieram à tona a partir do vazamento de mais de 18 mil registros bancários de clientes estrangeiros do Credit Suisse entre 1940 até 2010
  • Entre os clientes polêmicos do banco suíço, estariam a família de um chefe de inteligência egípcio que supervisionava a tortura de suspeitos de terrorismo para a CIA, um traficante de pessoas nas Filipinas e até o rei Abdullah II, da Jordânia

O segundo maior banco da Suíça está no centro de um escândalo. Uma investigação global feita por jornalistas, chamada ‘Suisse Secrets’, revelou que o Credit Suisse manteve por anos contas bancárias de ditadores, espiões, corruptos e criminosos de guerra. No total, essas contas consideradas ‘problemáticas’ detinham mais de US$ 8 bilhões em dinheiro sujo.

As informações vieram à tona a partir do vazamento de mais de 18 mil registros bancários de clientes estrangeiros do Credit Suisse entre 1940 até 2010. As informações foram enviadas de forma anônima para o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung e analisadas em conjunto com o OCCRP (Projeto de Reportagem sobre Crime Organizado e Corrupção, em português)- organização internacional de mídia, da qual o New York Times e o The Guardian são integrantes.

Entre os clientes polêmicos do banco suíço estariam a família de um chefe de inteligência egípcio que supervisionava a tortura de suspeitos de terrorismo para a CIA; um italiano acusado de lavagem de fundos criminosos para a associação mafiosa ‘Ndrangheta’; um traficante de pessoas nas Filipinas; e até o rei Abdullah II, da Jordânia, que tinha em uma única conta o valor de US$ 233 milhões, mesmo quando seu país precisou de bilhões de ajuda externa.

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De acordo com a OCCRP, as autoridades venezuelanas acusadas de saquear a petrolífera estatal PDVSA teriam depositado centenas de milhões de dólares em contas do Credit Suisse. O desvio de dinheiro ocorreu antes do colapso econômico no país, cuja população emagreceu em média 11 kg em meados de 2017 devido à pobreza, segundo a Pesquisa sobre Condições de Vida na Venezuela (Encovi).

O banco teria mantido as contas desses clientes venezuelanos abertas mesmo quando a mídia global expôs casos de corrupção entre muitos deles. O ex-vice-ministro de energia da Venezuela, Nervis Villalobos, e o empresário Roberto Rincón, são alguns dos nomes envolvidos.

“As pessoas não deveriam ter acesso ao sistema se o que carregam é dinheiro corrupto”, afirmou Graham Barrow, especialista independente em crimes financeiros, ao OCCRP. “O banco tem o dever claro de garantir que os fundos que administra tenham uma proveniência clara e legítima.”

De acordo com ex-funcionários do banco suíço, ignorar contas ‘tóxicas’ fazia parte da cultura da empresa. De acordo com um ex-funcionários entrevistados pelo consórcio de jornalistas, o colaborador que fechasse contas problemáticas, especialmente aquelas com mais de US$ 20 milhões, poderia sofrer represálias.

“Jornalistas e especialistas dizem que as leis draconianas de sigilo bancário da Suíça silenciam efetivamente pessoas ou jornalistas que podem querer expor irregularidades dentro de um banco suíço. Um grupo de mídia suíço não pôde participar da investigação da Suisse Secrets devido ao risco de processo criminal”, ressaltou a OCCRP.

A resposta do Credit Suisse

O Credit Suisse negou ‘veementemente’ as acusações do consórcio de imprensa. Em nota, o banco afirmou que as alegações da mídia fazem parte de um esforço conjunto para desacreditar a instituição financeira e o mercado financeiro suíço.

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“As matérias apresentadas são predominantemente históricas, em alguns casos remontando à década de 1970, e as contas dessas matérias baseiam-se em informações parciais, seletivas e descontextualizadas, resultando em interpretações tendenciosas da conduta empresarial do banco. Embora o Credit Suisse não possa comentar sobre possíveis relacionamentos com clientes, podemos confirmar que as ações foram tomadas de acordo com as políticas e requisitos regulatórios aplicáveis ​​nos momentos relevantes e que as questões relacionadas já foram abordadas”, disse a instituição.

Cerca de 90% contas citadas, segundo o banco suíço, estariam “fechadas ou em processo de fechamento”. Por último, o gigante do setor bancário ressaltou que tem uma política de tolerância zero em relação à evasão fiscal e que só deseja lidar com clientes que estejam em conformidade com as leis.

A OCCRP respondeu ao Credit Suisse. “O sistema suíço, que valoriza o sigilo em relação à responsabilidade, é especialmente propenso ao uso indevido. Os bancos suíços têm uma longa história de aceitar clientes ruins, desde os nazistas até alguns dos piores ditadores autocráticos do mundo moderno”, explicou o consórcio. “Acreditamos que as dezenas de exemplos que citamos levantam sérias questões sobre a eficácia e o compromisso do Credit Suisse em cumprir suas responsabilidades.”

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