- Na Argentina, desde 2012, o peso caiu 97,01% no período. Ou seja, caso um argentino pretenda comprar US$ 1, é necessário desembolsar 160,73 pesos argentinos (ou R$ 5,30)
- Especialistas entrevistados pelo E-Investidor explicaram que o câmbio é um dos ativos mais voláteis do mercado
- Quando se pensa no curto prazo, Francisco Nobre, economista da XP, afirmou que a moeda pode ser impactada por situações políticas, expectativas do mercado e desempenho econômico. “Porém, quando se analisa no longo prazo, deve ser [totalmente] atrelada à inflação”
O dólar tem um papel importante na vida do quem busca diversificar seus investimentos e garantir uma certa segurança à carteira, já que a moeda tende a se valorizar quando outros ativos estão em queda. No entanto, devido à inflação mais alta no hemisfério sul nos últimos anos, a moeda norte-americana se tornou uma alternativa cara para os nascidos em países emergentes, como os da América Latina.
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Desde 2012, segundo um levantamento realizado com exclusividade ao E-Investidor por Michael Viriato, fundador e sócio da Casa do Investidor, as moedas latino-americanas caíram mais de 30% frente ao dólar.
Na Argentina, o peso recuou 97,01% no período. Ou seja, caso um argentino pretenda comprar hoje US$ 1 é necessário desembolsar 160,73 pesos argentinos (ou R$ 5,30). Já na Colômbia, o câmbio local, também chamado de peso, recuou 62,79% na última década. Assim, um investidor colombiano que busca segurança na moeda norte-americana precisa pagar 4.806,09 pesos colombianos (ou R$ 5,29) por US$ 1.
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Apesar da cotação ser relativamente parecida com o real versus o dólar desta semana – em 11 de novembro, fechou a R$ 5,30 -, a trajetória de desvalorização das moedas pesou no bolso dos investidores. A nível se comparação, se um argentino comprasse dólar em novembro de 2012, pagaria 4 pesos argentino (97,5% a menos do que hoje); um colombiano, 1.750 pesos colombianos (63,58% a menos que este mês); e um brasileiro, R$ 2 (62,26% a menos se comparado com este ano).
Francisco Nobre, economista da XP, afirmou que uma moeda pode ser impactada por situações políticas, expectativas do mercado e desempenho econômico. “Porém, quando se analisa no longo prazo, deve ser [totalmente] atrelada à inflação”. O aumento generalizado nos preços tende a desvalorizar o câmbio. “Quem teve maior inflação [desde 2012], teve a maior desvalorização”, disse também Josilmar Cordenonssi, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
A média de inflação nos últimos 10 anos nos Estados Unidos foi de 1,5%, enquanto no Peru foi de 3,2%; no Chile; 3,8%; na Colômbia, 4,2%; no México; 4,4%; no Brasil, 6,2%; e na Argentina, acima de 30%.
Principais motivos
O economista da XP explicou que quando analisado os países separadamente, a Argentina, despencou seu câmbio frente o dólar em 97,01% devido ao problema de dívida pública e planos graduais de ajustes nas contas públicas.
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Em 2015, por exemplo, durante o governo de Mauricio Macri, explicou o professor do Mackenzie, havia esperança de que a Argentina poderia romper com o populismo Kirchnerista que reinava há mais de uma década. No entanto, o presidente focou no ajuste de contas e ficou vulnerável a choques externos, como a seca, que afetou o setor exportador.
"Ao final do mandato, como os investidores perceberam que as medidas de Macri não seriam suficientes para contrabalancear o choque de mercado, investidores (principalmente argentinos) desmontaram posições no país e retiraram capital da região, o que também puxou a cotação do peso para baixo", diz Cordenonssi. Essa saída e o cenário político pesam até hoje na cotação da moeda.
Já o peso colombiano, segundo Cordenonssi, teve uma forte desvalorização entre 2015 e 2016, por questões internas - que ainda pesam na cotação. Quando chegou à tona o assunto de que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) poderiam se tornar um partido político e participariam das eleições colombianas, houve uma insegurança no mercado que pesou no câmbio.
“Além disso, desde a eleição do presidente Gustavo Petro [em 2018], primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, o peso colombiano tem se desvalorizado fortemente”. A moeda recuou 60,29% frente o dólar.
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O Brasil, por sua vez, registrou o recuo de 60,62% devido ao fato de que sofreu “a pior recessão da sua história, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7% e a inflação bateu os dois dígitos, entre 2015 e 2016.
“Com o governo Temer a inflação foi controlada, mas o crescimento ficou em torno de 1% até 2019. Sem ter recuperado da recessão 2015 e 2016, veio a pandemia da Covid-19, o que deixou o real com a posição da moeda que mais se desvalorizou no mundo, entre as principais economias emergentes”, disse o especialista.
O Chile e o Peru, por sua vez, ficaram entre a terceira e segunda menor desvalorização, com queda de 47,10% e 33,20% frente o dólar, porque tiveram no período um “equilíbrio” quando considerada a inflação e a estabilidade cambial. De acordo com Cordenonssi, ambas as regiões são fortes exportadoras de cobre e “commodity que teve forte valorização com o aumento da demanda nos últimos anos [entre 2019 e 2022, o produto valorizou cerca de 45%]”.
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“[Vale destacar também que] a pandemia da Covid-19 parece que não ter abalado as moedas destes dois países, dada a robustez dos seus fundamentos macroeconômicos: dívida pública baixa, juros baixos e inflação baixa, com crescimento acima da média da região”, afirmou o professor.
Ele afirmou também que revoltas populares e crises políticas levaram os dois países andinos a sofrerem com a desconfiança dos investidores internacionais e suas moedas tiveram certa desvalorização. Entre 11 de novembro de 2020 e 11 de novembro de 2022, a moeda chilena recuou 16,62% frente o dólar e a peruana 8,35%. No mesmo período, o real valorizou 3,54%.
O México, por sua vez, teve a menor desvalorização (32,33%) da América Latina nos últimos dez anos, dada a inflação baixa e maior integração de sua economia com a economia norte-americana.
Comprar ou não comprar dólar?
O analista da XP acredita que mesmo que o dólar esteja a patamares muito valorizados se comparado com outros câmbios latino-americanos, é importante adquirir a moeda norte-americana, pois, é importante diversificar os investimentos e mitigar os riscos.
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O professor do Mackenzie também concorda em ser importante adquirir a moeda, mas não agora. “Passada a guerra na Ucrânia e o fim do aumento das taxas de juros nos EUA e Europa, provavelmente o mundo entrará em um novo ciclo de expansão econômica sustentável e neste cenário o dólar tende a se desvalorizar frente as outras moedas”.
Desde que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia foi anunciada, em 24 de fevereiro, o dólar valorizou no mínimo 5,1% frente às moedas latino-americanas (apenas o peso chileno fechou o período com alta de 1,91% versus a moeda norte-americana):
Claudio de Moraes, professor de macroeconomia e finanças do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por sua vez, afirmou que se um investidor latino-americano quiser comprar dólar, é preciso ficar atento à questão política norte-americana, principalmente se o Federal Reserve (Fed, ou banco central dos Estados Unidos) continuar aumentando a taxa de juros.
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Além disso, é preciso monitorar as dinâmicas internas dos países. “Acredito que tanto Brasil como Colômbia vão recuperar suas moedas, porque mesmo com a mudança na presidência, não acredito que os governos façam algo arriscado em relação ao mercado”, afirmou o professor.