- Wilson Ferreira Junior foi indicado para assumir a presidência da BR Distribuidora. Após o anúncio as ações da companhia vêm registrando alta de 15,45%
- Na primeira meia hora do pregão, os papéis da Eletrobras caíram tanto que o leilão foi ativado
- Para os especialistas ouvidos pela equipe, enquanto o nome do substituto não é escolhido, o momento é de cautela
Após o anúncio da renúncia do presidente da Eletrobras (ELET3, ELET6), Wilson Ferreira Junior, as ações da estatal entraram em baixa. Na segunda-feira, 25, os papéis negociados na bolsa de Nova York caíram 11%.
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Na B3, fechada na segunda por conta do feriado do aniversário de São Paulo, os ativos da empresa começaram a terça-feira, 26, com uma queda de 5,20% para as ações de final 6 e de 7,37% para as de final 3. Por conta disso, os títulos da estatal entraram em leilão. Nesse tipo de instrumento a bolsa não fecha os negócios com as ações na medida que as ofertas chegam, como acontece normalmente. As ofertas de compra e venda são apenas registradas, e só depois que todas são aceitas é que fecham-se os negócios.
A saída de Ferreira é mais uma derrota para a agenda de privatizações do governo de Jair Bolsonaro, que nas eleições enfatizava o compromisso de abdicar das estatais durante seu mandato. Contudo, essa falta de sintonia entre o governo e o processo de privatizações também causou a saída do secretário especial das desestatizações, o empresário Salim Mattar, em outubro de 2020.
Processo da Gerdau
Além da renúncia do presidente da Eletrobras, outro assunto tem mexido com o comando da estatal: a ação judicial movida pela Gerdau (GGBR4) e outros credores do Empréstimo Compulsório de Energia Elétrica (ECE).
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O processo discute o período de contribuição do tributo e os créditos de ECE envolvidos na ação. Os autos estão na fase de cumprimento de sentença, com o laudo apontando um valor de R$ 1,3 bilhão a favor dos credores.
Em um fato relevante divulgado no dia 24, a Eletrobras afirmou que entrará com recurso de embargo. Segundo os especialistas ouvidos, como a empresa vai recorrer, ainda há um longo caminho a ser percorrido antes dos R$1,3 bilhão entrarem como despesa no balanço da companhia.
O E-Investidor conversou com especialistas para entender o que podemos esperar da empresa que já foi considerada a joia da coroa das privatizações.
Há luz no fim do túnel?
Apesar da chuva de incertezas que paira sobre a estatal, o BTG Pactual (BPAC11) produziu um relatório divulgado na segunda-feira (25), no qual reitera a recomendação de compra para as ações da estatal e estipula um preço-alvo de R$ 63.
“Embora ainda vejamos uma valorização significativa, mesmo em um cenário de não privatização, há o risco da Eletrobras se tornar uma ação ‘peso morto’, semelhante ao que aconteceu com a Sabesp”, diz o relatório.
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Para Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, esse momento é de cautela para os investidores. “Não podemos associar diretamente a renúncia do presidente da Eletrobras como uma frustração relacionada à privatização, pois ele realmente pode ter saído por motivos pessoais, tendo em vista a sua ida para a presidência da BR Distribuidora”, diz.
“Caso seja eleito um novo presidente, bem visto pelo mercado e principalmente baseado em uma escolha técnica, podendo ser alguém com experiência no setor elétrico, ou uma boa gestão, isso deixaria a Eletrobras em boas mãos e, quem sabe, com a possibilidade de uma eventual privatização mais para frente”, explica França. Na visão do especialista, a recomendação para os papéis é neutra, justamente por essa indefinição no comando da estatal.
Ferreira vinha fazendo um trabalho elogiado pelo mercado. Desde que assumiu o cargo, ainda no governo de Michel Temer, o executivo foi responsável por reduzir a dívida da companhia, implementar o SAP e enxugar o quadro de funcionários. Para Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, as decisões de Ferreira possuem características de empresas privadas.
“A saída dele gera dúvida nos investidores não só em relação à privatização, mas também se o bom trabalho feito por ele irá continuar ou não”, diz o CEO. Em teleconferência com os analistas feita ma segunda-feira (25), Ferreira afirmou que essas medidas são perenes e tendem a continuar sendo feitas.
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Para Igor Cavaca, analista da Warren, deve haver um movimento negativo intenso nas ações da Eletrobras por conta da renúncia. ”Cabe ao investidor fazer suas análises para ver se mediante ao prêmio que estava sendo colocado na empresa, em que era possível a privatização, de fato o valor dela faz sentido”, diz.
Liberal até página 2?
A saída de Salim Mattar, o imbróglio do presidente do Banco do Brasil e a renúncia de Wilson Ferreira Junior frustram a agenda liberal que foi uma das principais propostas de campanha do governo Jair Bolsonaro. Na visão de Cavaca, o que houve no BB e na Eletrobras é mais uma sinalização de que a agenda proposta pelo governo não será cumprida neste ano.
“Dado o cenário que estamos vendo hoje, no qual o governo está lutando com uma pandemia, alta taxa de desemprego, queda do PIB, pressão da sociedade, entre uma série de fatores negativos, torna-se difícil uma agenda liberal neste momento”, diz Cavaca.
Segundo França, houve uma certa frustração com a velocidade do avanço das privatizações. “Mas alguns pontos podem colocar de volta no radar, e um deles é a eleição para presidência da Câmara e do Senado”, diz.
Na visão de Meneses, o fato é que houve muita expectativa de que o governo fosse privatizar diversas estatais, contudo, o que era esperado não se realizou. “A pandemia mudou o panorama das pautas em jogo no congresso, com foco do governo passando a ser o auxílio para a população da melhor forma possível”, diz.
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