- A B3 anunciou a maior reformulação na metodologia do ISE desde o lançamento em 2005. O novo sistema passa a divulgar uma nota geral de todas as empresas que participarem do processo de seleção e a formulação de um ranking
- “O mundo do futuro tem dois pilares: tecnologia e sustentabilidade”, avalia o CEO da plataforma WayCarbon
- Antes discutido em departamentos de menor influência nas empresas, a relevância das práticas vem tomando espaço. Relações com investidores, C-level e Conselho Administrativo passaram a tratar do tema diretamente
Para responder um chamado dos investidores e ser um benchmark, empresas de capital aberto têm investido mais na gestão das iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG). Além da maior cobrança da sociedade, selos de validação de ações sustentáveis possibilitam acesso a crédito, atração de grandes investidores institucionais e participação em fundos de destaque, além de criar valor agregado e reconhecimento para a companhia.
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Por conta dessa influência, grandes empresas estão levando a discussão para cargos executivos. Os índices de sustentabilidade, com companhias de diferentes setores, estão cada vez mais concorridos. Na B3, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Índice Carbono Eficiente (ICO2) são duas carteiras compostas por instituições comprometidas com práticas ESG (meio ambiente, sociedade e governança, na sigla em inglês).
A B3 anunciou na semana passada a maior reformulação na metodologia do ISE desde o lançamento em 2005. O novo sistema passa a divulgar uma nota geral de todas as empresas que participarem do processo de seleção e a formulação de um ranking ESG das empresas brasileiras. A novidade entra em vigor em janeiro de 2022.
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As notas serão calculadas a partir de indicadores que vão desde capital humano a práticas de negócios. Dessa forma, investidores poderão ter maior transparência para comparar empresas de diferentes segmentos.
Segundo a B3, a mudança possibilita mais transparência e será possível comparar as jornadas ESG de cada companhia, além de alinhá-las com padrões internacionais. “Com o aumento de relevância dos temas ESG no mercado, seja por parte das empresas ou dos investidores, vieram novas demandas, necessidade de simplificação do processo e maior aprofundamento em temas que são relevantes para cada setor”, afirma Luís Kondic, diretor de Produtos Listados e Dados da B3.
Para Kondic, a mudança é resultado de sugestões que vieram de empresas, investidores, analistas e profissionais do mercado, além de contribuições recebidas em consulta pública à nova metodologia do ISE B3.
Enquanto o ISE tem vigência anual, o ICO2 é renovado a cada quatro meses com companhias aprovadas pela metodologia de avaliação do índice, com foco na transparência e prestação de contas. Para avaliar os dados, a organização sistemática de dados pode ser um diferencial. Em um ano, o ISE deu retorno de 5,83% e o ICO2 rendeu 8,15%, enquanto o Ibovespa cresceu 20,73%.
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“O mundo do futuro tem dois pilares: tecnologia e sustentabilidade”, avalia Felipe Bittencourt, CEO da WayCarbon e professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo ele, o modo das empresas de mensurar as ações não passava de uma “gestão de relatórios” com dados já ultrapassados. Porém, com a priorização da temática, surge a necessidade de acompanhamento em tempo real e de modo organizado.
Há sete anos, tendo em vista dar celeridade e instantaneidade às necessidades de grandes empresas, a plataforma Climas foi criada pela WayCarbon para organizar e gerir informações quantitativas e qualitativas “a um clique de distância”. Segundo ele, a publicação de um relatório ESG de uma vez por ano relativo ao ano anterior não é um agente de mudança efetivo, apenas protocolo.
Bittencourt explica que há a dificuldade das empresas em sistematizar as informações. “Muitas das empresas têm fábricas ou escritórios em cidades e até países diferentes, utilizam idiomas e culturas diferentes, tudo isso dificulta a organização e gerenciamento de dados”, explica.
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No core da empresa está a mensuração de emissões de gases do efeito estufa (GEE). O sistema controla, em média, 44 milhões de toneladas de CO2 por ano. Na plataforma, cada companhia consegue unir todas as informações em um dashboard. São mapeados índices de emissão de carbono, tipo de energia utilizada, quantidade de resíduos produzidos e os valores que foram reciclados, entre outros números relativos aos pilares ambientais, sociais e de governança. “Todos esses indicadores contribuem também para a redução de custos da empresa”, ressalta Bittencourt.
Atendendo cerca de 200 empresas na WayCarbon e 14 setores da economia, o CEO destaca que só na equipe da plataforma Climas o número de colaboradores foi duplicado para atender novos clientes.
A escalada da discussão de ESG nas empresas
Antes discutido em departamentos de menor influência nas empresas, a relevância das práticas vêm tomando espaço. Relações com investidores, C-level e Conselho Administrativo passaram a tratar do tema diretamente.
Para Taciana Abreu, head de Marketing e Sustentabilidade do Grupo Soma, companhia que abriu capital em junho do ano passado, a entrada na Bolsa foi uma oportunidade de dar “sofisticação à governança”.
Ela explica que o processo fez a empresa entrar em um movimento positivo dentro do mercado. “O dinheiro move o globo e, atualmente, o acesso ao dinheiro está pautado pela evolução sócioambiental, o que faz o mundo se mover na direção certa”, aponta.
Segmentos
Ainda há quem diga que alguns setores podem estar mais diretamente ligados às práticas de sustentabilidade. Entretanto, a influência atinge todas as áreas, de empresas que desenvolvem energias renováveis às do mercado financeiro.
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Para a Minerva Foods, empresa de alimentos responsável por cerca de 20% de toda a carne exportada na América do Sul, conhecer os indicadores ESG é uma prioridade que já está na agenda há bastante tempo, como comenta Taciano Custódio, diretor de sustentabilidade da empresa.
“O mercado internacional é muito exigente, não só na qualidade dos produtos, mas no impacto que as empresas estão tendo no mundo”, aponta. Segundo ele, desde de 2005 a empresa já deu os primeiros passos com o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e, em 2009, com o Compromisso Público da Pecuária, que afirma o compromisso com o desmatamento zero e com a rastreabilidade da produção.
A MRV, construtora que integra o ISE desde 2017, usa mais de cinco mil parâmetros de ESG por meio do software Climas, produzido pela empresa de tecnologia WayCarbon. “Entrar no ISE nos colocou em uma elite de empresas de capital aberto do Brasil. Além de prestar conta e atrair investidores, foi o momento onde a sustentabilidade passou a fazer parte, oficialmente, da cultura da empresa”, aponta José Luiz da Fonseca, gestor executivo de Sustentabilidade da empresa.
De acordo com Fonseca, a MRV conseguiu reduzir a geração de resíduos para um quinto do que era produzido em 2010. “A redução de desperdício nos possibilita usar recursos para investir em outras áreas da empresa”, exemplifica.
Cadeia produtiva no radar
Um ponto em comum entre as empresas é o acompanhamento da evolução socioambiental na cadeia produtiva. Por conta disso, fornecedores passam a entrar no radar das práticas de sustentabilidade.
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Para o Grupo Soma, o passo inicial surgiu a partir da inserção de diversidade e inclusão dentro das empresas. Entretanto, a preocupação com a atividade dos fornecedores passou a fazer parte das análises da empresa.
“Não adianta olhar apenas para dentro da empresa se os fornecedores da moda são setores que mais poluem no mundo. Usamos algodão que vem da agricultura, fibras sintéticas, originárias da indústria petroquímica, é uma cadeia gigantesca”, ressalta Abreu.
Segundo a representante da Soma, a companhia reconhece que os primeiros passos para redução do impacto ao ambiente são a conscientização de liderança e letramento de toda a cadeia envolvida, executivos, colaboradores, investidores, fornecedores e clientes.
Na MRV, segundo Fonseca, cada fornecedor cadastrado é monitorado. “Aqueles que se destacam recebem um troféu de reconhecimento e incentivo”, explica.
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