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Felipe Bottino vê Banco Inter como a Robinhood brasileira

O ex-Pi Investimentos assumiu a diretoria do banco e tem o compromisso de aumentar o número de investidores

Felipe Bottino vê Banco Inter como a Robinhood brasileira
Felipe Bottino, diretor de investimentos do Inter (Foto: Divulgação)
  • O executivo pretende, pelo menos, manter o percentual de investidores - em torno de 15% - junto ao crescimento da base de clientes, hoje em nove milhões
  • O banco essencialmente digital aposta em novidades tecnológicas, uma delas com estreia para a próxima semana: o InterTrack
  • Pagar muito para grandes gestores, por exemplo, vai parar de fazer sentido em um mercado onde a gestão automatizada ganha mais espaço credibilidade e eficiência

O Inter (BIDI11, BIDI4) escolheu Felipe Bottino da Pi Investimento, empresa vinculada ao grupo Santander, para liderar a área de investimentos do banco digital, a Inter Invest. O executivo tem o compromisso de, pelo menos, manter o percentual de investidores – em torno de 15% – junto ao crescimento da base de clientes, hoje em nove milhões. Em suas projeções, também cabem metas mais ambiciosas: “Vamos ser a empresa com maior número de CPFs na bolsa de um a dois anos”, afirma Bottino, em entrevista ao E-Investidor.

O banco se vê hoje, nas palavras de Bottino, como a Robinhood brasileira. Para isso, o banco essencialmente digital aposta em novidades tecnológicas, uma delas com estreia para a próxima semana: o InterTrack.

“Ao cnsultar uma ação, além da parte de preço, que é o gráfico que o cliente está acostumado, ou como foi o comportamento dela no último ano, também haverá uma faixa mostrando como está o percentual de consumidores da base do Inter comprando ou vendendo o ativo”, explica o executivo.

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Bottino tem uma relação próxima com a inovação em sua trajetória no setor de investimentos. No mercado de previdência, liderou na Icatu Seguros a expansão do conceito de plataforma e novos canais de distribuição, e atuou na Pi Investimentos na criação da indústria de investimentos 3.0, como foco na desintermediação e resolução de conflitos de interesse durante sua gestão.

Esse olhar apurado para a inovação diz bastante sobre a visão do executivo sobre o futuro do mercado, que para ele será cada vez mais tecnológico. Pagar muito dinheiro a grandes gestores, por exemplo, vai parar de fazer sentido em um setor no qual a gestão automatizada vai ganhando mais espaço, credibilidade e eficiência.

“Todo mundo se acha superestrela porque os juros eram altos e 2% com 20% (de performance) era o padrão da indústria de gestores”, critica Bottino. “Cada vez mais, como é no mercado norte-americano, esse grupo de supergestores vai ficar cada vez mais restrito. Vai tendo o ETF, gestões automatizadas e essas carteiras passivas vão ganhando cada vez mais espaço”, diz.

Confira a entrevista completa com Felipe Bottino, diretor de investimentos do Inter.

E-Investidor: Há uma competição acirrada no mercado, entre grandes e pequenos. Qual diferencial você traz para a Inter Invest?

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Felipe Bottino: Existe no mercado há bastante tempo um movimento de consolidação. Cada vez mais o indicado é a solução completa. Você tem hoje, por exemplo, o Inter, como um player já consolidado em frentes como a bancária, a parte de marketplace, e investimento. É mais uma coisa que o investidor não vai querer ficar tendo, uma série de contas afastadas. Os produtos são muito comoditizados ou muito parecidos, e tem a diferenciação da experiência e a possibilidade de agregar funções até cruzadas. Por exemplo, o CDB mais limite (de crédito), que é uma sacada muito legal. O movimento de consolidação persiste onde as plataformas vão se tornando cada vez mais completas e saindo do universo bancário.

Quais produtos que os concorrentes não têm serão oferecidos?

O Inter se caracteriza por ser um banco voltado para o varejo. O que a gente quer ter são produtos democráticos. Por exemplo, o Legacy (Inter Access Legacy Capital FIC FIM), que é um fundo super exclusivo, que custa a partir de R$ 100. Tem uma tendência muito clara na indústria, quando pega os maiores players, de subir a régua. O que estamos fazendo é descer a régua. O banco pode diferenciar o cliente na questão do atendimento. Quando você tem a tecnologia pronta, a seu favor, você consegue dar acesso aos melhores produtos a todos. Nos vemos muito no Brasil hoje como é a Robinhood. Somos um formador de novos investidores, que pretende acabar ou diminuir essa distância do mercado financeiro para grande parte da população.

O que há de novidade no curto prazo?

Estamos lançando na semana que vem o InterTrack, uma coisa que tem muito na Robinhood. Quando consultar uma ação, além da parte de preço, que é o gráfico que o cliente está acostumado, ou como foi o comportamento dela no último ano, também vai ter uma faixa mostrando como os consumidores da base do Inter estão comprando ou vendendo o ativo, qual é o percentual. Por exemplo, cresceu 10% a base de investidores Inter nesse papel, ou caiu. Basicamente é uma tela que mostra esse desempenho.

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Qual é o objetivo do banco com essa ferramenta?

Estamos muito focados em ser a referência da pessoa física, do varejo, na bolsa. Achamos que esse movimento inovador vai potencializar a utilização da plataforma, e nos colocar mais próximos da Robinhood, que é uma referência em termos de democratização do acesso a bolsa de valores norte-americana. E temos esse papel de fazer aqui no mercado brasileiro.

No caso GameStop e Robinhood, não cobrar por transações ajudou nesse movimento. Algo semelhante aqui no Brasil pode acontecer?  

Certamente foi uma grande escola mundial e hoje está cada vez mais raro as empresas que cobram. O Inter saiu na frente, mas já vemos muitas casas zerando a corretagem. O mercado brasileiro é mais imaturo do que o norte-americano. É um movimento muito forte que vem acontecendo, muito rápido, que certamente acaba fazendo algumas vítimas, com muita gente procurando retornos de curtíssimo prazo. Vão aparecer surpresas desagradáveis na forma de cobrança, vendedores de curso, mas isso no longo prazo tende a se equalizar e acho que isso vem com a maturidade. Estamos em um grande momento da indústria brasileira, mas ainda não foi feita a separação do joio do trigo. Isso vem acontecendo com a consolidação do mercado. O Inter não vai querer se envolver em nada que não esteja de acordo com os seus valores.

Em dezembro, quase 15% da base de clientes (9 milhões) do banco eram investidores. Em quanto tempo espera aumentar este percentual e para quanto?

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Meu objetivo é seguir com esse percentual de 15%, dado que a base de clientes do banco cresce muito rápido. Isso me torna um tipo de player muito diferente porque concorrentes gastam grande parte dos recursos e do tempo tentando adquirir clientes no “mar aberto”, naquele “rouba-monte”, que não é o nosso foco. Meu custo de aquisição de clientes hoje é zero em investimentos. Gasto toda a parte do meu tempo e dos recursos com foco na conversão da base que já está aqui. Então seguir com essa meta de 15%, quem sabe atingir 20%, mas seguindo o crescimento do banco.

Você tem um parâmetro para isso? Espera superar sua antiga casa, a Pi (do Santander)?

Na Pi, eu não estava acoplado ao ecossistema do Santander. Então eu tinha que fazer uma aquisição separada, tinha um custo de aquisição. É essa conta hoje que não parece fazer sentido. No Inter, o cliente que usou o aplicativo para abastecer ganhando cashback, já tem a opção de fazer investimento, ganhar um cartão de crédito. Ter um “super app” facilita muito. Como o Inter não é só banco, a gente consegue ser muito competitivo e justo na precificação. Produto é muito melhor aqui porque a gente tem uma estrutura de custo muito melhor, tanto na parte de custo fixo quanto na parte de custo variável, de aquisição.

Como sobra espaço para os clientes mais sofisticados? O Inter criou recentemente o Inter Wealth Management (Win), com foco em gestão de patrimônio para clientes com movimentações superiores a R$ 1 milhão.

Nascemos, essencialmente, para servir o varejo. Tudo que fazemos é extremamente digitalizado ou automatizado. É para esse cliente que a gente pensa 90% do tempo. O banco criou o Win porque, em questão de atendimento, às vezes a pessoa precisa falar com alguém no sentido de ter um acompanhamento mais próximo da carteira. Mas o produto é exatamente igual, damos a mesma sugestão de alocação. Mas esses clientes podem customizar algumas coisas. Diferenciamos o cliente não pelo produto, como ainda é usual no mercado, mas no atendimento. E esse perfil mais sofisticado tem vindo organicamente.

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O País está em um cenário de juros muito baixos. Pretende focar em ações, já que a renda fixa perdeu atratividade e a bolsa está crescendo?

Tem muita gente ainda na renda fixa. Tem R$ 1 trilhão na poupança. Mas vemos também essa migração. Nossa economista já recomenda que até o perfil mais conservador tem que ter 5% de bolsa. É o caso da nossa carteira recomendada mais conservadora. Isso era totalmente impensável há alguns anos e mostra um pouco da nossa perspectiva. Em números percentuais, se a gente mantiver esse crescimento junto, vamos ser a empresa com maior número de CPFs na bolsa em questão de um a dois anos. Por isso criamos o InterTrack. A pessoa física tem sido um player cada vez mais relevante. Antigamente, tinha o argumento que só os gringos que faziam o preço na ação, depois o institucional, e agora a pessoa física é importante também.

Tem uma meta de número?

Minha meta é aumentar o percentual. Se passo de 15% para 20% o número de investidores da base do banco, e de 3% para 6% os que investem em ação, esses números já me deixam muito confortável porque o Inter cresce em uma velocidade muito grande. Hoje temos capacidade de crescer dentro da base. Queremos quase dobrar o tamanho em um movimento de dois anos.

O que é mais importante hoje: grandes nomes no time ou modelo de negócio?

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É um combinado. Os grandes nomes se pagam, mas essa parte é menos importante do que ter custos fixos baixos. O que acontece é que hoje todo mundo se acha superestrela porque os juros eram altos, e 2% com 20% (de performance) era o padrão da indústria de gestores. Mas vai ter uma diferenciação e cada vez mais, como é no mercado norte-americano, esse grupo de supergestores vai ficar cada vez mais restrito. Vai tendo o ETF, gestões automatizadas e essas carteiras passivas vão ganhando cada vez mais espaço. E a nossa missão é conseguir formar profissionais que sejam capazes de atuar nesse novo ambiente de mercados mais eficientes.

Como as redes sociais podem mudar a maneira como as pessoas investem? O banco está lá produzindo conteúdo para elas.

As redes sociais mudaram todos os setores e agora o mercado financeiro. Vemos com grande preocupação, mas ao mesmo tempo animação. No longo prazo, os ruídos tendem a gerar mais oportunidade para quem é mais estudioso e conhece mais. Vão ter muitos feridos e talvez “mortos”, no sentido de que vão ouvir pessoas menos preparadas e que geram mais engajamento do que conteúdo, mas vai haver oportunidade para gestores e profissionais sérios também serem seguidos. Em algum momento essa separação do joio do trigo vai acontecer e o mercado nunca mais vai ser o mesmo. E esse ambiente de discussão pode ser rico para quem quer gerar valor no longo prazo.

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