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As empresas de chips serão as novas ações de petróleo?

Alto grau de dependência mundial gera atratividade para as ações dessas companhias

As empresas de chips serão as novas ações de petróleo?
Foto: Kim Kyung-Hoon/Reuters
  • Nos últimos 12 meses, os BDRs das principais empresas de chips valorizaram. O valor de mercado dessas empresas também aumentou exponencialmente
  • A evolução tecnológica prevista para os próximos anos é totalmente dependente da matéria-prima, sendo fundamental para a migração da tecnologia 4G para o 5G
  • Segundo Richard Camargo, analista da Empiricus, devido à crescente demanda mundial pelos chips e semicondutores, a tendência é de alta nos lucros dessas companhias, podendo refletir também no preço das ações

A escassez de chips – ou semicondutores – tem levado alguns analistas americanos a chamarem a matéria-prima de “novo petróleo”. Assim como o combustível era absolutamente essencial nos anos 1970, os chips hoje desempenham um papel de extrema importância na economia, fornecendo energia para computadores, celulares, aparelhos eletrodomésticos e carros.

Segundo os especialistas entrevistados pelo E-Investidor, faz sentido pensar na relação colocada pelos americanos devido ao alto grau de dependência por este componente na sociedade atual e das perspectivas crescentes para o futuro.

De acordo com dados do relatório da XP, em 1999 o consumo mundial dos chips somava US$ 150 bilhões. Em 2020 o mercado alcançou a cifra de US$ 450 bilhões e as projeções são de um crescimento de 8,6% ao ano, podendo superar US$ 800 bilhões até 2028.

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As projeções são altas porque a evolução tecnológica prevista para os próximos anos é totalmente dependente da matéria-prima, sendo fundamental para a migração da tecnologia 4G para o 5G e para o avanço dos projetos de carros autônomos e de realidade virtual. Além disso, segundo o estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves, atualmente cerca de 170 indústrias são dependentes dos semicondutores.

As maiores empresas do mundo em valor de mercado lideram essa corrida pela evolução tecnológica, investindo em projetos ambiciosos. O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, disse recentemente que a empresa está desenvolvendo tecnologias de Realidade Aumentada (RA) e Realidade Virtual (VR) para que os 2,9 bilhões de usuários se encontrem nesses espaços virtuais, denominado por ele de “metaverso”. Jeff Bezos comprou a startup Zoox no ano passado para adentar no ramo de carros autônomos. A Alphabet, dona do Google, também tem trabalhado em projetos de carros autônomos com a startup Waymo.

O futuro promissor da indústria tem se refletido nos seus papéis. Nos últimos 12 meses, os BDRs das principais empresas de chips valorizaram. O valor de mercado dessas empresas também aumentou exponencialmente. Confira na tabela abaixo.

Segundo Richard Camargo, analista da Empiricus, a crescente demanda mundial pelos chips e semicondutores dá impulso à alta nos lucros dessas companhias, podendo refletir também no preço das ações. “Porém, nem sempre as ações acompanham os lucros. É preciso observar se os lucros vão crescer acima da expectativa do mercado”, diz.

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Alberto Amparo, especialista de investimentos da Suno Research, alerta que é preciso ter cautela neste momento. “Não é porque a indústria vive um momento de ‘boom’ que o investidor tem que sair comprando ações. Antes, ele precisa avaliar as empresas mais competitivas com capacidade de gerar retornos consistentes no longo prazo.”

A maior de todas as companhias é a TSMC (Taiwan Semiconductor), que detém 50% do mercado global de semicondutores. Os BDRs da companhia estavam cotados a R$ 80,94 nesta terça-feira (14), alta de 0,29%.

O estopim

Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, a pandemia agravou a escassez de matéria-prima, que já vinha sendo sinalizada em meados de fevereiro do ano passado antes de a pandemia eclodir.

Na época, as tensões entre Estados Unidos e China geraram uma corrida para estocar os chips. “As sanções aplicadas à Huawei na importação de semicondutores fabricados nos EUA fez (sic) com que a empresa e as concorrentes aumentassem os estoques de chips antes que o prazo de 120 dias do bloqueio entrasse em vigência”, explica o relatório da XP.

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Para o CEO da Intel, Pat Gelsinger, pode demorar até dois anos para que a situação se normalize. Enquanto isso, empresas do setor e até mesmo governos anunciam investimentos para conseguir ampliar a oferta.

No início de 2021, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou um decreto para facilitar a produção de chips no país e elaborou um programa de investimento de US$ 50 bilhões para a fabricação e pesquisa de semicondutores. Enquanto isso, a China tenta se tornar autossuficiente, impulsionando sua indústria por meio de incentivos fiscais.

Recentemente, a TSMC anunciou que aumentaria em até 20% o preço dos chips. A escassez já começa a desequilibrar a oferta e demanda, impactando no preço dos produtos, na lucratividade das empresas e, consequentemente, refletindo nos papéis negociados nas bolsas de valores.

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