- O terceiro trimestre de 2023 marcou uma virada no mercado brasileiro – e não foi aquela que inicialmente se esperava
- No acumulado do ano, o saldo ainda é positivo, mas os últimos três meses serão fundamentais para determinar se o Ibov vai mesmo terminar o ano no azul
- Juros nos EUA, estímulos na China e discussão fiscal no Brasil; especialistas explicam como cada um desses pontos pode impactar o mercado
O terceiro trimestre de 2023 marcou uma virada no mercado brasileiro, contrariando todas as expectativas. As projeções de que o início do ciclo de queda da Selic daria início a um movimento de alta na Bolsa de Valores não se concretizaram, muito por conta de um contexto macroeconômico global que piorou nos últimos meses. Em reflexo, o Ibovespa acabou caindo 1,54% no período.
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No acumulado do ano, o saldo ainda é positivo em 6,22%, mas os últimos três meses serão fundamentais para determinar se o IBOV vai terminar o ano no azul. Como contamos aqui, especialistas ainda veem um cenário de cautela para o último trimestre de 2023, muito em linha com o que vimos acontecer entre julho e setembro.
“Vamos continuar monitorando riscos dos juros mais altos no exterior, recessão nos Estados Unidos e nos estímulos da China. Por aqui, seguimos de olho na agenda fiscal brasileira que influencia o quanto que o Banco Central vai cortar a taxa Selic”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP.
Explicamos abaixo um pouco de cada um desses três fatores, que devem continuar influenciando o desempenho da Bolsa nos meses finais de 2023.
Os Estados Unidos
O tema chave dos mercados até o final do ano deve permanecer sendo a condução da política monetária nos EUA. O Federal Reserve, o banco central americano, ainda se reúne mais duas vezes em 2023: entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro; e nos dias 12 e 13 de dezembro.
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O grande questionamento do mercado é se o atual patamar de juros entre 5,25% a 5,50% já é a taxa terminal deste ciclo ou se ainda será necessário realizar mais um último ajuste de 25 pontos-base – uma dúvida que pode ser esclarecida em algum desses encontros do Fed.
Assim como aconteceu nos últimos meses, qualquer mensagem que indique a necessidade de juros mais altos por mais tempo deve penalizar os mercados globais, com uma fuga de capital para a renda fixa americana em detrimento de outros ativos de risco, como os emergentes como o Brasil.
Um estudo recente feito pelo time de research da Ágora Investimentos levantou que, das últimas 7 vezes em que o Fed chegou a um pico de juros, em 6 houve um período recessivo logo na sequência. “É difícil imaginar um cenário que o BC americano consiga trazer a inflação para a meta sem algum tipo de desaceleração econômica, por isso os dados nos próximos meses serão tão importantes. Uma recessão precisa ficar no radar como algo que pode acontecer nos próximos meses ou trimestres”, explica José Cataldo, superintendente de research da Ágora Investimentos.
A China
Não é só os EUA que precisam ser monitorados de perto por investidores brasileiros quando o assunto é mercados globais.
O crescimento da economia na China vem preocupando os mercados desde meados do ano, quando começou-se a perceber que aquela expectativa positiva do início de 2023 não estava se concretizando. O ano começou com o fim das restrições de “covid-zero” no país e a esperança que a retomada completa das atividades por lá levariam o gigante asiático a entregar os 5% de crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) prometidos pelo governo chinês.
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Agora, faltando 3 meses para o fim do ano, a realidade já não é mais a mesma. Dados da economia divulgados ao longo de 2023 decepcionaram essas expectativas, mostrando não só um ritmo de atividade mais devagar do que o esperado, como certo receio com iminência de uma crise no mercado imobiliário por lá. Nem mesmo os estímulos concedidos por Pequim têm ajudado a reverter o pessimismo.
Com todo esse contexto, a China também precisa ficar no radar dos investidores. Uma melhora do cenário por lá poderia reaquecer o preço das commodities, jogando a favor de empresas brasileiras importantes para o Ibovespa, como Vale (VALE3). O contrário também é verdadeiro.
“É preciso acompanhar como vai será o final do ano, se vão perseguir a meta de crescimento e trazer estímulos de uma maneira consistente que também consiga agradar os investidores; o que não tem acontecido por enquanto”, diz Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital.
O fiscal no Brasil
No mercado doméstico, há ainda uma agenda econômica importante para o mercado. Desde que o governo começou a discutir temas como reforma tributária e outras medidas para aumentar a arrecadação, surgiram preocupações com a possibilidade de aumento de tributação nas empresas de capital aberto. Como tudo isso ainda está em aberto, o avanço dessa discussão também precisa ser acompanhado.
Leia também: O mercado está mais otimista com a economia em 2023?
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Apolo Duarte, da AVG Capital, destaca que um dos principais pontos jogando a favor do mercado brasileiro é o ciclo de queda dos juros, que só foi iniciado depois que os dados de inflação mostraram arrefecimento. O Banco Central brasileiro sinalizou que deve manter o ritmo de corte na Selic em 0,5 ponto percentual nas últimas duas reuniões do ano. Com isso, a perspectiva é que a taxa encerre 2023 a 11,75% ao ano.
Para Duarte, isso precisa continuar para que haja uma melhora da confiança entre investidores – e é aí que entra a discussão sobre o fiscal.
A piora da leitura do mercado fez com que alguns analistas e economistas começassem a revisar as projeções para a Selic terminal, ao final de 2024. A projeção do Boletim Focus ainda indica uma taxa de 9% ao ano, mas, com EUA, China e incertezas com o déficit no País, começam a surgir rumores de que o BC tenha que manter os juros um pouco mais altos do que se previa.
“A percepção fiscal sobre o fiscal é muito importante. Se vai mudar alguma coisa até o final do ano, se o governo vai cumprir as metas fiscais, se terá um endereçamento claro da arrecadação”, pontua. “Isso é uma das grandes pautas para os últimos 3 meses, que não está resolvida e é um dos pontos em aberto mais preocupantes para investidores.
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