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AZ Quest: “Percepções equivocadas do arcabouço atrapalham a alta da Bolsa”

Para o CEO Walter Maciel, a precificação de risco está exagerada e reflete uma visão equivocada do arcabouço fiscal

AZ Quest: “Percepções equivocadas do arcabouço atrapalham a alta da Bolsa”
Walter Maciel, CEO da gestora AZ Quest. (Foto: Divulgação/AZ Quest)
O que este conteúdo fez por você?
  • Walter Maciel, CEO da AZ Quest, não vê motivos para que a Bolsa brasileira esteja sendo negociadas a múltiplos tão baixos
  • Na visão do CEO, ciclo de queda de juros deve beneficiar ativos de risco no País e medidas econômicas até aqui estão no caminho certo; uma leitura mais positiva do que a média no mercado
  • Ao E-Investidor, o CEO destaca erros e acertos do novo governo até aqui, explica por que a Bolsa deve subir nos próximos meses e aponta oportunidades de investimento no cenário

Em agosto de 2022, enquanto boa parte dos investidores brasileiros começava a temer o início do período eleitoral que marcou a disputa entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela presidência da República, Walter Maciel não via tantos motivos para “pânico” no mercado do País. À época, a avaliação do CEO da AZ Quest, gestora com R$ 23 bilhões de ativos sob gestão, era que tratavam-se de dois candidatos já conhecidos e que nem mesmo os desafios da economia nacional e global deveriam desanimar os investidores.

Um ano depois, o entendimento do executivo segue o mesmo: existe uma precificação de risco exagerada no mercado brasileiro. Agora, por motivos diferentes. Com um ciclo de queda de juros apenas começando, Maciel não vê motivos para que os ativos da renda variável estejam sendo negociados a múltiplos tão baixos.

“Talvez hoje haja ainda mais motivos para achar que o desconto dos ativos de risco está exagerado, especialmente a Bolsa”, afirma. “O nosso Banco Central fez um trabalho espetacular e agora o Brasil está na contramão do mundo, já conseguimos vislumbrar aqui uma queda grande dos juros. Toda vez que isso aconteceu, teve uma reprecificação muito forte nos ativos de risco.”

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Mas não é isso que tem acontecido. O mês de agosto na Bolsa de Valores foi marcado por uma quebra de expectativas, com o primeiro e tão sonhado corte de juros resultando em uma queda de 5% no Ibovespao pior agosto desde 2015.

O que pode estar atrapalhando o rali previsto para este ciclo de afrouxamento monetário? Em partes, a piora no cenário na China e nos Estados Unidos. Mas Walter Maciel também vê outro motivo pressionando o mercado brasileiro: as “percepções equivocadas” em relação ao novo arcabouço fiscal.

O CEO tem uma leitura de cenário mais positiva do que média vista no mercado, especialmente no que diz respeito às medidas econômicas adotadas nestes primeiros meses do terceiro mandato presidencial de Lula. Para ele, o arcabouço fiscal – se for cumprido –, é uma regra “mais equilibrada” do que o antigo teto de gastos; e medidas como a taxação de fundos exclusivos são “corretas”.

“A primeira leitura do mercado foi a seguinte: se veio do governo Lula e do PT, não pode ser bom. Mas temos uma virtude aqui na AZ Quest que é deixar a ideologia em casa. E para isso é preciso ter uma leitura equilibrada e correta do cenário macroeconômico e político”, diz.

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Em uma nova conversa com o E-Investidor, o CEO destaca erros e acertos do novo governo até aqui, explica por que a Bolsa deve subir nos próximos meses e aponta oportunidades de investimento no cenário. Confira:

E-Investidor – Há um ano, a sua avaliação era que o mercado brasileiro estava ’em pânico’ com as eleições e que havia uma precificação de risco exagerada para o contexto. Estamos diante da mesma percepção agora?

Walter Maciel – Sim. Talvez hoje haja ainda mais motivos para achar que o desconto dos ativos de risco está exagerado, especialmente a Bolsa, mas também o câmbio. É verdade que passamos por um período conturbado logo após as eleições e no começo do ano, com uma série de assuntos que puniram muito o mercado. Mas são águas passadas.

Hoje, os múltiplos de preço sobre lucro estão mais baixos do que em janeiro de 2009, quando não sabíamos se a economia americana daria uma segunda barrigada depois da crise financeira. Ou mesmo abaixo de abril de 2020, quando não sabíamos se as pessoas teriam vacina, se íamos voltar para o trabalho. É difícil entender porque a Bolsa ainda está com esse desconto tão grande.

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Quais fatores podem estar por trás desse desconto?

No lado do governo, esse grito contra a independência do Banco Central, o discurso para reverter a privatização da Eletrobras e os medos de uma mudança mais radical na política da Petrobras. Tudo isso deixou os investidores muito nervosos, mas temos uma virtude aqui na AZ Quest que é deixar a ideologia em casa; não estou aqui para vender ideologia, mas sim para vender cota, rentabilidade dos fundos. E para isso é preciso ter uma leitura equilibrada e correta do cenário macroeconômico e político.

E percebo que talvez alguns dos nossos pares não tiveram esse mesmo cuidado. A primeira leitura do mercado foi a seguinte: se veio do governo Lula e do PT, o novo arcabouço fiscal não pode ser bom. O mercado realmente não comprou a ideia, continuou com uma narrativa de muita preocupação com o desequilíbrio das contas públicas.

O arcabouço ainda não está completo, porque ele depende, sim, de um aumento de arrecadação do governo. Mas o ministro Haddad está fazendo uma série de iniciativas para buscar esse aumento de receitas, algumas que eu acho muito boas, outras, nem tanto. O nosso calcanhar de Aquiles, que é a trajetória desgovernada da dívida/PIB, com o arcabouço já fica afastada. Se essa hipótese está afastada, então o Brasil está em geral muito barato.

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O mercado ainda está com o pé atrás com o novo governo Lula?

O mercado está mudando de opinião rapidamente, alguns gestores com muita visibilidade já vêm maneirando o discurso nos últimos meses. Mas acho que, sim, o mercado estava absolutamente negativo em relação ao arcabouço, só agora está começando a enxergar as virtudes. Nas últimas semanas também houve uma grande preocupação com a China e isso contaminou o ambiente para mercados emergentes em todo o mundo.

O nosso BC fez um trabalho espetacular e agora o Brasil está na contramão do mundo, com a inflação dando sinais de convergir para a meta. Já conseguimos vislumbrar aqui uma queda bem grande dos juros e toda vez que isso aconteceu sem ser causado por uma grande recessão ou por uma grande crise lá fora, aconteceu uma reprecificação muito forte nos ativos de risco. O que pode estar atrapalhando isso são essas percepções equivocadas em relação ao arcabouço.

Faltam apenas 4 meses para terminar o ano. Qual o balanço das decisões do governo que respingaram no mercado financeiro?

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Tenho uma leitura positiva. Primeiro, porque acho que o Brasil amadureceu, 30 anos atrás tinha um abismo entre os discursos econômicos. Para quem já viu default da dívida externa em 1987, congelamento de preço, banda diagonal endógena no começo do governo FHC, depois a proposta do PT de congelar o câmbio, a nova matriz econômica; hoje vemos como os discursos são diferentes. Em relação ao fiscal, a mesma coisa.

O teto de gastos foi espetacular e nos tirou da lama, deixando o País muito mais arrumado. Mas não é verdade que era um mecanismo perfeito e o mercado botou na cabeça que era. Ele foi muito perverso, porque no ano que foi ruim e se crescia pouco, a despesa era menor ainda e faltava o dinheiro para setores essenciais como educação e saúde, coisa que não pode acontecer em um País como o nosso não dá.

O arcabouço está inserido não como uma destruição do teto, mas como um aperfeiçoamento, pois é um mecanismo muito mais equilibrado. O que o mercado quer ver agora é ele ser cumprido. Claro que, teve a PEC do estouro, um aumento de gastos muito grande, então precisa ter uma recuperação de despesa, mas temos visto o ministro Haddad, corretamente, buscar algumas receitas que fazem muito sentido. Por exemplo, acabar com os fundos de fundos sem come cotas. É a regra correta, traz uma equanimidade porque começa a tratar todos como iguais.

Então o Sr. está otimista com o mercado brasileiro?

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Acho que estou realista. No meio financeiro, ficar pessimista o tempo inteiro, apontando onde estão os riscos e perigos virou um marketing de uma suposta inteligência. Mas os preços estão muito descontados. É evidente que nem todos os setores e empresas da Bolsa vão se beneficiar, mas há uma série de oportunidades. Junto com isso, não vejo um perigo muito grande no cenário lá fora. O problema seria uma grande recessão ou uma explosão da economia no exterior, podendo pegar o dinheiro todo do mundo e dos EUA. Agora é torcer para que o governo consiga realmente elevar um pouco as suas receitas, entregar o arcabouço da maneira que foi prometido e, se isso acontecer, a gente pode ver um salto ainda maior.

Quem vai sair como vencedor desse ciclo de queda da Selic?

Tenho cinco grandes apostas. A Bolsa, principalmente small e mid caps, que em todos os ciclos de quedas de juros da história no Brasil e nos EUA se valorizaram muito mais. Os fundos multimercados, porque podem investir em qualquer coisa e podem não só estar comprados, como vendidos, não só aqui dentro, como lá fora, então tem muita oportunidade. E vejo outros três segmentos que vão se favorecer muito. Os fiagros, porque já é o lado do Brasil que deu certo, com faturamentos fabulosos e que só tem a crescer. Vejo também grande oportunidade nos fundos imobiliários, mas é preciso escolher os ativos certos. E os fundos de infraestrutura, que estão dando excelentes resultados em média e crescendo muito.

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