Americanas identificou inconsistência contábil de R$ 20 bi. (Crédito: Divulgação)
As ações das Lojas Americanas (AMER3) amargaram uma queda histórica de 77,42% no pregão desta quinta-feira (12) e terminaram o dia cotadas a R$ 2,71. O valor de mercado da companhia caiu mais de R$ 8,37 bilhões em um dia – o montante é equivalente ao valor de mercado da Minerva, por exemplo, que vale R$ 8,4 bilhões. Os dados foram levantados por Einar Rivero, head comercial do TradeMap.
A derrocada acontece em função de “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões encontradas na conta de fornecedores da companhia. Essas inconsistências significam que a dívida da varejista pode estar subestimada em um montante bilionário.
O patrimônio líquido da Americanas pode ficar negativo, de acordo com os cálculos de analistas consultados pelo E-Investidor. Ter patrimônio líquido negativo acontece quando a empresa tem mais a pagar a terceiros do que ativos totais.
As informações foram divulgadas ao mercado por meio de fato relevante, publicado na noite da última quarta (11). No texto, também havia o anúncio de renúncia do então CEO das Lojas Americanas, Sérgio Rial, e o CFO, André Covre, que estavam há apenas dez dias no cargo.
Por volta das 9h desta quinta, Rial realizou uma videoconferência fechada com clientes do banco BTG sobre o caso. O executivo mencionou que a Americanas terá que realizar um aumento de capital no curto prazo para reajustar as contas. O cenário, entretanto, segue incerto. A varejista deve passar por uma nova auditoria para entender a dimensão do rombo contábil.
“Acredito que entramos em um cenário em que ninguém sabe qual será o preço justo dessa ação”, afirma Cauê Mançanares, CEO e sócio-fundador da Investo.
Ivan Barboza, sócio-gestor do Ártica Long Term FIA, ressalta que o desfalque é “grande o suficiente” para quebrar a empresa, se a Americanas não conseguir levantar capital novo para resgatar o negócio.
Publicidade
“O rombo representa 1,9x o valor da empresa no mercado até ontem”, afirma Barboza. “Para o mercado, fica o receio de se apenas as Lojas Americanas estavam adotando essa prática contábil condenável ou se podem surgir rombos de natureza semelhante em outras empresas.”
Durante o dia, bancos e corretoras como Ágora, XP e Itaú colocaram as ações AMER3 sob revisão. Alguns investidores minoritários também já estão procurando alguma forma de processar a Americanas. Pelo menos 100 acionistas e dois fundos buscaram o Instituto Empresa para abrir arbitragens contra a companhia na Câmara de Arbitragem de Mercado (CAM). Leia mais sobre arbitragens neste link.
A tombo das ações cravou a 6ª maior queda da Bolsa de Valores brasileira desde 1986. Segundo o levantamento do Economatica, feito a pedido do E-Investidor, a pior queda na história foi do banco Banese (BGIP4), que desvalorizou 90%, em julho de 1995.
Em segundo lugar ficou a administradora de empresas Cemepe (MAPT3), que recuou 87,50%, em agosto de 2019. Veja o ranking completo