Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe da Empiricus. (Foto: Filipe Redondo)
Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe da Empiricus, vê um grande ciclo de alta na Bolsa se iniciando no Brasil. Um tipo de oportunidade, principalmente em ações e fundos imobiliários (FIIs), que aparece poucas vezes e tem potencial de transformar a vida de quem conseguir surfar esse movimento.
Ele calcula alta de 40% para o Ibovespa até o final de 2026 em um cenário de “razoabilidade”, sem extremos em relação à condução fiscal. Já em uma conjuntura de alternância política, com a eleição de um candidato pró-mercado – hoje na figura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) – e reformas fiscalistas, a perspectiva é mais do que triplicar o capital.
Um movimento parecido com o que ocorreu após a saída de Dilma Rousseff em 2016, que engatilhou uma alta de mais de 160% da Bolsa de Valores nos 3 anos seguintes. “Isso é o que pode acontecer se tivermos de novo alternância política”, diz Miranda.
Contudo, não são só as eleições criam essa janela para grandes ganhos. Hoje, ativos brasileiros estão baratos em relação à média histórica, uma situação fruto de um conjunto de fatores globais e internos que levaram a um longo bear market – jargão financeiro que caracteriza o mercado em tendência de queda prolongada.
Nos últimos anos, as grandes empresas de tecnologia americanas (big techs) sugaram a liquidez dos mercados e roubaram a atratividade dos emergentes, como o Brasil. Paralelamente, a alta da taxa de juros Selic de 2% para 15% asfixiou os ganhos das empresas e empurrou investidores para a renda fixa.
Mas agora os EUA deixaram de ser o porto-seguro devido às incertezas provocadas pelas políticas de Donald Trump, o presidente do país. O evento DeepSeek, a inteligência artificial (IA) chinesa à altura das techs americanas, também fez com que parte do capital concentrado nos EUA se espalhasse pelo resto do mundo. Já a Selic deve começar a cair no ano que vem.
Ou seja, há uma receita perfeita, segundo Miranda, para um superciclo de alta – para o qual a maioria dos investidores não está preparada.
“Hoje ninguém tem ação no Brasil. Quando passa uma oportunidade desse tamanho e você não está nada alocado, é um risco enorme.”
E-Investidor – Por que você acredita que estamos diante de um novo superciclo de alta na Bolsa?
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E-Investidor – O que está acontecendo no mundo é o questionamento do excepcionalismo americano. O mercado está saindo do dólar e diversificando. Lembre que 1% da Nvidia (NVDC34) é um BTG Pactual (BPAC11) inteiro. Então, ficou tudo tão grande lá que qualquer fio de cabelo do fluxo internacional que pegarmos já será suficiente para termos um movimento significativo.
Já passamos pelo momento do pico desse excepcionalismo americano. Se antes o investidor tinha 70% em dólar, agora terá 60% em dólar no portfólio global. E essa redução já é um caminhão de dinheiro que começa a vir para emergentes.
A segunda grande força vem da queda da Selic. Estamos na 14ª revisão consecutiva para baixo das estimativas de inflaçãono Boletim Focus, o dólar está mais fraco no mundo e aqui também, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai cortar juro em setembro. O tamanho da folga para se cortar juros no Brasil está muito grande.
As eleições de 2026 entram nessa conta?
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É a terceira grande força. Não faço uma afirmação que haverá alternância política por aqui, mas só a possibilidade já faz preço.
Os últimos grandes ciclos do mercado brasileiro foram de 2003 a 2007, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu de um discurso radical e escreveu a Carta aos Brasileiros, e de 2016 a 2019, quando saímos de uma política intervencionista e gastona da ex-presidente Dilma Rousseff para o governo reformista e liberal de Michel Temer.
Nessa época, o Ibovespa saiu de cerca de 40 mil pontos para 120 mil pontos em três anos. É o que pode acontecer se tivermos de novo alternância política.
Mas hoje os portfólios não estão expressados de uma forma que represente essa chance de superciclo de Brasil. Ninguém tem ação no Brasil. A alocação da indústria de fundos em ações e multimercados está no seu porcentual mais baixo da história. Nunca vimos tantos resgates.
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Temos um Brasil barato e o porcentual da carteira alocada em ativos de risco brasileiros se mostra muito baixo. Eu recomendo para alguém mais conservador até 10% de exposição a ações e FIIs, para o o moderado entre 10% e 25% e o arrojado, entre 25% e 40%.
As políticas de Donald Trump aceleram o processo de saída de capital dos EUA?
A trajetória do dólar me parece estrutural. A economia desacelera por lá e o resfriamento do mercado de trabalho catalisa o corte de juros americanos. E se o juro no dólar é reduzido, o investidor vai procurar alternativas.
E aí você tem outras duas coisas. A primeira é o que o Luis Stuhlberger está chamando “all-in do Trump” no Fed. Ou seja, colocar alguém próximo ao governo no Fed para forçar uma queda para um juro real zero, o que atacaria uma das instituições mais clássicas dos EUA: a independência do banco central, algo que todos nós perseguimos.
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Trump impõe uma agenda deletéria para o mundo e, como consequência, todos passam a desconfiar dele. Os EUA, que forneciam um seguro para o planeta, tanto do ponto de vista institucional, reputacional e de segurança militar, hoje se tornaram uma fonte de preocupação mundial. O que era um vendedor de seguro, agora vende medo.
Qual o principal recado que o investidor precisa ouvir diante de todo esse cenário?
Existe uma oportunidade secular de ganhos na Bolsa à nossa frente. Participar de movimentos como esse transforma vidas. Quando passa uma oportunidade desse tamanho e você não está nada alocado, é um risco enorme.
Ao mesmo tempo, aprecie com moderação. Participe da oportunidade, se exponha a ela, mas não vá além dos seus próprios limites. Faça isso de uma forma diversificada, sem alavancagem, com um portfólio que vai ter moeda forte, ouro, posição de caixa e um pouquinho de criptomoeda. A arte aqui é você ser ganancioso o suficiente para participar, mas também prudente o suficiente para não fazer loucura.