- A oferta aconteceu na última sexta-feira (8) e foi destinada para os investidores com patrimônio investido superior a R$ 1 milhão
- O objetivo da rede varejista é utilizar o recurso para expandir os negócios para outras cidades
- Na avaliação de analistas, o sucesso na oferta de CRI pode servir como termômetro do otimismo para um novo IPO
Após duas tentativas frustradas de abrir capital na Bolsa de Valores brasileira, a Havan teve sucesso na oferta de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). O capital arrecadado foi superior ao objetivo da empresa, que era de R$ 500 milhões, e será destinado para a expansão da varejista. A companhia não revelou a quantia de forma oficial.
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Na avaliação de analistas, a arrecadação de recursos por meio da emissão de certificados pode apresentar para a empresa uma estimativa do comportamento do mercado em uma Oferta Pública de Ações (IPO).
A previsão é que a emissão de CRI aconteça no fim deste mês de abril. Os certificados ofertados na última sexta-feira (8) foram destinados para os investidores qualificados, que possuem um patrimônio investido superior a R$ 1 milhão. A remuneração será com o pagamento de 1,5% sobre o CDI mais taxa de 1,7% ao ano. “A captação no mercado de capitais está conectada com a maturidade financeira da companhia”, informou a empresa em nota ao E-Investidor.
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A oferta foi coordenada pelo banco BTG Pactual, Itaú BBA, Safra e XP. Segundo a apuração do Broadcast, o capital deve ser aplicado para financiar a expansão da rede varejista. A meta é abrir oito novas lojas neste ano em cidades com mais de 100 mil habitantes.
Segundo Christopher Galvão, analista da Nord Research, a alta procura pela oferta é baseada, principalmente, pela remuneração atrativa que os papéis podem oferecer ao investidor. “O Brasil está em um cenário de inflação muito alta e que ainda persiste, o que pode fazer com que o Banco Central (BC) tente elevar a Selic para patamares superiores a 12,75% a.a, o que está sendo projetado atualmente”, afirmou Galvão.
No entanto, esse não foi o único motivo. Analista da O2 Research, Mário Goulart destaca que os resultados financeiros da empresa também reforçaram o otimismo dos investidores. Segundo ele, a rede varejista tem dado lucro nos últimos anos e apresenta crescimento consistente. “Isso traz uma segurança para o investidor que a empresa vai honrar com o pagamento da dívida”, afirma Goulart.
Naturalmente, o interesse do investidor pelos CRI da Havan funciona como um termômetro da avaliação do mercado em relação um futuro IPO. “Há na memória que o mercado não estava muito interessado no negócio (IPO da empresa). Mas o fato dela (a Havan) ter conseguido o interesse de investidores que não colocam o seu dinheiro em qualquer empresa é um ponto positivo (para um projeto futuro)”, avalia o analista da O2.
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Thais Teixeira, head de investment banking da Lifetime, também tem a mesma percepção. No entanto, ela destaca que o sucesso obtido na oferta de CRIs não significa que será replicado em um futuro IPO por atender dois públicos diferentes de investidores. “Um IPO exige muito mais do investidor entrar na empresa do que um CRI. São dois produtos e operações completamente diferentes”, ressalta Teixeira.
Desafios para um IPO
A rede varejista tentou duas vezes realizar uma IPO na bolsa brasileira. Luciano Hang, dono das Lojas Havan, entrou com um pedido de abertura de capital na Comissão de Valores de Mobiliários (CVM) em agosto de 2020. Na época, a expectativa da empresa era arrecadar R$ 10 bilhões com a abertura de capital e chegar a R$ 100 bilhões em valor de mercado.
No entanto, a empresa desistiu do processo dois meses depois de iniciar o processo. Um ano depois, a empresa realizou uma nova tentativa, mas o pedido de registro de companhia aberta foi indeferido, de acordo com a publicação da CVM. Já em uma possível terceira tentativa, a empresa deve enfrentar um cenário macroeconômico desafiador para o varejo.
Segundo Lucas Correia, responsável pela análise de renda fixa da Warren, as questões relacionadas à governança, e-commerce pouco relevante e atuação da empresa em um setor cíclico são alguns fatores que pesam negativamente caso a Havan abra capital em breve. “Riscos fiscais e políticos também entram na equação. As questões macroeconômicas como a guerra na Ucrânia, inflação e Selic no Brasil em ascensão, também pesam negativamente para a janela de IPOs neste ano”.
Com esses fatores negativos no campo de negociação, Teixeira, da Lifetime, afirma que a varejista irá correr o risco de não ter uma adesão desejada do mercado. “O risco é não ter a aderência que eles precisam no preço que eles querem”, cita.
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Por meio de nota, a Havan informou ao E-Investidor que não há planos de IPO “para o curto prazo”.