Investimentos

Os 3 fatores que podem explicar a suspensão do IPO da Havan

Expectativa da empresa era captar R$ 10 bilhões com a abertura de capital

Os 3 fatores que podem explicar a suspensão do IPO da Havan
Empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan. Foto: Dida Sampaio / Estadão
  • Empresa do polêmico Luciano Hang tinha a intenção de fazer o IPO na B3 no segundo semestre de 2020, mas a oferta pública inicial pode ter ido por água abaixo
  • A varejista foi aconselhada pelos próprios bancos que estão assessorando a abertura de capital a adiar a oferta. Investidores consideraram o preço do IPO caro
  • A instabilidade do mercado também contribui para que a oferta seja vista com mais cautela

Um dos IPOs mais conhecidos e comentados do ano pode ter ido por água abaixo. As Lojas Havan, cujo dono é o polêmico empresário Luciano Hang, entrou com pedido de oferta na CVM em 27 de agosto. Na época, ventilou-se que a expectativa da empresa era captar R$ 10 bilhões com a abertura de capital e chegar aos R$ 100 bilhões de valor de mercado.

Se o cenário fosse concretizado, a varejista deixaria para trás todos os grandes players do setor, com exceção da líder Magazine Luiza (MGLU3), que é avaliada em cerca de R$ 150 bilhões. Para chegar ao patamar desejado, a rede de lojas catarinense deveria ser avaliada em mais de 130 vezes o lucro líquido apresentado em 2019, de R$ 756 milhões.

Na terça-feira (6), porém, a varejista foi aconselhada pelos bancos que estão assessorando a abertura de capital a adiar a oferta pública. A informação foi publicada pela Bloomberg. Procurada pelo E-Investidor, a empresa não quis comentar o assunto.

Expectativas de preço frustradas

Após uma rodada de conversas com potenciais investidores, que demonstraram resistência ao preço estipulado pela varejista, a Havan teria decidido cancelar o IPO. Os bancos que prestam assessoria financeira à rede de lojas também teriam aconselhado o adiamento.

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Para Caio Fernandez, CEO da Ivest, sem operação forte em e-commerce e com a marca ainda não consolidada, não existem fundamentos que justifiquem uma precificação tão alta. “Os donos de companhias sempre tentam estipular o maior preço possível, mas o mercado não comprou os argumentos da Havan”, explica.

Essa também é a opinião de Luiz Claudio Dias Melo, sócio-diretor da divisão de varejo da 360 Varejo. “As estimativas mais otimistas previam algo em torno de R$ 70 a R$ 80 bilhões [em valor de mercado], mas o mercado ponderou que os múltiplos estava muito acima das empresas comparáveis”, diz o especialista. “Quando olhamos para a tecnologia, o e-commerce representou apenas 1,1% da receita em 2019”, afirma. A Magazine Luiza, por exemplo, tem metade do faturamento vindo de e-commerce.

A governança centralizada na figura do ‘dono’ e o próprio risco associado à atuação política de Luciano Hang também podem ter pesado na balança e deixado os investidores mais cautelosos. “O mercado é um pouco avesso a esse modelo de governança e o Luciano Hang tem essa característica”, afirma Melo.

Orgulho x Metas ambiciosas

Mesmo que o valor aceito pelo mercado seja muito menor do que as expectativas iniciais da varejista, a empresa ainda teria sido muito bem precificada. “Ficaria em uma faixa de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões, o que já deixaria a Havan entre as maiores do setor”, diz  Melo. “Não duvido que a desistência também tenha sido motivada por orgulho. Se isso realmente aconteceu, foi uma grande besteira. Nada garante que o ambiente estará mais favorável daqui há algum tempo.”

Já para Fernandes, da Ivest, no primeiro momento esse tipo de decisão é vista de maneira positiva, porque demonstra que a empresa não precisa dos recursos que seriam captados para continuar com as operações. “Ela pode levantar dúvida do motivo pelo qual estava realizando o IPO se não precisa se capitalizar. Isto é, esse dinheiro vai para onde? Novas lojas ou para o bolso dos acionistas?”, afirma.

Instabilidade no mercado

O último fator elencado pelos especialistas é a instabilidade no mercado. Com os temores em relação ao compromisso do Governo com a questão fiscal, os investidores estão mais seletivos, o que desfavorece as aberturas de capital na Bolsa.

“Se a abertura de capital tivesse acontecido há dois meses, talvez o ambiente fosse mais favorável. Com todo esse embate que está vindo para manter o teto de gastos, os investidores não vão pagar um preço/lucro que está muito acima dos pares”, diz Melo. “A Havan tem um modelo de negócio interessante e com diferenciais, mas toda essa conjuntura pesa na decisão.”

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