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- Na segunda-feira (26), parte do mercado se surpreendeu com o anúncio da venda da Hering para o Soma. Havia expectativa por uma contraproposta da Arezzo (ARZZ3), que fez uma oferta de R$ 3 bilhões, recusada pela companhia de moda
- O resultado é positivo para a Hering e a prova disso se traduziu na alta de mais de 28% nas ações ordinárias negociadas na segunda (26) na B3
- Com a expansão de mercado, o BTG Pactual vê a aquisição com forte risco de execução por parte do Soma, ao considerar a performance operacional da Hering como fraca nos últimos anos
A recente ida às compras do Grupo Soma (SOMA3) não só completou a primeira dezena de marcas no closet da companhia, com a aquisição da Hering (HGTX3) por R$ 5,1 bilhões, mas deve sinalizar novas movimentações nos concorrentes do varejo de moda. Para analistas do mercado, outras gigantes nacionais, como Renner (LREN3) e Riachuelo, deverão anunciar aquisições em breve.
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Na segunda-feira (26), parte do mercado se surpreendeu com o anúncio da venda da Hering para o Soma. Havia expectativa por uma contraproposta da Arezzo (ARZZ3), que fez uma oferta de R$ 3 bilhões, recusada pela companhia de moda no último dia 14. Com a compra, o Soma, conhecido por deter marcas de luxo como Animale e Farm, oferece outras jornadas de consumo para um público de menor renda.
O resultado é positivo para a Hering e a prova disso se traduziu na alta de mais de 28% nas ações ordinárias negociadas na segunda (26) na B3.
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“A Hering vem aprimorando o seu trabalho e melhorando seus números, mas em uma velocidade muito aquém da agressividade que o mercado vai se transformar”, avalia Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. Para ela, a operação do Soma veio como o pulo do gato para a varejista. “Com o Soma Labs, o grupo já olha para operações de inovação e possui uma gestão mais orientada à transformação. Isso traz um nível de modernização e flexibilidade interessante para a Hering”, diz Tozzi.
A percepção é compartilhada por Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos. Segundo o especialista, a união ao Soma pode acelerar o turnaround da Hering, “uma gigante da moda e que nos últimos anos não estava conseguindo virar a chave da sua operação”.
A CEO da AGR entende que agora o SOMA3 atingiu uma nova perspectiva de crescimento, com foco em expansão digital, como uma “Magalu da moda”. Para isso, o grupo precisa adicionar marcas mais acessíveis ao seu portfólio, além das de alto valor agregado.
“A empresa precisa do extremo, de uma Animale ou Cris Barros, mas também de empresa de fluxo intenso na outra ponta, com itens básicos”, explica Tozzi. “Não surpreenderá que o Soma parta para outra marca de sapatos. Não falo de Arezzo, mas se for pensar no universo da moda, há muitas oportunidades no mercado.”
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Com a expansão de mercado, o BTG Pactual (BPAC11) vê a aquisição com forte risco de execução por parte do Soma, ao considerar a performance operacional da Hering como fraca nos últimos anos. “A maior força do Soma é a sua expertise em gerenciar múltiplas marcas, o que mitiga o risco de concentração de receitas em um único lugar e também abre caminho para mais aquisições”, afirmam os analistas Luiz Guanais, Gabriel Savi e Victor Rogatis em relatório.
O BTG tem recomendação de compra para o papel SOMA3, com preço-alvo de R$ 17 e potencial de alta de 34,2% em relação aos R$ 12,67 negociados na segunda-feira (26). No primeiro pregão da semana, marcado pelo anúncio da compra, o papel caiu 10,14%, em relação aos R$ 14,10 da sexta-feira (23).
Mesmo com aval do Cade, a combinação dos negócios deve ocupar a sétima posição em market share, com cerca de 3% do mercado de moda, segundo dados da consultoria Euromonitor obtidos pelo Broadcast.
A empresa ficaria acima da Marisa, que fechou 2020 com 1,7% do mercado brasileiro, mas atrás da C&A (3,8%), a sexta no segmento no ano passado. A líder do ranking é a gaúcha Renner (5,9%), seguida da Nike (4,1%) e do grupo Guararapes, dono da Riachuelo (4,1%), conforme a consultoria.
Concorrência em ascensão
Com a movimentação gerada pelo Grupo Soma, que estreou na B3 em julho de 2020, a expectativa é que as concorrentes vão se movimentar. João Beck, sócio da BRA, avalia que no atual contexto do varejo confirma-se o que foi previsto no início da pandemia: “As empresas grandes e com acesso a capital se tornam cada vez maiores. As varejistas que se modernizaram e criaram um ambiente omnichannel se sobressaem em relação ao pequeno comerciante, que tem menos musculatura para competir.”
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Para o especialista, o mercado penaliza a Arezzo no curto prazo porque havia uma expectativa da fusão e dos ganhos de escala junto da Hering. “Essa é uma queda pontual e de menor importância frente aos dados operacionais e de vendas que a empresa vem reportando no passado recente”, diz Beck.
No caso da Arezzo, Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, observa que o mercado questiona qual seria a próxima marca a ser adquirida no mesmo foco da Hering capaz de elevar a empresa calçadista de patamar. Sobre o ambiente de concorrência, Costa afirma que outras marcas concorrentes da Arezzo, de maior valor, vão tentar se unir à marcas que têm menos valor.
“Guararapes e Lojas Renner vão querer buscar marcas como a Arezzo. Não falo que vão fazer uma fusão, mas marcas com têm ticket médio baixo vão buscar marcas de luxo. Já o caso inverso, como o da Arezzo, deve buscar uma marca de valor agregado menor”, analisa o sócio da Fatorial.
Parte dessas expectativas já foram sinalizadas. A Renner, por exemplo, afirmou que fará uma oferta de ações com potencial de atingir até R$ 6,5 bilhões. Circula no mercado a possibilidade de comprar o e-commerce de moda Dafiti, com um valor estimado no mercado de R$ 10 bilhões, segundo apurou o Estadão.
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“A Renner é uma excelente loja de produto, mas a pandemia fez com que os seus concorrentes fizessem movimentos mais agressivos”, destaca Tozzi, da AGR. Para a especialista, é questão de tempo para nomes como o da varejista gaúcha ou da Riachuelo anunciarem movimentos parecidos.
No caso da Renner, com forte operação física, o objetivo é fortalecer o digital. Por isso há a expectativa de um nome forte nesta seara, como o da Dafiti. “Quando a função é ser on-line, a empresa precisa de tráfego”, diz Tozzi. “A Dafiti já tem um grande movimento de clientes, então é como engatar a Renner dentro desse fluxo, para alavancar o crescimento no on-line”, conclui a CEO da AGR, sobre a possível aquisição.