- Na próxima quarta-feira (18), acontece uma das mais aguardadas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC)
- A expectativa majoritária é de que a autoridade monetária suba a taxa básica de juros Selic, hoje em 10,5% ao ano, em pelo menos 0,25 ponto percentual
- Contudo, há quem veja exagero na interpretação desses dados e outro motivo por trás da suposta necessidade de subir a taxa Selic: uma tentativa do BC de “ comprar credibilidade” junto ao mercado
Na próxima quarta-feira (18), acontece uma das mais aguardadas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A expectativa majoritária é de que a autoridade monetária suba a taxa básica de juros Selic, hoje em 10,5% ao ano, em pelo menos 0,25 ponto percentual. Se esse cenário se concretizar será a primeira elevação desde agosto de 2022.
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Entre os fatores que justificariam essa nova alta seria a desancoragem das expectativas inflacionárias para os próximos anos, além da subida do dólar e reaceleração da atividade econômica.
Contudo, há quem veja exagero na interpretação desses dados e outro motivo por trás da suposta necessidade de subir a taxa Selic: uma tentativa do BC de “ comprar credibilidade” junto ao mercado em um momento de troca de liderança – Roberto Campos Neto, atual presidente da instituição, deixa o posto no final do ano. No lugar dele, assume Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária, cujo nome enfrentou questionamentos quando foi indicado ao posto pelo Governo.
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A TAG Investimentos, por exemplo, chamou essa situação de “viralatismo monetário” e não vê sentido em subir a Selic agora, para baixar a taxa novamente em meados de 2025, como está precificado na curva de juros.
“Começando pelo básico de política monetária, onde os efeitos das ações nas alterações de juros começam a aparecer entre 12 e 18 meses. Logo, é um completo absurdo uma curva que precifica altas e, já nove meses depois, começa a precificar quedas”, diz a TAG, em carta mensal relacionada à setembro.
A casa também aponta a falta de sentido em subir a Selic face a uma inflação que, olhando 18 meses à frente (janela especificada pelo BC), está apenas 0,2% acima da meta. Ou seja, em 3,2% ao ano. A TAG coloca ainda que nas últimas semanas houve melhora em vários parâmetros, como a queda das inflações implícitas de dois anos, recuperação do real frente ao dólar e notícias fiscais positivas. Além disso, o Federal Reserve (Fed, banco central americano), “cimentou” o início dos cortes de juros nos EUA.
“Muito do debate sobre política monetária tem sido pautado por um mercado financeiro ciclotímico e birrento”, diz a TAG, que apesar de acreditar não ser o correto subir o juros no momento, vê uma chance de 50% para manutenção e 50% de uma subida de 0,25 pontos percentuais. “O mercado já está com a cabeça feita de que vem um aumento de juros em setembro.”
O banco Daycoval também possui uma visão de manutenção da Selic em 10,5% ao ano. Isto porque entre a última reunião, em julho, e este novo encontro, não houve “alteração significativa de cenário”. Portanto, se o BC manteve o juro inalterado naquela época, deveria adotar a mesma postura na próxima quarta.
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“A taxa de câmbio e as expectativas de inflação estão no mesmo patamar do Copom passado. O dado novo que poderia estar associado a necessidade de elevação de juros foi o PIB (Produto Interno Bruto) do 2º trimestre mais forte em relação ao que era previsto. Contudo, este mesmo PIB mostrou desaceleração do principal componente de demanda, que é o consumo das famílias”, diz Julio Cesar de Mello Barros, economista do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval.
Além disso, Barros destaca os dados recentes de inflação, que vieram em uma qualidade melhor do que a esperada. “No front externo houve consolidação do cenário de cortes pelo Fed e isto deve contribuir para quadro menos adverso à frente”, afirma o economista. “Entendemos que a estratégia de juros altos por mais tempo permanece válida. Por fim, sobre a questão da credibilidade da autoridade monetária, cremos que seguir o modelo e a comunicação feita no comunicado e ata seja o mais adequado.”
Tem que ser em setembro?
André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, até entende as motivações por trás de quem apoia uma alta da taxa nesta reunião, mas questiona se o timing está realmente correto. Afinal, as economias desenvolvidas estão começando os movimentos de corte de juros, o que mesmo em um cenário de manutenção, já tornaria a Selic ainda mais restritiva em “termos relativos”.
“Eu gostaria de trazer esse ponto para o debate, porque o Brasil já tem uma das taxas reais de juros mais elevadas do mundo”, afirma Galhardo. “Aparentemente, temos um cenário em que nós poderíamos esperar mais um tempo para verificar se esses riscos inflacionários, de fato, são permanentes.”