O que este conteúdo fez por você?
- Juros americanos pesaram sobre o índice.
- Indefinição sobre a Reforma Tributária, no Brasil, também prejudicou.
- Congresso e Banco Central também não ajudaram.
O Ibovespa encerrou setembro no zero a zero ao fechar em alta de 0,71% no mês e fechar a sessão do dia em alta de 0,72%. O principal índice da Bolsa brasileira se viu pressionado pelos movimentos do Banco Central em torno dos juros.
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Acontece que a taxa está em patamar elevado e acaba prejudicando todas as empresas abertas, em especial aquelas que tem recebimentos no fluxo futuro, como as varejistas, cujas transações diárias demandam financiamento ao cliente.
No dia 20 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic de 13,25% ao ano para 12,75% ao ano, mas, ainda assim, há um clamor por parte do empresariado que pede para a autoridade monetária acelerar o ciclo de cortes dos juros brasileiros.
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O Banco Central, por sua vez, justifica que este é um movimento sensível, especialmente porque o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) também tem trabalhado com juros elevados para conter a inflação que por lá alcança os 3,7%.
Por se tratar da maior economia do planeta, o que acontece nos EUA acaba refletindo nos demais mercados, pressionando ativos e dificultando a vida dos emergentes. No caso do Brasil, as empresas de maior peso na Bolsa são aquelas que tem operações no estrangeiro.
A Petrobras (PETR3; PETR4), por exemplo, tem parte de suas operações condicionadas ao preço do petróleo, cujo tipo Brent marcava US$ 95,37 por volta das 14h30. O WTI, por sua vez, marcava US$ 91,01. A empresa tem sido pressionada a reajustar o preço dos combustíveis que produz, mas resiste.
Já a Vale (VALE3) é uma das principais parceiras comerciais da China, país asiático que consome muito aço na construção civil que, atualmente, está estagnada. As vendas de moradias por lá desaceleram para uma alta de 3,7% no primeiro semestre. Até maio, o ganho anual era de 11,9%.
Reforma Tributária pesou
O cofundador da L4 Capital, Felipe Pontes, explica que também pesou contra a Bolsa brasileira a indefinição sobre a Reforma Tributária, e isso gera incerteza. “A única coisa que o mercado financeiro em geral teme é incerteza”, diz.
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Outro ponto que o executivo elenca é a questão da pressão nos gastos públicos, ressaltando que este fator gera influência para o aumento das receitas do governo, por meio de tributação. “Com a falta de clareza sobre como o governo pretende equilibrar as contas, o mercado financeiro recua”, afirma.
Do lado dos juros brasileiros, ele aponta que há um descompasso entre o Comitê de Política Monetária (Copom) e a expectativa do mercado. “Há um apelo por celeridade no corte dos juros”, indica.
O executivo acrescenta que há também a pressão que vem do câmbio, com o dólar exercendo força contra o Ibov. “Se a moeda norte-americana sobe, acaba aumentando o custo das empresas brasileiras que precisam importar insumos”.
Juro de 10 anos nos EUA
O analista Bruce Barbosa, sócio fundador da Nord Research, esclarece que o Ibov começou setembro bem e seguiu bem até o dia 14, reportando alta de mais de 3%, mas virou a chave quando o juro de 10 anos do mercado americano começou a subir.
Ele acrescenta que as Small Caps – índice que contempla empresas de menor capitalização — caíram muito mais que o Ibov. “No acumulado do ano o Ibovespa está com 5,6% de queda e as Small Caps estão com 4,9% de queda”, ressalta.
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Como fatores positivos para o investidor se ater, ele destaca que a Bolsa está barata e o juro em queda, mas, ainda assim, o mercado tem dúvida sobre o comprometimento fiscal do governo. “Por isso o CDI [Certificado de Depósito Interbancário] está caindo, mas a curva longa [de juros] não.”
Barbosa acrescenta ainda que o investidor estrangeiro foi quem dominou o fluxo no Brasil. “Ele saiu até março, voltou, depois saiu de novo. Ainda assim, é possível que ocorra um rali de fim de ano”, frisa.
Sell-off em setembro
Já o analista chefe da Levante Corp, Eduardo Rahal, lembra que o mês de agosto marcou uma realização mais expressiva frente ao mês de setembro. “Em agosto, tivemos o início do ciclo de corte de juros, enquanto em setembro houve um sell-off significativo nos últimos dias,” afirma, citando o termo que designa um grande volume de venda.
Ele classifica como fatores positivos os múltiplos atrativos na bolsa brasileira para quem possui um horizonte maior de tempo. Também o ciclo de queda da Selic, que, se alinhado com um fiscal mais sólido, pode resultar em uma redução expressiva do custo de capital para as empresas e, consequentemente, destravar valor em ações.
Em relação a outubro, ele afirma que para o curto prazo não gosta desse tipo de previsão. “No entanto, o que temos visto é uma lateralização do mercado acionário”, destaca, acrescentando que observa um dólar estruturalmente mais forte. “Gostamos de posições que se beneficiam deste cenário na bolsa brasileira, como por exemplo as exportadoras”, conclui.
Daqui para frente
De acordo com os analistas, se uma valorização da moeda norte-americana se confirmar, conforme expectativa do mercado, o investidor deve buscar proteção no dólar e em empresas cujas operações possam se beneficiar de uma subida do ativo.
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Um levantamento da Capital Economics aponta que os mercados emergentes têm apresentado riscos financeiros menores, conforme relatório divulgado dia 27, elencando que os riscos cambiais e de dívida estão diminuindo.
No documento, informa que os cambiais como fruto do melhor preparo dos países para lidar com as taxas de juros elevadas nos EUA, e os de dívida como resultado do menor endividamento em moeda estrangeira. A consultoria também afirma que os riscos bancários são baixos.
Já o Boletim Focus do Banco Central (BC) projeta, em relatório divulgado dia 25, que o dólar permanecerá em R$ 4,95 em 2023 e passa a R$ 5 em 2024, alcançando R$ 5,10 em 2025.
Nesta sexta o dólar à vista fechou a sessão em baixa de 0,26%, a R$ 5,0268, após oscilar entre R$ 4,9884 e R$ 5,0355. Na semana, a moeda subiu 1,91% e, em setembro, reportou alta de 1,53%. No ano, entretanto, o ativo cai 4,80%.
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Além do dólar, o investidor deve buscar ativos relacionados a bancos que, justamente por conta dos juros, estão performando melhor. Estes são os dois setores que podem contribuir para que a carteira de investimentos do brasileiro consiga ultrapassar o alvo, que é o Ibov.
De acordo com o head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T, Diego Costa, as incertezas econômicas globais tornam ainda mais interessante o investimento no dólar, que é a moeda de reserva internacional.
Segundo ele, os EUA possuem uma economia mais estável, tornando-se o destino mais procurado no mundo em tempos de crise. No Brasil, o prêmio é mais elevado, mas no dólar os investidores encontram uma maior segurança de que não perderão seu dinheiro.
Questões como liquidez, confiança e força da economia pesam para a escolha do dólar como reserva de proteção. Já a abertura de contas nos EUA é uma prática comum para aqueles que planejam viajar ou proteger seu patrimônio. Hoje, existem várias maneiras de abrir contas no exterior, inclusive por meio de aplicativos.
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“Outras opções incluem a compra de imóveis no exterior e investimentos de longo prazo em fundos mais seguros, vinculados a títulos públicos do governo norte-americano”, frisa.