Fluxo do investidor global em direção a mercados emergentes deve continuar no segundo semestre de 2025 e previsão para Ibovespa chega a 160 mil pontos. (Imagem: manassanant em Adobe Stock)
O Ibovespa avançou 15,44% no primeiro semestre de 2025, impulsionado pelo otimismo do mercado, apesar do cenário de juros elevados e do temor fiscal no País. Segundo analistas ouvidos pela reportagem, a tendência de alta deve persistir no segundo semestre, mas há riscos no radar.
De acordo com Luciano Telo, CIO (chief investment officer) do UBS Global Wealth Management no Brasil, o fluxo de recursos para a Bolsa de Valores brasileira no primeiro semestre foi impulsionado por fatores globais que beneficiaram a América Latina. “O momento do dólar mais fraco provoca um reposicionamento dos ativos globais, com o capital migrando para outras regiões, já que muitos investidores estão excessivamente expostos a ações nos Estados Unidos. Além disso, houve uma revisão para baixo no crescimento americano, enquanto vários outros países passaram a ter projeções mais favoráveis”, explica.
Em linhas gerais, os analistas dizem que o fluxo do investidor global em direção aos mercados emergentes deve continuar nos próximos meses. O estrategista-chefe do Itaú BBA, Daniel Gewehr, vê o Ibovespa barato, negociado a preço sobre lucro (P/L) de 8 vezes, abaixo de sua média histórica de 10 vezes. O múltiplo mostra quantos anos o investidor deve esperar para o retorno do investimento realizado.
“As empresas são grandes vencedoras do cenário macroeconômico adverso com a Selic a 15% ao ano”, diz Gewehr. O Itaú BBA estima que o Ibovespa deve encerrar 2025 aos 145 mil pontos.
O JPMorgan projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve desacelerar no segundo semestre de 2025 devido às altas taxas de juros, mas a inflação em queda deve permitir que o Banco Central (BC) alivie as taxas até o final do ano. O banco prevê a Selic a 10,50% ao ano no término de 2026. “Essa flexibilização pode beneficiar o mercado acionário brasileiro, especialmente as empresas de alta alavancagem. As ações brasileiras continuam muito subavaliadas, por isso as estimativas apontam que os ativos locais ainda são atraentes”, reforçam Rajiv Batra, Emy Shayo Cherman e Anindita Gandhi, que assinam o relatório do JPMorgan.
Para o Santander, a Bolsa deve terminar 2025 por volta dos 160 mil pontos em função do início da queda da taxa de juros. Na visão de Ricardo Peretti, estrategista da Santander Corretora, a Selic terá seu primeiro corte na primeira reunião do próximo ano, com os juros encerrando 2026 em 13%. “Esse é outro fator que pode encher ainda mais o mercado acionário de investidores estrangeiros”, afirma.
O que pode mudar as previsões atuais
Jerson Zanlorenzi, chefe da mesa de ações e derivativos do BTG Digital, afirma que o caminho para o Ibovespa chegar nos 160 mil pontos não é linear. “Temos boas perspectivas, mas com convicção de volatilidade. O cenário pode mudar com bastante velocidade. Fica muito difícil saber se daqui a duas horas teremos um novo conflito armado e o petróleo pode subir 15%, precificando toda a inflação do mundo e mudando os ciclos de juros ditados pelos bancos centrais”, argumenta.
Além do fluxo de investidor estrangeiro e do corte de juros, o mercado também pode observar uma alta no índice devido a proximidade do cenário eleitoral. Os analistas do JPMorgan dizem que pesquisas indicando uma troca de governo podem animar o mercado, que almeja uma gestão que resolva o déficit das contas públicas. “A narrativa eleitoral se mostra vital. Pesquisas evidenciam crescente rejeição ao presidente Lula e aumento da competitividade dos candidatos da oposição para a corrida à Presidência da República”, dizem, em relatório.
O fato é que prevalece otimismo entre os analistas, mas o recado é claro: neste momento, o investidor deve ter cautela, mesmo com perspectiva de alta para a Bolsa de Valores.