- Nesta quarta-feira (8), o Banco Central elevou a taxa Selic para 9,25%, 1,5 ponto percentual a mais que a anterior
- Com a alta, ativos de renda fixa ficam mais atrativos, fazendo com que ações de empresas da Bolsa tenham mais dificuldade de gerar lucros para investidores
- Enquanto empresas de crescimento (growth) tendam a ter maiores dificuldades, como tecnologia e small caps, as empresas de valor (value) podem ser as melhores alternativas neste cenário
Com a Selic (taxa básica de juros) fechando o ano a 9,25%, 7,25 pontos percentuais a mais do que no início de 2021, alguns segmentos da economia sofrem maior impacto. Em geral, a renda variável perde atratividade e alguns setores da Bolsa tendem a despencar, como foi visto ao longo do ano.
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Setores como varejo e construção civil sofrem com o encarecimento e consequente perda de atratividade de consumidores e investidores. “Uma vez que tem essa subida nos juros e você deixa a renda fixa mais atrativa, o carrego da renda fixa fica maior, fazendo com que os investidores sejam levados a migrar da Bolsa para ativos dessa classe. Ou seja, o impacto não é apenas em preços de ações”, aponta Antonio Carlos Pedrolin, líder de mesa de renda variável da Blue3.
Construção do cenário
Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, aponta que em 2020 houve um cenário diferente do atual. “Tinha muito estímulo para a Bolsa por conta dos juros baixos. Somado à isso, a pandemia causou um aumento grande de e-commerce e tecnologia, tornando os investimentos nessas empresas bastante interessantes”, aponta.
Por outro lado, Vieira destaca que 2021 sofreu as consequências do ano anterior com uma inflação mais intensa, fazendo com que o BC a controle via alta de juros. “Quando retira-se o estímulo monetário que tínhamos antes, acaba impactando sobretudo o varejo, onde víamos uma alta mais específica”, indica.
Segmentos impactados negativamente
O principal setor impactado com o crescimento dos juros é o varejo, que não por acaso é formado por empresas do lado negativo do Ibovespa. Magazine Luiza (MGLU3) cai 74,83% no acumulado anual, seguido por Via (VIIA3), Pão de Açúcar (PCAR3) e Americanas (AMER3), com tombos respectivos de 66,83%, 69,77% e 63,01%.
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Ao parcelar as compras, os consumidores conseguem adequar-se ao tamanho do bolso quando os juros não estão elevados, explica Vieira. Por conta disso, varejistas acabam sofrendo mais.
A operadora de renda variável ainda destaca que algumas empresas até tentaram segurar preços ao máximo, mas chegou uma hora que foi necessário repassá-los ao consumidor, encarecendo o produto e diminuindo as vendas.
Ela indica que os investidores que buscam papéis de varejo na carteira devem procurar empresas direcionadas para as classes mais altas e que tenham portfólio de atuação amplo.
Outro setor impactado, segundo a especialista, é o de companhias voltadas para tecnologia. “Esse segmento precisa muito de capital para inserir dinheiro e assim crescer com número de clientes e contas ativas, por isso chamamos empresas de growth. Quando tem aumento de juros, esse custo de capital também fica mais caro”, afirma Vieira.
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Ela ainda complementa listando o setor imobiliário. Segundo Vieira, Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3) e Gafisa (GFSA3) são ativos que apresentaram perdas expressivas, já que os financiamentos também ficam mais custosos com a Selic elevada, sem contar a inflação nos custos com material de construção.
“Não quer dizer que as empresas vão quebrar, mas é um momento mais desafiador. Para quem tem essas empresas na carteira, deve olhar para um horizonte bem maior”, complementa Vieira.
Outro ponto de atenção são para as empresas mais endividadas, como destaca Antônio Sanches, especialista em investimentos da Rico. “As empresas mais endividadas acabam sofrendo porque, quanto maior a taxa de juros, mais a dívida daquela empresa vai crescer ao longo do tempo. Além disso, alguns setores exigem maior alavancagem, como empresas de aviação e construção civil, que têm custos elevados para as produções”, aponta.
Paloma Brum, analista de investimentos na Toro, destaca ainda o impacto no setor de educação. Segundo ela, neste cenário as despesas tendem a ser reduzidas, focadas no consumo de itens essenciais. “O orçamento das famílias para serviços de educação, principalmente de grau superior, tende a ser prejudicado, afetando as empresas do setor, que podem sofrer com o aumento da evasão e da taxa de inadimplência entre os atuais matriculados, além da queda na captação de novos alunos”, explica Brum.
Setores que podem ser beneficiados
Apesar dos impactos negativos para a classe em geral e para determinados setores, existem possibilidades de ganhos.
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Pedrolin, da Blue3, destaca que bancos e seguradoras podem receber impacto positivo em decorrência do aumento da Selic. O primeiro deles consegue realizar o repasse das operações de crédito. “Além disso, os bancos também fazem aplicações nas curvas de juros, à medida que o juros cresce, a receita financeira e o rendimento dos caixas também aumentam”, aponta. Já as seguradoras recebem o prêmio do segurado e aplicam esse valor em renda fixa. Dessa forma, o rendimento caixa e a receita também crescem.
As empresas de valor devem ser as que têm destaque maior e devem continuar no mesmo caminho, segundo a operadora de renda variável da B.Side, como é o caso de bancos e companhias de saneamento, gás e energia.