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Investidor estrangeiro volta para a B3 com R$ 63 bilhões na mala

O capital vindo do exterior já soma R$ 2,2 trilhões no acumulado deste ano, uma alta de 200% em relação a 2020

Investidor estrangeiro volta para a B3 com R$ 63 bilhões na mala
Foto: Pixabay
  • Aos poucos, os investidores estrangeiros estão voltando a enxergar oportunidades no Brasil
  • Caso o fluxo continue positivo até dezembro deste ano, será o maior aporte já recebido pela Bolsa brasileira desde 2009
  • A retomada econômica e o ciclo das commodities estão por trás da volta dos investidores globais

A passos lentos, os investidores estrangeiros estão voltando a enxergar oportunidades no Brasil. De abril a maio deste ano, o saldo de capital externo da B3 saltou 63,1%, saindo do patamar de R$ 10,1 bilhões para R$ 16,5 bilhões. Somente em junho (até o dia 23), o montante já está positivo em R$ 14,0 bilhões, resultado da entrada de R$ 323,7 bilhões e saída de R$ 309,6 bilhões.

No acumulado do 1º semestre deste ano, o cenário reforça ainda mais a restauração das expectativas em torno da economia brasileira. No total, chegaram ao País cerca de R$ 2,2 trilhões em compra de ativos e operações envolvendo IPOs/Follow On e saíram R$ 2,1 trilhões em vendas, o que resulta em superávit de R$ 63 bilhões de capital estrangeiro. É importante ressaltar que em comparação ao mesmo período de 2020 o salto é de 200%.

Aliás o montante obtido durante todo o ano passado, de R$ 5,4 bilhões, é 1/12 (um doze avos) do registrado na primeira metade de 2021, segundo dados disponibilizados pela B3. Caso o fluxo continue positivo até dezembro, será o maior aporte já recebido pela Bolsa brasileira desde 2009, quando os estrangeiros trouxeram R$ 50 bilhões para o mercado de investimentos doméstico (dados da XP). Na época, o Brasil tinha acabado de ser considerado Grau de Investimento, classificação de risco dada por agências de rating para países com boas chances de honrar dívidas. O selo, entretanto, foi perdido em meados de 2015 a 2016.

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QUADRO

De acordo com Paula Zogbi, analista da Rico, a recuperação da confiança nos últimos meses é notável, mas a base de comparação é baixa. “Estamos vindo de um momento ruim. No início do ano estávamos sem perspectivas de vacinação, a segunda onda de coronavírus estava muito forte e não tínhamos notícias sobre auxílio emergencial, o que era negativo para a economia”, diz. “Chegamos a ser a pior Bolsa e moeda do mundo nos dois primeiros meses de 2021.”

Entre janeiro e fevereiro, o Ibovespa desabou 7,5%, saindo dos 119.024,29 pontos alcançados no primeiro pregão do ano, para 110.035,17 pontos ao final do bimestre. Até 8 de março, o real estava entre as moedas que mais se desvalorizaram frente ao dólar no mundo, após uma queda de 11,6%, para US$ 0,17.

No período, o saldo de capital estrangeiro saiu de um superávit de R$ 24,5 bilhões, no primeiro mês de 2021, para duas quedas consecutivas, de R$ 3,9 bilhões e R$ 4,6 bilhões, em fevereiro e março. Para Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, a imagem do Brasil começou a melhorar a partir da eleição de Joe Biden na presidência dos Estados Unidos.

Com a posse do Democrata, os investidores esperavam que o impacto do pacote de estímulos trilionário à economia americana fizesse o dólar arrefecer em relação a moeda de países emergentes. Os maiores estímulos também poderiam aquecer ainda mais a demanda por commodities e impulsionar empresas da B3 ligadas a esses insumos.

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“Começou a se formar o consenso que teria mais fluxo de gringos para o mercados emergentes. Isso foi interrompido um pouco pela valorização do dólar no primeiro semestre, mas agora já está voltando”, afirma. “Há uma expectativa de que com um novo ciclo global de commodities se formando, os países emergentes tradicionais, aqueles fora da Ásia (Brasil, México, África do Sul e Rússia) vão começar a se beneficiar.”

Preços atrativos na B3

Além do ciclo de alta das commodities, outros fatores criaram um cenário encorajador para os investidores estrangeiros no Brasil. A alta de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre ficou acima das expectativas do mercado e o avanço da vacinação geraram uma conjuntura positiva para a retomada econômica no próximo semestre.

O principal indicador de ações da Bolsa brasileira subiu 7% só entre 1 de maio e 25 de junho e chegou a atingir o pico histórico nominal de 131.190,30 pontos no início do mês. “Os números fiscais têm melhorado bastante, a dívida/PIB que estava acima de 96% no fim do ano passado já está em 82% atualmente. A economia está dando sinais de recuperação. Esperamos um crescimento de 5,2% esse ano”, diz Zogbi. “Além disso, há o ciclo de alta das commodities que continua trazendo bons ventos, já que 36% da nossa Bolsa é formada por empresas ligadas ao setor.”

Mesmo com o boom nos preços das matérias-primas, a Bolsa continuaria atrativa em relação ao preço dos ativos. Segundo Zogbi, o Ibovespa ainda tem espaço para subir até os 145 mil pontos em 2021 e está negociando a um P/L (preço sobre lucro, indicador usado para avaliar se determinado preço está ‘caro ou barato’) de 11x, abaixo da média histórica. “É um desconto de 52% em relação ao S&P 500, a bolsa americana”, afirma.

Essa também é a visão de Attuch, que vê os investidores estrangeiros ensaiando uma volta para as terras brasileiras, na esteira do afastamento do risco fiscal e alta na demanda por insumos. Contudo, para o especialista, o principal fator leva em conta o movimento estrutural de ‘transação energética’, ou seja, de substituição de combustíveis fósseis, mais poluentes, por energia renovável.

“É o principal tema de investimentos dos próximos 10 anos. Para construir toda a infraestrutura para o mundo passar a ser movido por energia renovável, é necessário uma série de commodities”, diz Attuch. “As principais são o cobre, cobalto, lítio, e com isso temos essa tendência secular de commodities se apreciando.”

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Um terceiro fator apontado por José Cataldo, head de research da Ágora Investimentos, é o ciclo de alta dos juros, que atrai ainda mais o investidor de fora. “No passado, os investidores estrangeiros tinham entradas mais fortes na renda fixa, com a Selic mais elevada. Agora estamos longes dos antigos patamares, mas esse investidor pode ser mais remunerados com a Selic aumentando”, afirma.

Quem é o investidor estrangeiro

O investidor estrangeiro é responsável por 48,35% do capital negociado na B3. Geralmente, são investidores com grande patrimônio e que ainda seguem com cautela. A volatilidade e incerteza sobre as eleições presidenciais de 2022 são algumas das questões que continuam no radar dos ‘gringos’.

“Eles não estão investem em qualquer empresa nacional. Sempre questionam se vale a pena investir em ações de valor ou de crescimento. Estão cautelosamente otimistas”, afirma Zogbi. “A maioria ainda tem exposição a uma carteira mais defensiva de Brasil, uma tese ainda mais conservadora do País. Vemos espaço para eles virem para companhias mais ‘arriscadas’.”

Cataldo ressalta ainda que, no momento, o investidor global que está vindo para a B3 ainda pensa no curto e médio prazos. Os grandes investidores estrangeiros, ou seja, como os fundos globais de pensão, só irão voltar para a nossa Bolsa caso o País recupere o grau de investimento.

“Na verdade, a participação dos investidores é mais bem dividida na B3. Durante todo esse período de pandemia, quem segurou o mercado foi o investidor pessoa física e os institucionais. Agora, o investidor global começa a ficar de olho também”, afirma Cataldo.

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