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- Na última segunda-feira (9), primeiro pregão após o anúncio da vitória de Biden, a B3 registrou o maior aporte de recursos estrangeiros desde 2007, com a entrada de R$ 4,5 bilhões
- Para Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, o fluxo de estrangeiros recorde na B3 foi reflexo de um excesso de otimismo global. Por aqui, a questão fiscal pesa mais na balança no longo prazo
- Os especialistas consultados pelo E-Investidor também não enxergam uma onda progressista se formando na América a partir da vitória de Joe Biden
Em 2016, uma ‘onda conservadora’ atingiu várias nações do mundo, a começar pelos Estados Unidos. Depois de Donald Trump, veio a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 no Brasil, Iván Duque na Colômbia, Sebastián Piñera no Chile, e de vários outros líderes com vieses políticos parecidos. Agora, em 2020, o dono do discurso ‘Make America Great Again’ foi derrotado pelo democrata Joe Biden – e os mercados responderam com positividade.
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Na última segunda-feira (9), primeiro pregão após o anúncio da vitória de Biden, a B3 registrou o maior aporte de recursos estrangeiros desde 2007, com a entrada de R$ 4,5 bilhões. As bolsas internacionais também operaram em forte alta no início da semana, na esteira não só da eleição do democrata, que trouxe previsibilidade para as Bolsas, mas dos avanços em relação à vacina contra o coronavírus.
Seria o início de uma nova onda, dessa vez, progressista? De que forma o Brasil será impactado nesse novo cenário? O E-Investidor foi atrás das respostas.
B3 depende mais de fatores internos
Para Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, o fluxo de estrangeiros recorde na B3 foi reflexo de um excesso de otimismo global. Dessa forma, os mercados acabaram fazendo uma ‘realocação de recursos’. Isto é, os investidores tiraram dinheiro das economias mais desenvolvidas, onde já tiveram grandes retornos durante a crise, e levaram para economias emergentes, como o Brasil.
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Entretanto, por aqui, o movimento tem caráter pontual. “Como o risco aqui está muito alto, o investidor não se sente confortável de investir na economia brasileira, o capital que chegou essa semana é voltado para o lucro de curto prazo. Só vamos ter a volta, de fato, do fluxo estrangeiro quando arrumarmos a questão fiscal”, afirma Brum.
Sem um controle bem definido da dívida pública, por exemplo, o dólar continuaria em patamares bastante altos em relação ao real, independentemente de quem seja o presidente dos EUA. Por outro lado, o fato de Biden ter uma postura mais pragmática, que favorece negociações multilaterais com outros países, pode beneficiar não só o Brasil, mas todas as economias globais.
“O Biden é um negociador, sem falar que ele dá um peso muito grande às instituições. Então, essa característica dá um tom de previsibilidade ao governo”, explica Brum. “Provavelmente não será um político como o Trump, que de uma hora para outra solta um tweet que impacta o mercado”, diz.
O Congresso norte-americano com maioria republicana também dificultaria a imposição de algumas propostas sensíveis de Biden, como o aumento de impostos e de gastos públicos. Segundo a analista, historicamente o S&P 500 performa melhor quando o parlamento tem maioria do partido de oposição ao presidente, porque balanceia as decisões.
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“E de qualquer forma, no curto prazo também não é previsto nenhum aumento de gastos arrojado, porque a economia dos EUA está em crise, e o Biden vai querer que a economia americana tenha um bom desempenho, porque é o mandato dele”, diz Brum.
Onda progressista em 2022?
A eleição de Biden nos EUA levantou dúvidas sobre uma possível ascensão de políticos mais progressistas na América – aos moldes do que aconteceu a partir de 2016. É importante lembrar que, principalmente no Brasil, uma inversão de tendência política impacta fortemente a Bolsa.
“Por aqui, o presidente da vez pode interferir muito no dia a dia do mercado, diferente do que acontece no próprio EUA, em que a segurança jurídica é maior e o chefe de Estado não pode mudar tudo”, explica Brum.
Ainda assim, a especialista não acredita que os rumos das eleições americanas consigam influenciar o curso político brasileiro e não vê uma onda mais à esquerda se formando no horizonte. “Quando a gente olha para o cenário no Brasil, tudo está muito indefinido. Com o fim do auxílio emergencial, a popularidade de Bolsonaro tende a cair, mas se houver manutenção desse auxílio, o presidente se beneficia”, explica a especialista da Toro.
De acordo com João Beck, especialista em investimentos e sócio da BRA, o impacto da eleição do democrata no cenário político mundial só ficará mais visível a partir dos resultados da economia norte-americana no novo mandato.
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“O fato do Biden ter ganho pode influenciar, mas com a condição de os Estados Unidos continuarem crescendo”, explica Beck. “O desempenho econômico dos EUA vai ser importante para definir se essa vitória vai ter influência tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina. É um fator mais importante que o ideológico”
Já para Rossano Oltramari, sócio e estrategista da 051 Capital, ainda é possível ver uma diminuição de popularidade dos partidos de esquerda no Brasil, e que fora Bolsonaro, os políticos de centro se beneficiam esse cenário.
“O principal partido de esquerda brasileiro [PT] está bem enfraquecido. Hoje a principal oposição à Bolsonaro é ele mesmo”, explica Oltramari. “Acredito que antes de voltarmos para a esquerda, iríamos para partidos de centro. Também não vejo nada de anormal nessa alternância de poder nos EUA, acho difícil relacionar esse resultado com o cenário que temos aqui”, diz.