O que este conteúdo fez por você?
- Os gestores e bancos de investimentos endossaram suas projeções sobre uma possível retomada de alta da Selic já em setembro
- O motivo para essa nova projeção se baseia na ausência de medidas do governo para reduzir os gastos públicos e cumprir as metas fiscais dos próximos anos
- Com esse novo cenário econômico, os investidores precisam entender quais são as oportunidades e riscos que surgem com uma Selic em patamares ainda mais altos
Enquanto o mercado dos Estados Unidos se prepara para o início da queda dos juros, as projeções para o ambiente doméstico seguem na direção contrária e traçam um novo cenário para os investimentos em 2024. As gestoras e bancos de investimentos já apostam em uma retomada da alta da Selic, que pode, segundo os analistas dessas intituições, encerrar o ano no patamar de 12%. A mudança nas perspectivas dos juros no Brasil vem sendo motivada pela deterioração das contas públicas com a ausência de ações mais efetivas do governo em cortar gastos para cumprir as metas fiscais.
Sem esse ajuste, resta ao Banco Central retomar o ciclo de aperto monetário para evitar uma alta da inflação. Caso essa medida se concretize, o novo desenho econômico deve alterar as perspectivas de investimentos ao longo do ano. A confirmação dessa projeção, endossada pelas gestoras Legacy Capital, ASA, XP Investimentos, BTG Pactual e WHG, deve acontecer na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que vai ocorrer em 18 de setembro. É a mesma data da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre os juros.
Ou seja, os investidores locais devem se deparar com o primeiro recuo de corte dos juros norte-americanos, após um ano com taxas no intervalo de 5,25% a 5,50%, e com uma alta da Selic que está no patamar dos 10,5%. ao ano Até o momento, não há consenso sobre o tamanho desse ajuste, mas a maioria dos gestores estima uma elevação de 0,25 pontos percentuais em setembro. Essa expectativa pode limitar a recuperação da bolsa de valores e fortalecer a atratividade dos títulos de renda fixa.
O que esperar da bolsa de valores?
Em tese, a possível retomada do ciclo de alta de juros pode penalizar os ativos de renda variável, especialmente as ações de companhias mais sensíveis aos ciclos econômicos, como o varejo. Isso acontece porque a elevação da Selic torna o acesso ao crédito, necessário para financiar os investimentos das companhias, mais caro no mercado brasileiro e reduz o apetite a risco dos investidores que preferem alocar seu capital em ativos de renda fixa por entregar rentabilidades mais altas e com menor risco.
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No entanto, apenas esse movimento não será suficiente para barrar uma recuperação da bolsa brasileira. Vinicius Romano, especialista em renda fixa da Suno Research, explica que há outros fatores que serão determinantes para direcionar os rumos dos ativos de renda variável. “A percepção do mercado sobre a duração desse (possível) ciclo de alta da Selic e a resposta das políticas fiscais e monetárias serão determinantes para entender o impacto da elevação dos juros”, afirma Romano.
Já o fluxo de capital estrangeiro em direção ao Brasil deve limitar esse impacto e garantir fôlego para a Bolsa brasileira. Segundo os dados mais recentes da B3, em agosto, os investidores estrangeiros investiram R$ 9,7 bilhões no mercado acionário. O fluxo ajudou o Ibovespa a encerrar o mês com uma alta de 6,56%, o melhor desempenho mensal do índice em 2024. O salto ajudou o IBOV a reverter as perdas vistas no primeiro semestre.
Em julho, quando a Bolsa também encerrou no campo positivo com uma valorização de 3%, o desempenho no ano do índice era de 5%. “Os gringos voltaram a injetar dinheiro por aqui. Isso indica que, nesse jogo de forças, a redução dos juros nos EUA tem pesado mais”, afirma Bruno Monsanto, economista e assessor de investimentos da RJ+ investimentos. Dado a esse contexto, as ações de alguns setores da Bolsa devem ser prioridades na visão dos investidores que desejam balancear a carteira e proteger o patrimônio de possíveis prejuízos.
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Mônica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart XP, acredita que as companhias ligadas ao setor de infraestrutura, como energia, conseguem entregar valor aos investidores mesmo em cenários desfavoráveis para a bolsa de valores. Isso porque essas empresas possuem contratos pré-definidos que costumam ser reajustados a cada ano.
“As empresas de telecomunicação também crescem bastante. É o setor que se beneficia com a inteligência artificial. Para você utilizá-la, as pessoas precisam ter internet. Não é um setor explosivo, mas consegue entregar a cada ano uma rentabilidade interessante”, ressalta Araújo.
Títulos IPCA+6% por mais tempo?
A possibilidade de novas altas da Selic torna o ambiente econômico ainda mais confortável para os ativos de renda fixa. Como a rentabilidade costuma estar atrelada aos juros, a tendência é que os investidores busquem esses ativos para aproveitar os retornos na casa de dois dígitos e com baixo risco.
Além disso, a ausência de medidas para garantir o equilíbrio das contas públicas, deve continuar sustentando o ganho real de 6% dos títulos públicos atrelados ao IPCA que surgiram no mercado em abril deste ano, quando o governo decidiu alterar as metas fiscais de 2024, 2025 e 2026.
“Se o ciclo de alta da Selic for retomado, os novos títulos emitidos com taxas mais elevadas podem se tornar ainda mais atraentes, reforçando o apelo da renda fixa no portfólio dos investidores”, reforça Romano. Os ganhos não devem despertar a atenção apenas do mercado local, ainda mais com o início da queda de juros dos Estados Unidos.
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Os investidores gringos também devem incluir os ativos de renda fixa no portfólio e não concentrar o capital apenas na bolsa brasileira. “O risco de mercado em ativos de renda variável pode levar parte desse capital (estrangeiro) a optar por investimentos de menor risco, como os títulos do governo”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Fundos imobiliários
A influência da taxa de juros nos fundos imobiliários é similar aos dos mercados de renda fixa e variável, mas possui suas particularidades. Os fundos de papel que possuem portfólios formados por Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) devem entregar aos investidores dividendos ainda mais atrativos aos cotistas por ter uma remuneração atrelada a taxa de juros. Por essa razão, Alessandro Vedrossi, sócio-diretor da Valora Investimentos, avalia que esse segmento de FII oferece uma oportunidade interessante aos investidores no curto prazo devido às perspectivas de aumento de rentabilidade.
“Com a Selic grande (a dois dígitos), por que o investidor não aproveita essa oportunidade. Eu acho que faz todo sentido estar posicionado em fundo indexado em CDI”, ressalta Vedrossi. No entanto, isso não significa que os fundos de tijolo, aqueles que investem em imóveis reais, devem ficar de lado pelos cotistas. Os impactos de uma elevação da Selic não serão de imediato e há segmentos econômicos que têm tido boas performances nos últimos meses, mesmo em um ambiente de juros a dois dígitos.
“Quando eu olho para os FIIs de shoppings, vejo uma perspectiva de crescimento de receita porque o varejo continua crescendo. A economia está quente na ponta. Então, os números operacionais de shoppings estão fortes”, acrescenta sócio-diretor da Valora. Os FIIs de lajes corporativas também entram nessa perspectiva. Segundo o especialista, a depender da localização dos ativos, há um aumento no valor dos aluguéis que tem sido acima da inflação.
“Nós conseguimos recuperar em torno de 20% e 25% dos preços dos aluguéis, uma taxa bem acima da inflação. Isso é muito interessante”, reforça. Já em relação aos FIIs de logística, Vedrossi ressalta que o segmento possui uma baixa taxa de vacância e tem mantido uma faixa de preço de aluguel elevada. O problema é que ele não enxerga uma upside na receita dos fundos.