- Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, os IPOs são boas oportunidades de entrada, mas é preciso bastante cuidado e estudo para avaliar as empresas
- Número de CPFs cadastrados na B3 aumentou, mas a quantidade de empresas para se investir não cresceu na mesma proporção
- Os 28 IPOs de 2020 na Bolsa movimentaram mais de R$ 117 bilhões
As ofertas públicas de ações (IPO) estão a todo vapor. Nos dois primeiros meses de 2021, já houve 14. Para efeito de comparação, em 2020 foram 28.
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Contudo, não é só na quantidade que os IPOs estão surpreendendo, mas também nas valorizações. O grande destaque foi a Mosaico (MOSI3), detentora das plataformas Buscapé, Zoom e Bondfaro, que durante sua estreia na B3 obteve um aumento de 96,96% em apenas um dia, 5 de fevereiro.
Outro destaque foi a Mobly (MBLY3), loja de móveis online que também obteve bons resultados durante a estreia na bolsa, com uma valorização de 25,72%.
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Mas, afinal, por que essas empresas foram tão bem logo na estreia? O E-Investidor conversou com especialistas para entender os motivos.
O X da questão
Em 2020, os IPOs movimentaram mais de R$ 117 bilhões e os grandes destaques foram Rede D’or, Grupo Mateus e Petz, que respectivamente capitalizaram R$ 11,39 bilhões, R$ 4,1 bilhões e R$ 3,03 bilhões.
Por conta da taxa básica de juros Selic, que atingiu o seu menor nível histórico, muitos investidores tiveram que correr mais riscos para obter retornos acima da inflação.
Outro ponto é que o número de investidores aumentou vertiginosamente. Em 2019, havia 1,6 milhões de CPFs na B3. Após um ano, o número foi para 3,17 milhões, um salto de 98,1%.
Mas a quantidade de empresas para se investir não cresceu na mesma proporção. “O que mais vemos é que os investidores estão carentes de ativos. O que você vê é que as empresas que entraram na bolsa agora, principalmente as de grande valorização, são companhias com marcas notórias, são famosas entre uma parcela de público e não têm concorrência”, diz Leandro Benincá, educador financeiro da Messem Investimentos.
Outro fenômeno que também pode explicar a alta das ações após o IPO é o Fear of Missing Out, o chamado Fomo. Traduzindo: Medo de Ficar de Fora. A expressão define o receio que os investidores têm de perder uma boa oportunidade.
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Para José Francisco Cataldo, head de research da Ágora Investimentos, o motivo da alta das ações pós IPO é outro. “Nosso principal índice é muito concentrado em bancos, siderurgia, mineração e petróleo, e muitos dos IPOs que têm saído são de empresas de tecnologia ou de outros segmentos não tão expressivos, o que também é positivo, tendo em vista que elas podem aumentar a participação relativa a esse setor dentro do índice”, diz.
Atualmente, o Ibovespa é composto por 81 empresas. Apenas uma é do setor de tecnologia, a Totvs, que estreou na B3 em março de 2006.
Além desses fatores, o mercado de renda variável também ficou mais acessível para os pequenos investidores. Segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, essa acessibilidade do mercado contribui para as altas. ”Muitas empresas que não fariam um IPO por acharem que é só para peixe grande agora pensam em fazer. Um exemplo é Petz. Se você falasse há uns 10 anos que teria pet shop listado na bolsa, ninguém iria acreditar”, diz.
Muitos investidores entram no IPOs na esperança de encontrar a próxima Magazine Luiza (MGLU3) e conseguir bons dividendos. Contudo, esquecem que o crescimento da companhia não começou no IPO, em 2011, mas sim em 2017.
De acordo com Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, o movimento pode ser explicado pela expectativa dos investidores. “Quando o primeiro IPO obteve um alto retorno nos primeiros dias, isso fez com que os investidores acreditassem que os próximos também repetiriam o feito”, diz.
Vale a pena investir em IPOs?
Essa é a pergunta de ouro e que divide muitas opiniões. De maneira geral, as empresas, antes de serem listadas, apresentam menos informações para os investidores basearem suas opiniões.
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Na visão de Cataldo, os IPOs são excelentes oportunidades de entrada. “Contudo, o investidor precisa saber onde vai aplicar o seu dinheiro e não seguir o movimento que chamamos de manada”, diz.
Por isso, os especialistas recomendam aos investidores cautela na hora de tomar as decisões. É preciso ler o material do prospecto preliminar, conferir os riscos e oportunidades da empresa e também do setor. Além disso, vale a pena conferir o que seu assessor de investimentos acha, caso tenha um.
Um ponto negativo sobre as IPOs é que as casas de análise têm que esperar um certo período para poder recomendar e analisar os papéis. “Geralmente, não tem como o cliente saber se a empresa é boa ou não. Acaba sendo muito mais pelo feeling”, diz Cruz.
Além do mais, o investidor que deseja entrar em IPOs precisa deixar de lado seus vieses pessoais sobre as empresas. Por exemplo, não é porque você gosta muito do lanche do Bob’s, que as ações da companhia são boas opções para investimento. O mesmo se aplica ao lado negativo.
De acordo com Benincá, os investidores precisam analisar as ofertas públicas com extrema cautela. ”As pessoas passam mais tempo decidindo o que assistir na Netflix do que para escolher uma ação”, brinca o educador financeiro. “O maior erro de todos é entrar no IPO só pela onda. Caso o prazo de reserva já esteja se encerrando, às vezes é melhor ficar de fora, esperar três meses e depois entrar. Se a empresa é boa, vai continuar crescendo e lucrando”, conclui.
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