O que este conteúdo fez por você?
- As ações do IRB (Re) dispararam na Bolsa como o ativo que mais sobe em 2023
- A alta de 105% na IRBR3 reflete um processo de turnaround na companhia, que está tentando voltar à lucratividade depois de dois anos turbulentos
- Mas analistas mantêm cautela com o cenário e as recomendações para o papel
De “patinho feio” em 2022 ao posto de ativo do Ibovespa que mais sobe em 2023, as ações do IRB (Re) mais do que dobraram de valor em 2023. Até o fechamento desta quarta-feira (12), a IRBR3 era cotada a R$ 53,13, com uma valorização acumulada de 105,93%.
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O desempenho das ações do IRB na Bolsa já vinha positivo há alguns meses, mas se acentuou nas últimas duas semanas. O papel foi a quarta maior alta do Ibovespa no semestre, mas até o pregão do dia 31 de junho acumulava uma valorização de “apenas” 68%. De lá para cá, disparou na frente e sobe 22,0% somente nesses primeiros dias de julho.
O desempenho de 2023 é especialmente positivo porque, segundo especialistas, parece ser o início de um “turnaround” na companhia. O termo é utilizado no mercado para se referir à reformulação pela qual empresas em crise precisam passar para se recuperar – que é o caso do IRB.
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O ressegurador viu suas ações caírem para R$ 0,87 no ano passado, após o mercado reagir e precificar as notícias de fraudes contábeis que foram descobertas na companhia em 2020. Na época, os balanços de 2018 e 2019 do IRB tiveram que ser republicados, com uma diferença conjunta de R$ 670,6 milhões nos lucros. Depois disso, a lucratividade da empresa nunca mais voltou ao mesmo patamar.
A IRBR3 inclusive começou 2023 fora da carteira teórica do índice Ibovespa, porque tinha virado uma “penny stock”, como são chamados os papéis com valor abaixo de R$ 1. Em janeiro, a companhia fez um grupamento de ações de 30 para 1, assim voltou ao patamar de R$ 30 e foi reinserida no Ibov no início de maio.
Mudanças internas
Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, explica que a valorização acima de 100% em IRBR3 reflete a reformulação pela qual a companhia está passando. “As margens estão melhorando, a companhia finalmente começou a apresentar algum lucro e talvez não tenha necessidade de fazer um novo follow on (oferta subsequente de ações), há um novo colegiado. Tudo leva a crer que talvez seja a hora do IRB melhorar em números”, afirma. “O que não necessariamente justifica uma alta de 100%, que fique bem claro.”
No último dia 3 de julho, o Conselho de Administração do IRB aprovou por unanimidade a nova diretoria da companhia. Em comunicado, o IRB informou que Marcos Falcão foi reeleito para o cargo de diretor-presidente, vice-presidente financeiro e diretor de Relações com Investidores; Hugo Daniel Castillo, para o cargo de diretor vice-presidente de Subscrição; e Thaís Ricarte Peters, para a diretoria de Controles Internos, Riscos e Conformidade.
A composição da nova diretoria também gerou euforia no mercado. Na avaliação do BTG Pactual, com Daniel Castillo e o CEO Marcos Falcão, “o IRB está em boas mãos”. “Foi feito um progresso significativo de recuperação do IRB, que também se beneficiou de condições favoráveis de mercado, incluindo aumento de preços e taxas. Castillo pretende ver IRB em uma posição forte dentro de 2 a 3 anos”, destacam os analistas do banco Eduardo Rosman, Thiago Paura e Ricardo Buchpiguel em relatório.
Resultados melhores pela frente?
O IRB apresentou um lucro líquido de R$ 8,6 milhões no primeiro trimestre de 2023. Apesar de ser um número “pequeno”, trata-se de um avanço em comparação aos balanços trimestrais reportados em 2022, caracterizados por prejuízos e queimas de caixa. No primeiro trimestre de 2023, a companhia teve seu primeiro resultado de subscrição positivo depois de 7 semestres com o indicador negativo.
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Segundo o ressegurador, o lucro obtido entre janeiro e março de 2023 poderia ter sido de R$ 34 milhões se não fosse o impacto de US$ 5 milhões do acordo com o United States Department of Justice (DOJ). O IRB foi condenado a pagar esse valor a título de compensação por divulgar a informação falsa de que a Berkshire Hathaway integraria a base acionária da companhia.
Em abril, o IRB reportou ainda um lucro líquido de R$ 6,1 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 92,7 milhões apurado no mesmo mês de 2022. Isso significa que a companhia está conseguindo acumular um lucro nos primeiros meses de 2023, revertendo os prejuízos vistos no mesmo período do ano passado. “Essa melhora dos resultados foi ocasionada pela melhora do índice de sinistralidade, o que levanta a possibilidade de o pior ter ficado para trás”, diz Milton Rabelo, analista da VG Research.
Apoiado nos indicativos mais positivos na empresa, o mercado passou a precificar uma melhora nos resultados futuros do ressegurador. Por isso as ações subiram tanto. Mas isso vai mesmo acontecer? Parece cedo para cravar.
“As ações podem subir mais caso os futuros resultados concretizem as expectativas de que o pior ficou para trás em termos de sinistralidade e lucro líquido”, explica Rabelo, da VG. “Mas, na nossa compreensão, apesar das melhorias operacionais recentes, o ressegurador ainda está inserida em um cenário de baixa visibilidade futura de resultados, sobretudo em função de efeitos climáticos que podem impactar negativamente seu índice de sinistralidade.”
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Na visão do Santander, o El Niño pode atrapalhar a recuperação do IRB. O fenômeno climático, que costuma acontecer a cada seis anos, é caracterizado por um aquecimento atípico das águas do oceano pacífico, podendo ocasionar chuvas intensas ou secas severas em diferentes regiões.
Em relatório, os analistas Henrique Navarro, Arnon Shirazi e Anahy Rios, destacam que o IRB lutou com “reivindicações anormalmente altas” durante eventos climáticos passados. “Embora reconheçamos que o IRB reavaliou a maior parte de seus prêmios recentemente, provavelmente incorporando riscos de novos eventos climáticos, bem como sua exposição, ainda vemos riscos para os resultados da empresa”, dizem, no documento do Santander.
Cautela na hora de investir em IRBR3
O bom momento vivido pelas ações do IRB na Bolsa não significa que todo o mercado está apostando na continuidade das altas. Entre as fontes consultadas pelo E-Investidor, nenhuma tem recomendação de compra para IRBR3.
Em relatório publicado no final de junho, a equipe de Research do BTG Pactual destacou que via um ponto de virada para o ressegurador se aproximando. Na ocasião, a ação do IRB acumulava uma alta perto de 60% no ano. “Considerando que é razoável assumir que o IRB pode atingir um ROE (retorno sobre patrimônio) igual ou superior ao seu custo de capital, a ação ainda aparece subvalorizada”, dizia o documento.
Ainda assim, a recomendação do banco para a IRBR3 é neutra, com preço-alvo de R$ 40.
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O Santander também mantém sua recomendação neutra para o papel, mas revisou o preço-alvo de IRBR3 de R$ 24 para R$ 43. O aumento significativo foi para incorporar “uma taxa de sinistralidade melhor” e “premissas de crescimento de prêmios mais conservadores” ao modelo de análise do time do banco.
Na Genial Investimentos, a visão é um pouco mais negativa. A casa tem recomendação de venda para IRBR3, com preço-alvo de R$ 28,20. “Acreditamos que o lucro pode começar a melhorar gradativamente ao longo do ano com as iniciativas de melhoria operacional da empresa”, diz o analista Wagner Biondo. “Mas continuamos com nossa posição de vender já que o IRB continua com prejuízo operacional e um resultado financeiro relativamente volátil com grande exposição ao dólar, além de ter apresentado forte queima de caixa no primeiro trimestre de 2023.”