- O IRB teve um lucro líquido de R$ 114,2 milhões no acumulado de 2023
- O CEO da companhia disse que a empresa voltará a pagar dividendos a partir de 2025
- Mercado ainda não está confiante com a empresa
Os dias de tormenta parecem ter ficado para trás. O IRB (IRBR3) comemora um período de bons resultados e pode voltar a pagar dividendos em 2025. A afirmação foi feita pelo CEO da companhia, Marcos Falcão, em teleconferência com analistas do mercado financeiro nesta segunda-feira (1). A resseguradora reportou lucro líquido de R$ 114,2 milhões no acumulado de 2023, uma reversão do prejuízo de R$ 630,3 milhões apurado em 2022.
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A empresa apresentou o primeiro lucro desde 2020, quando se envolveu em uma série de escândalos, como fraude no balanço e mentiras de que Warren Buffett era investidor da companhia.
Para Falcão, o IRB ainda precisa de mais um tempo com lucro para suprir os prejuízos do passado. Depois disso, a empresa tende a pagar dividendos aos seus acionistas. “Temos prejuízos acumulados, mas se tudo correr bem, este ano deveremos encerrar o prejuízo acumulado todo, ou parte dele, e em 2025 esperamos pagar dividendo”, afirma o presidente da companhia.
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Segundo os analistas ouvidos pelo E-Investidor, a empresa parece estar dando sinais positivos de seu processo de reestruturação, que foi anunciado após os escândalos de 2020. No entanto, vale lembrar que o processo foi bastante demorado e repleto de incertezas.
A empresa trocou de presidente por cinco vezes em cerca de dois anos e segundo Acilio Marinello, professor na Trevisan Escola de Negócios e Partner da Essentia Consulting, a atual gestão finalmente está acertando na reestruturação.
“A empresa teve uma ótima melhora na redução de sua sinistralidade e um aumento nas provisões, o que mostra que a empresa está preparada para cobrir os sinistros. Esse era um problema regulatório que o IRB enfrentava no passado e que ficou para trás”, afirma Marinello.
O IRB se viu obrigado a fazer uma oferta de ações no segundo semestre de 2022 para reforçar seu caixa e evitar um desenquadramento regulatório pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).
A empresa não atingiu a exigência mínima requerida de R$ 614 milhões de patrimônio líquido ajustado. Na época, a resseguradora tinha apenas 64% do capital requerido, segundo balanço do segundo trimestre de 2022. No entanto, a Susep exigia esse montante devido ao índice de sinistralidade da companhia, que estava em 124,2%.
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Como ponto positivo, Marinello lembra que a sinistralidade da companhia recuou para 55,3% no quarto trimestre de 2023, o que também ajudou o IRB no quesito regulatório. O patrimônio líquido ajustado exigido ficou em R$ 533,9 milhões em 2023 devido a essa queda da sinistralidade. Já no quarto trimestre de 2023, a resseguradora tinha 146% desse valor em patrimônio líquido ajustado.
“Essa melhora aconteceu graças a boa gestão da empresa, que preferiu focar em ativos mais rentáveis após a reestruturação, o que indica que o IRB caminha para ter melhores resultados ao longo dos próximos anos”, comenta Marinello.
Já Milton Rabelo, analista da VG Research, diz acreditar que 2023 marca o ano em que o processo de restruturação do IRB começa a dar efeitos com evolução visível nos índices de sinistralidade e nos resultados de subscrição.
“Acreditamos que o lucro do ressegurador deva continuar apresentando uma evolução ao longo do ano. Vemos uma continuidade da limpeza do balanço e de uma melhora gradual e progressiva dos resultados ao longo de 2024”, diz o analista.
Números do IRB são bons e não ótimos
Ainda que o IRB tenha mostrado que está no caminho certo, o mercado ainda não está convencido de que o processo de reestruturação está finalizado. Rabelo lembra que a resseguradora, no consolidado anual de 2023, ainda queima caixa e o resultado financeiro caiu mais do que o esperado.
“É interessante destacar que o IRB, em 2023, ainda apresentou uma queima de caixa superior a R$ 500 milhões e, embora haja uma evolução em comparação a 2022, é importante que a companhia volte a gerar caixa de maneira mais consistente”, lembra o analista.
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Justamente por este motivo, ele esclarece que a restruturação ainda não acabou e que a empresa não está 100%. Por causa desses fatores, ele lembra que o investimento em IRB tem um risco mais elevado quando comparado com as seguradoras primárias listadas em bolsa.
“O investidor que se expor ao papel tem que ter a compreensão de que o investimento tem os seus riscos. Porém, caso a restruturação siga dando resultados, a tendência é de valorização do papel”, explica Rabelo. A VG tem recomendação neutra para o IRB com preço-alvo de R$ 40, uma potencial alta de 4,54% na comparação com o fechamento de segunda-feira (1), quando o papel encerrou o pregão a R$ 38,26.
Os analistas do BB Investimentos também confirmam que a boa execução do plano estratégico estabelecido foi determinante para o representativo resultado positivo da companhia em 2023 após uma sequência de anos reportando prejuízo. “Todavia, ainda vemos alguns desafios, como a geração de caixa operacional, mas entendemos que a partir da situação atual o caminho é menos sinuoso para retomada do crescimento”, diz William Bertan, que assina o relatório do BB Investimentos.
O BB-BI tem recomendação neutra para as ações do IRB com preço-alvo de 48,10, possível alta de 25,7% na comparação com o fechamento de segunda-feira (1).
O Santander também reconhece a recuperação contínua do IRB, elogia a estratégia de redução de sinistros e reconhece como positivo a melhoria gradual dos lucros da empresa. “Mesmo assim, preferimos ficar afastados do papel enquanto a empresa percorre esse caminho de recuperação”, afirmam Henrique Navarro, Arnon Shirazi e Anahy Rios, que assinam o relatório do Santander.
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O banco é a terceira casa a manter sua recomendação neutra. O preço-alvo para a ação é de R$ 46 para o fim de 2024, uma potencial alta de 20,2% na comparação com o fechamento de segunda-feira (1). Ou seja, mesmo que a empresa apresente sinais de que o processo de reestruturação caminha bem, ele ainda não chegou ao fim, o que pode apresentar alguns riscos para o investidor, fazendo com que os analistas não recomendem compra para o papel.