Procurados, o IRB preferiu não comentar. A Eletrobras ainda não retornou o contato do E-Investidor. Os demais citados estão sendo acionados a reportagem será atualizada assim que se manifestarem.
No dia 2 de agosto, a peça acusatória do caso foi enviada pela área técnica da CVM para a Gerência de Controle de Processos Sancionadores (GCP), que iniciou a citação dos acusados. As informações foram publicadas pelo jornal O Globo e confirmadas pelo E-Investidor.
No total, são 11 citados – entre eles, está Ivan Monteiro, ex-CEO da Petrobras (PETR3; PETR4) e atual diretor-presidente da Eletrobras (ELET3; ELET6), que foi presidente do Conselho de Administração do IRB até 2020. Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal no governo de Jair Bolsonaro e ex-conselheiro do ressegurador, também aparece entre os nomes elencados. O advogado de Pedro Guimarães foi acionado pela reportagem, mas ainda não respondeu os questionamentos.
Os demais réus do caso de fraude no IRB Brasil Resseguros (IRBR3) são: Fernando Passos, ex-CFO da empresa; José Carlos Cardoso, ex-presidente; Lucia Maria da Silva Valle, vice-presidente executiva de riscos; Werner Suffert, vice-presidente Executivo Financeiro e de Relações com Investidores; e os ex-conselheiros Alexsadro Broedel Lopes, Marcos Bastos Rocha, Maria Elena Bidino, Roberto Dagnoni e Vinicius Albernaz.
Relembre o caso
Até 2020, o IRB era considerado o maior ressegurador do País. As ações IRBR3 figuravam entre as recomendações “queridinhas” entre investidores, já que a companhia tinha um histórico de solidez financeira. O cenário começou a mudar em 2 de fevereiro de 2020, quando a gestora Squadra Investimentos publicou um relatório em que questionava as práticas contábeis da empresa. A casa identificou que o lucro do IRB, apurado em 2019, estava inflacionado em pelo menos R$ 1,5 bilhão por ‘ganhos extraordinários’, que não se repetiriam.
Inicialmente, a visão da Squadra dividiu o mercado, mas logo depois as irregularidades contábeis vieram à tona. A situação se deteriorou ainda mais no final de fevereiro daquele ano, quando a administração do IRB fez circular internamente um documento que apontava um suposto aumento de posição feito pelo megainvestidor Warren Buffett no ressegurador. A informação foi desmentida pouco depois pela Berkshire Hathaway, veículo de investimento de Buffett, que reforçou não ser acionista da empresa.
Em março, iniciou-se uma debandada de executivos. O então CEO, José Carlos Cardoso, e o CFO, Fernando Passos, cujos nomes estão entre os acusados no atual processo da CVM, logo pularam do barco. No final, o IRB, após investigações internas, identificou pagamentos de bônus indevidos de R$ 60 milhões à diretoria e chegou a estudar mover ações de responsabilidade contra os ex-gestores. Os balanços de 2018 e 2019 precisaram ser republicados, com uma diferença de mais de R$ 600 milhões.
Desde então, o ressegurador IRB entrou em um processo de reestruturação. Com uma nova governança, a empresa tenta reencontrar o caminho da lucratividade após a crise. O último resultado, do 2º trimestre de 2024, veio acima do esperado e animou os investidores e analistas, que agora enxergam de forma mais clara os efeitos do turnaround. Ainda assim, os papéis amargam quedas de 80% no acumulado dos últimos quatro anos, em decorrência das descobertas de irregularidades contábeis.